[Coluna] De repente descobri: Khaled Hosseini

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Descobri o autor da coluna de hoje quase que por acaso, e não poderia ter tido surpresa maior. Como dizem por ai, não julgue um autor pela capa do seu livro. Hosseini é responsável por ter escrito um dos livros que mais me marcou até hoje, O Caçador de Pipas, e sei que parece exagero já ir dizendo algo assim, mas eu tenho a minha justificativa.

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Capa de O Caçador de Pipas

Eu facilmente gosto da maioria dos livros que eu leio, raramente leio algo às cegas sem saber nada previamente da história ou do autor, então a maioria dos livros que eu leio geralmente são bons, divertidos e de vez em quando calha de eu ler algo que não me cative muito. Só que mais difícil ainda é achar um livro que nos desperte emoções, que toque nosso coração de verdade. Comigo foi assim quando eu li esse livro, ele me trouxe várias questões nas quais eu raramente pensava, desfez estereótipos, e ideias pré-concebidas que eu tinha sobre a cultura e o povo afegão. Mostrar ao mundo uma cultura tão diferente da nossa, e tantas vezes mal interpretada pelos olhos de um próprio afegão é o que eu considero que tenha sido o principal motivo do autor ao escrever esse livro.

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Capa de A Cidade do Sol

Khaled Hosseini, nasceu em Cabul, Afeganistão em 4 de março de 1965. Filho de um diplomata e de uma professora de História, teve uma infância privilegiada viajando pelo mundo por causa da profissão do pai. Contudo no começo da década de oitenta após a invasão Soviética ao Afeganistão, sua família se viu forçada a pedir asilo político nos Estados Unidos, onde recomeçaram sua vida e vivem até hoje. Hosseini tornou-se médico, e um escritor bestseller nas horas vagas, tendo escrito até hoje três livros, O caçador de pipas, A cidade do sol, e O silêncio das montanhas, todos publicados no Brasil onde juntos já venderam mais de dois milhões de cópias.

Em 2003, Khaled retornou ao Afeganistão após mais de vinte anos longe e diz ter se sentido um estrangeiro em seu próprio país, uma vez que a Cabul que ele via não era mais da maneira como ele sem lembrava. Situações como essa foram usadas pelo autor ao escrever o seu romance de estreia, O caçador de pipas, em que ele empresta ao seu personagem principal diversos aspectos da sua vida, lhe conferindo uma veracidade que ultrapassa as páginas de seu livro. O romance, foi um recorde de vendas passando 101 semanas na lista dos mais vendidos, e posteriormente tendo os direitos adquiridos para o cinema. Aliás esse foi o livro responsável por alavancar essa temática, e inundar as prateleiras das livrarias com histórias cujo o pano de fundo se passam no Oriente Médio, mais precisamente no Afeganistão.

O livro conta a história de Amir e Hassan, dois amigos que cresceram juntos como irmãos, mas que cuja relação não é igual entre as partes por questões culturais, sociais e até mesmo étnicas. Hassan é o filho do empregado, um Hazara e faria qualquer coisa por Amir pois sente uma grande admiração por ele. Já Amir é o filho do patrão, um Pashtun e seu sentimento de amizade por Hassan é genuíno, mas é também repleto de ciúme e insegurança em relação ao carinho que seu pai sente pelo amigo.

Contudo, ainda que separados por estes conflitos os dois possuem muitas coisas em comum, são apaixonados por filmes de faroeste americano, por histórias e também por pipas, e é durante um dos campeonatos de pipas em Cabul, que a amizade entre os dois é definitivamente posta a prova, dando a Amir a oportunidade de fazer algo por Hassan, escolha essa que ele não faz, principalmente por medo. Entretanto, a lembrança daquele dia passa a persegui-lo pelos próximos vinte anos da sua vida, quando lhe é oferecida a chance de ser corajoso novamente.

Eu sei que a minha sinopse é péssima e não retrata um terço do quanto o livro é bom. A escrita concisa de Hosseini, a forma como ele desenvolve a história é uma coisa que te prende do começo ao fim, se a princípio pensamos que é uma narrativa apenas sobre a relação entre dois amigos, ao final descobrimos que é muito mais do que isso. Que é também sobre aceitação, é sobre perdão, principalmente no diz a si próprio.É sobre ter coragem para enfrentar aquilo que mais nos dá medo, e sobre o poder que o amor tem em nossas vidas.

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Khaled Hossein

Hosseini diz que escreve os seus livros porque como afegão ele acredita que é preciso mostrar ao mundo que o seu país de nascença não se reduz apenas aquilo que passa na televisão. Em A Cidade do Sol, seu segundo livro publicado, o autor procura dar voz as mulheres e mostrar como o radicalismo e o reacionarismo, acabaram por oprimir mulheres liberais, muitas delas advogadas, professoras, médicas a tornarem-se donas de casa. O conflito entre a Cabul liberal, reformista e as forças mais reacionárias do Afeganistão rural ficam evidentes em seus livros e trás a tona aquilo que a maioria de nós prefere ignorar por ser algo que não está ligado diretamente a nossa realidade.

Vale a pena conhecer os seus livros pois tratam de histórias realmente genuínas e verdadeiras,e não apenas melodramáticas com eu li por ai, pois como o próprio Khaled já mencionou uma vez,a realidade sempre será mais dramática do que a imaginação de alguém poderia suportar.Khaled também foi nomeado Representante Voluntário do Alto Comissariado de Refugiados das Nações Unidas (UNHCR), a Agência de Refugiados da ONU, em 2006. E inspirado por uma viagem que fez ao Afeganistão com o órgão, criou a Fundação Khaled Hosseini (www.khaledhosseinifoundation.org/), uma instituição sem fins lucrativos que oferece assistência humanitária aos afegãos.