[Coluna] Dentro do Bosque

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Dizem que suicidas podem sensualizar a morte, torná-la atraente (até demais) para finalmente abraçá-la. Besteira. Todos os que conheci, temiam-na mais do que todo o resto. A questão é que por mais que você tema a realidade que se coloca à sua frente, esta que você está pode ser pior. Mais nociva. Debilitadora. E, assim, a morte torna-se uma saída, não uma comodidade. A experimentação de uma sensação de morte, de libertar-se das vozes que acompanhavam-no até então, nesta vida que você só passou a lamentar. Você olha para os lados e se encontra sozinho. Não o sentido literal, mas o figurado.

A sala ao seu redor pode estar cheia de conhecidos, velhos camaradas, alguns amigos que têm suas vidas próprias, mas também estão lá as vozes nada compassivas, egoístas, asquerosas, mesquinhas e que lhe fazem sofrer com sua ausência social.

Os dias a sós com as vozes são os piores, pois são apenas elas que falam contigo.

Não existem outras oportunidades.

O mundo se configura somente para a absorção dos pensamentos que lhe acompanham onde quer que vá.

– O que você pensa em fazer no natal?

“Colocar uma corda no pescoço”, você pensa.

– Ah, eu vou viajar e ficar um pouco com a família. Afinal, faz tempo. – você diz.

Alguns podem também encontrar uma filosofia louvável em tirar a própria vida, um ato de amor a si próprio, mas não é verdade. É se entregar à droga que lhe afeta diariamente. Uma overdose mortal da solidão. Não é um ato de coragem. É um ato apavorado. Medo do que? De tudo. Do que deixaria de fazer, o que pode acontecer, quem pode acontecer.

E, aí, a esperança de melhorar acentua a frustração. Os tratamentos continuarão, as tonturas, as perdas de consciência, as vozes, algumas em menor escala, mas, ainda que baixinhas, estarão lá.

Não há como se livrar.

Através de livros, músicas e filmes, você procura viver um dia de cada vez. Passo por passo. Sopro por sopro.