– Eu gosto de você, mas não desta forma.
– Entendo, Patrícia. É que somos só eu e você aqui. Não há mais ninguém. Quantas semanas já passaram? Até onde sei, o mundo não existe mais. E só temos nós e essa ilha.
– Não perca as esperanças.
– O que faz com que você não queira nada comigo? Eu sou literalmente o último homem do planeta.
– É claro que não temos certeza disso, né, Carlos!? Nós já estamos íntimos demais, conhecemos nossos medos, tiques e problemas. Eu já lhe vi defecar numa folha de palmeira, pelo amor de deus. Não é algo sexy. E lhe acho incrível e tal, que tal passarmos esse tempo juntos como amigos? Sem acabar conosco com o sexo. Poderemos nos odiar e ficaremos sozinhos, não? Um do outro lado da ilha e outro aqui. Já imaginou, o horror?
– Eu sei, Pati, só que você entende que a transa é uma das necessidades básicas humanas, né? Você realmente consegue viver sem ela?
– Sempre há a masturbação, Carlos.
– Ok, quer dizer que você prefere passar se tocar nessa areia quente ou, quem sabe, usar uma pedra do que tentar uma noite comigo.
– Não fica assim. O importante é gostarmos um do outro, não?
– Não.
– Se eu tivesse um único pedido e fosse eu e você numa ilha deserta? Acho que o sexo já vem meio que implícito, não?
– É claro que não, Carlos. A mulher sempre pode dizer não. Você não sabia disso? Eu sei que você não é um canalha. Deve saber.
– Só que o desejo era meu.
– Existe livre-arbítrio. E dê tempo ao tempo. Quem sabe, algum dia, exista química.
– Quem sabe.
***
– Vamos, Carlos. Uma noite só.
– Não, Patrícia. Você mesmo falava que éramos íntimos demais. É melhor não.
– Mas já passaram cinco meses. Eu estava errada.
– Sim, cinco meses. Olha a quantidade de pelos que temos em nós. Olha suas pernas, pelo amor de deus. Não consigo imaginar sexo entre nós dois. Somos amigos. Desculpe.
– O que você esperava? Nós temos que nos virar com pouco. Sem lâmina, o mar sendo a única fonte de limpeza. Sem contar aquele rio lamacento que chamamos de fonte.
– E é por isso que perdemos o tesão.
– Tá, Carlos. E como fará para passar o desejo quando tiver? E eu?
– Usa a areia, como eu faço. Ela é bem quentinha.
– Você é nojento, Carlos.
– Pode ser, mas tenho livre-arbítrio. Quem sabe algum dia.
– Não dá pra perder a esperança.