– I believe in the devil!
(– Eu acredito no demônio!)
A exclusão dessa frase impactante foi uma das condições para que a atriz Ellen Burstyn aceitasse fazer o papel de Chris MacNeil no primeiro filme da franquia “O Exorcista”. A regra foi clara: ou essa frase saía do roteiro original, ou ela não aceitaria o papel da atriz que precisa dar uma pausa em sua carreira para reencontrar sua sanidade enquanto busca salvar sua filha Regan, absurdamente bem interpretada pela garota Linda Blair, de algo incomum e absurdamente assustador. Algo que desperta dúvida e coloca em cheque todas as suas descrenças e, porque não?!, as dos espectadores.
Passados mais de quarenta anos da estreia do primeiro filme, “O Exorcista” é considerado um clássico do gênero terror. Ele ainda assusta, tira o sono e desperta o interesse.
O que você se lembra dele?
Regan? Querida?
Chris MacNeil é uma atriz que está em filmagens em Georgetown. Mãe solteira, se dedica em sua carreira, enfrentando suas dificuldades e buscando cumprir com seu papel de mãe. Tudo parece continuar bem, mas o surpreendente está a apenas um passo de cada um.
Regan, a delicada e inteligente filha de Chris, começa a agir de maneira estranha: diversas vezes acorda assustada, grita pela mãe e diz estar ouvindo sons estranhos em seu quarto. Chris questiona e não acredita na filha: estaria Regan querendo chamar à sua atenção? Seria essa a sua forma de demonstrar que sente a ausência de uma figura paterna? Será que como mãe ela está deixando a desejar, mantendo-se muito tempo afastada de casa e da filha?
A resposta… pode demorar a ser aceita.
Após sofrer uma convulsão, Regan começa aos poucos a perder sua identidade. Sua doçura é substituída por agressividade, suas palavras carinhosas por palavrões e blasfêmias, sua infância por força extrema e violência.
Chris procura ajuda: seu palpite é de que a mudança na voz e forma de agir de Regan são consequências de sua puberdade. O mais óbvio é procurar por ajuda médica. E é o que ela faz.
A garota é submetida a diversos exames clínicos e específicos, enquanto os médicos buscam encontrar o que há de errado com ela. A resposta é simples: biologicamente nada, ela é extremamente saudável.
Mas o quadro apenas piora: agora Regan apresenta habilidades sobrenaturais, é capaz de levitar, de projetar seu corpo escada abaixo de ponta cabeça, ela é ainda mais capaz de ferir a quem a ama.
Ainda mais desesperada e desestruturada, Chris resolve atender a uma sugestão de um dos médicos de Regan: é hora de procurar ajuda religiosa, estaria sua filha possuída pelo demônio?
Na dúvida, Chris pede ajuda ao padre Karras, interpretado por Jason Miller, que além de religioso é psiquiatra. Apesar de acreditar que Regan sofre de psicose, Karras pede permissão à Igreja para dar início ao exorcismo. Para apoiá-lo, a Igreja envia o padre Merrin (Max von Sydow) e a partir daí todos terão de enfrentar seus medos e aprender a lidar com a sua fé ou com a falta dela.
Medo e prêmios merecidos
“O Exorcista” ainda é um filme que é censurado por muitas pessoas e instituições. Os motivos são os mais diversos e é inegável a violência presente no filme, bem como o mítico decorrente aos desastres e mortes que se sucederam ao processo de filmagem, produção e lançamento.
Você já deve ter ouvido sobre isso: as tais maldições de O Exorcista. Um incêndio destruiu metade do set de filmagens, Ellen Burstyn fraturou o coccix em uma das cenas, oito pessoas responsáveis pela produção morreram de forma misteriosa e outras coisas assustadoras aconteceram aos envolvidos ao projeto.
Apesar disso tudo, seguido do medo que todos sentiram diante das câmeras e diante das telas, O Exorcista é o único filme de terror indicado para o Oscar de Melhor Filme, além das indicações de Melhor Diretor (para William Friedkin), Melhor Atriz (para Ellen Burstyn), Melhor Ator Coadjuvante (para Jason Miller), Melhor Atriz Coadjuvante (para Linda Blair), Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Edição. Quer mais? Levou ainda duas estatuetas da noite de celebração de 1974: Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Som.
Ele recebeu, também, sete indicações ao Globo de Ouro do mesmo ano, levando quatro deles.
Tão estranho quanto, é a recente declaração do diretor William Friedkin que revelou ao THR que seu objetivo nunca foi fazer um filme de terror com “O Exorcista”: “I thought it was a film about the mystery of faith (…) But by now, I have accepted that it is [a horror film].” (“Eu pensei que era um filme sobre o mistério da fé (…) Mas hoje, eu aceito que fiz isso (um filme de terror)”.
Sabe Friedkin, eu concordo com você, afinal…
Sabia que tem livro?
Está nos créditos do filme: Roteiro de William Peter Blatty. E tem mais: você sabia que o filme “O Exorcista” é baseado em um livro de mesmo nome? Sabia que ele também foi escrito por William P. Blatty?
Lançado pela primeira vez em 1971 pela editora estadounidense Harper & Row, o livro de 320 páginas chegou para explodir cabeças após gerar muitas noites em claro dos leitores. No Brasil, a primeira edição data de 1972 pela Editora Novo Conceito.
O livro é mais intenso, mais denso e, acredite quem quiser!, mais assustador que o filme. Nele fica claro a dificuldade de cada um dos personagens em aceitar que o caso de Regan pode tratar-se de um caso de possessão demoníaca e, principalmente, em como a falta de fé no sentido religioso e pessoal interfere diretamente em suas próprias vidas.
Apesar de antigo, é muito fácil encontrar o livro, seja em livrarias ou em sebos. Se você prefere livros novos, pode aproveitar a edição de 2015 lançada pela Novo Conceito. Se prefere mais antigos, pode contar com as versões diversas que já foram lançadas por esta e outras editoras.
Curioso, ainda, o fato de muitos defenderem que “O Exorcista” é baseado em um caso de exorcismo real que aconteceu em meados da década de 1940, ou em muitos casos, todos reunidos. Enquanto os pesquisadores buscam pela verdade, nos resta saber: do you believe in the devil? Você acredita no demônio?
PS: Indispensável para o dia escolher um bom filme, seriado, músicas e livros para aproveitar ainda mais o Halloween. Doces ou travessuras? O importante é celebrar e comemorar! Divirtam-se! #Halloween #Boo
PPS: Existe ainda mais uma polêmica sobre a obra de William P. Blatty. Afinal, o livro “Espíritos do Mal” é ou não é uma continuação de “O Exorcista”? Foi adaptado ou não foi? Assim que eu chegar a uma conclusão, volto com a temática e conto a vocês. E vocês? O que acham disso tudo?