[Coluna] Por que esperam o pior de nós, autores nacionais?

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O título desse post pode soar pessimista, e em parte, ele é. E muitos vão falar por aí que é apenas mais um “mimimi”, então, que falem. Aqui não haverá espaço para hipocrisia da minha parte e serei o mais respeitosa possível, pois afinal, estou escrevendo para mostrar algo que incomoda muita gente, nós, autores nacionais, dos desconhecidos aos populares.

Sempre li e ouvi que publicar um livro hoje é tarefa fácil, agora ser lido… Muitos se esforçam, mas poucos conseguem ganton-livroschegar ao leitor e quando chegam, recebem aquele olhar desconfiado, a boca entorta ou um sorriso falso surgi, as mãos se estendem sofregamente para receber aquele livro, que talvez tenha uma história muito mal escrita no recheio, pensam. Infelizmente, é o que ainda acontece, e muito. Claro, não estou excluindo as conquistas que o autor nacional tem ganhado no mercado, mas este não está livre de ter seu trabalho literário rotulado precocemente como ruim por ter sido concedido em território nacional. Quem sabe se o autor tivesse nascido em alguma cidade do Uruguai fronteira com o Brasil, seu trabalho valesse ser lido, afinal, agora seria um estrangeiro em terras tupiniquins! Bem, não importa, nasceu aqui, já era, perdeu.

Sim, ainda temos aquele pensamento de país colonizado, importamos cultura de outros países e ainda sambamos na cara da nossa sociedade, isso vale para qualquer área, incluindo nossa tão mal amada literatura. Aí vem aquele velho argumento, tão antigo quanto ceroulas de Machado de Assis: “Ora, mas nosso ensino é defasado! As leituras obrigatórias não contribuem para o florescimento da leitura! É necessário um novo plano para inserir a prática da leitura! Precisamos de intervenção do estado! É culpa da Dilma!” E por aí vai… Quantos e quantos argumentos não escutamos nas rodas de debate ou lemos nos artigos espalhados pelas internet? Tudo isso para justificar que não gostamos do que produzimos. Certa vez, num encontro de blogueiros que aconteceu aqui na cidade, um professor disse algo assim: “Todo mundo espera uma solução para mudar história da leitura no nosso país, mas ninguém está pensando numa solução pessoal, uma postura particular que precisa ser reformulada”. Levo isso para a situação que é o desafio de ser autor nacional, existem campanhas e campanhas para estimular a leitura da literatura que é criada aqui no nosso país, mas por vezes, ela soa hipócrita como esperar que o governo intervenha nos gostos pessoais de cada um com um plano de ensino para que tudo mude. Como o professor disse, precisamos ter uma sensibilidade pessoal, já chega de esperar algo de fora, que nos obrigue a mudar.

Man Reading Book and Sitting on Bookshelf in Library --- Image by © Royalty-Free/Corbis

Recentemente, li um texto de uma autora relatando o quanto é difícil ser autor aqui no Brasil e que precisamos fazer o triplo do esforço de um autor estrangeiro para vender o que produzimos. E que sim, possíveis leitores podem sair de um estande ao descobrir que a editora só vende livros de autores brasileiros. Isso é fato e muito real. Mesmo sabendo que existe uma luta quase coletiva nas redes sociais diariamente, autores, blogueiros, editoras, leitores, criando e compartilhando informações para tentar fortalecer o mercado com o nosso conteúdo, o esforço ainda é gigantesco diante da avalanche que vem de fora e é consumida por nós.

Ainda sim, não lemos o que produzimos. Não lemos no sentido de NÃO CONSUMIMOS, NÃO PAGAMOS para ler literatura nacional. Pra quê? Provavelmente escrevem histórias previsíveis, tecnicamente ruins, ou de teor intelectual incompreensível. Ou sequer sabem que é possível encontrar autores nacionais que fazem boa ficção e boa prosa nas livrarias. Ou, gostei do seu livro, aceito de presente, muitos já escutaram. Por que comprar um livro de um autor nacional conhecido se você pode pegar de graça? Afinal, é só um livro! Não é um trabalho de demorou meses ou anos para ser escrito e outros tantos anos para ser publicado. Não valeu o tempo, não valeu a dedicação, não valeu a grana investida, os profissionais envolvidos como editor, parecerista, revisor, diagramador, ilustrador e tantos outros. Tudo isso é esquecido quando é o trabalho do autor nacional que está da livraria, ficam invisíveis de repente e o setor de Literatura Nacional vira quase um PERIGO – MATERIAL QUE PODE FAZER SEU CÉREBRO DERRETER.

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E quanto há interesse, também há dúvida. Pois além de haver autores bons aqui no Brasil, ainda se duvida sobre sua capacidade de produzir boa literatura que concorra com a estrangeira ou que até a supere, e claro, não estou generalizando, pois em nenhum mercado literário do mundo todos são 100% bons.  Aqui as pessoas, em sua maioria, não esperam que venham nada de bom de nós, infelizmente, e quanto provamos o contrário, são pegas de surpresa, ops! É chato falar assim, mas é o que acontece. Aquele ou tal livro surpreendeu porque se esperava o pior dele ou se tinha pouca fé, afinal o nome do autor estava em português na capa. Já sugeriram que eu colocasse um nome gringo na capa do meu livro para ver se ele venderia mais. E se eu acatasse a sugestão, seria o mesmo que ter ser obrigada a dizer que sou branca, loira dos olhos azuis, enquanto as pessoas me conhecem por morena de cabelos escuros. Estaria mentido para mim e para os outros, bancando a ridícula. Mas querendo ou não, admito que funcionaria. E não critico quem use um nome gringo para angariar leitores. Cada um luta como pode e com a sua verdade.

Escrevo esse texto porque desejo do fundo do meu coração que isso mude, que as pessoas não olhem mais torto, ou virem a cara quando apresentamos nosso livro numa reunião, evento, o que for. Escrevo porque preciso confessar o quanto é incômodo ouvir as pessoas pedindo nossos livros de graça enquanto gastam R$50 reais no cinema durante o final de semana. Ainda preciso dizer que é injusto velar segundos interesses em parcerias que visam somente acumular livros, e nada deles passar adiante para ajudar o autor. E acima de tudo, escrevo porque nós, autores nacionais, precisamos respirar fundo, contar até 3 e virar essa página, escrevendo histórias que somente nós sabemos e podemos contar para o mundo.