[Coluna] Conflito de Gerações – Confissões de Adolescente

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Fala galera,

Tá tudo um pouco confuso, mas essa semana é o “Era uma vez… rapidinho” veio para falar de histórias curtas para vocês.

Essa semana eu trouxe algo muito pessoal:  esse fim de semana foi o Dia dos Pais e passei as últimas duas semanas sozinho, sem as meninas, em casa. Foram semanas de muito tédio, má alimentação e filmes.  Entre os filmes que vi, tive uma surpresa ao assistir algo que, eu esperava, seria uma comédia leve e descompromissada: “Confissões de Adolescente” (2013).  Já explico a importância desse filme / livro / peça / história para mim.

Lá vem história…

Quando eu era adolescente, vi uma das primeiras montagens da peça no Rio de Janeiro (92 ou 93, acho).  Tendo entrado em cartaz no Teatro Casa Grande, vindo de um espaço bem menor (porão da casa de cultura Laura Alvim).  A atriz Patricia Perrone havia se afastado e era a única ausente do elenco original.  Pelo menos é do que me lembro.  Achei que a Ingrid Guimarães tinha entrado no lugar dela, mas não, ela era membro original também.  Não lembro quem era a quarta integrante, mas o texto me causou um grande impacto naquela época.

Assim que soube que tinha livro fui atrás e comprei.  Curtinho, composto por diversos textos muito rápidos, era o souvenir perfeito e me levava imediatamente para dentro do teatro toda vez que o abria.  Ainda tenho a 2ª edição, de 92, da Relume Dumará.  Nessa época tudo aquilo conversava diretamente comigo e me levou a reflexões e discussões importantes para mim.

Algo que achei interessante na época é que não havia a presença de um adulto no palco.  Tudo era do ponto de vista do adolescente, incluindo o texto. As poucas intervenções adultas da peça eram feitas na forma de áudio, imagino que gravado.  A edição recente do texto da peça, publicada pela editora Agir, pode ser encontrada ao final do post e, realmente, não sei quão fiel é ao texto original.

Pouco depois (94) estreou a série na TV Cultura.  Com uma produção bem cuidada e bom elenco, apesar de manter apenas a Maria Mariana – autora –  do original não me chamou a atenção.

Não me entendam mal: era uma boa série, divertida e tal, mas já não conversava tão diretamente comigo.  A essa altura eu já acabava o curso técnico e me preocupava com estágio, emprego e carreira.  Virou uma boa comédia! Digna de nota a inserção de uma figura adulta no elenco principal: Luiz Gustavo é um ator que sempre admirei e foi, em grande parte, responsável pela pouca atenção que dei ao programa.

Mas tem o filme!!!

Foi nesse espírito que peguei o filme recente para assistir.  Primeira grande surpresa foi perceber que o sobrinho do Luiz Gustavo agora era o pai (Cássio Gabus Mendes, outro ator que admiro).  A segunda foi ver um rosto familiar entre as meninas.  Uma das atrizes é a Sophia Abrahão, também autora que anunciou sua segunda obra com a autora Carolina Munhóz semana passada e um livro de colorir baseado nesse universo das duas hoje (dia em que escrevo essa coluna para enviar à revisão).  Sem grandes expectativas comecei a assistir o filme observando o bom trabalho de atualização incluindo itens como smartphones e redes sociais na trama.

Ao longo do pouco tempo de filme, fui me vendo envolvido e impressionado com algo muito simples, e que deveria ser óbvio: mais de 20 anos se passaram!  Eu me identifico hoje com o papel do pai, que está me alcançando rapidamente e que tem aquele adolescente tão ajudado pelo texto como uma lembrança na estante.

Hoje já estive do lado dela nos primeiros contatos com a morte, ainda que ela não entenda completamente o que isso significa.  Dentro de poucos anos minha filha vai estar vivendo os dilemas do primeiro beijo, primeiro poeta, primeiro amor… e das bolhas de sabão.

Espero estar a altura do desafio, rever essa história me mostrou que esses dias estão logo ali, dobrando a esquina.

E para todos aqueles que estiverem preparando a piada do que vai ser quando ela aparecer em casa com um namorado eu só posso dizer que isso não é nada.  Meu maior medo é o primeiro dia que eu chegar e encontrar ela com um pote de sorvete, chorando no sofá olhando um filme triste qualquer. Acho que nunca vou estar pronto para ver minha filha com o coração partido, e espero nunca estar.

Isso era o que eu tinha para hoje, nem tão rapidinho assim.

Abraços atrasados a todos os Pais Cabulosos por aí e até a semana que vem (possivelmente ainda sobre esse tema).

Rodrigo Fernandes

 

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