Fala Galera,
a coluna de hoje me remete à minha primeira leitura digital “real” (na prática imprimi tudo) e a mais recente (ainda estou acabando, mas falta só um pouquinho, e acho que já dá para escrever).
Há muito tempo, no ano 2000, um dos meus autores favoritos resolveu fazer um experimento com publicação digital. Nunca tinha ouvido falar de algo parecido na época, apesar de que ao estudar para essa coluna descobri que ele mesmo havia tentado algo parecido no mesmo ano.
A proposta de Stephen King era a de publicar uma história em diversas partes. Seu título era “The Plant” e hoje ele se encontra disponível para Download, infelizmente somente em PDF, no site do autor gratuitamente.
Porém nessa época, a forma de publicação foi com uma divisão um pouco diferente: foram seis publicações e sua forma foi inovadora. Ele publicava abertamente em seu site para download, com uma forma de pagamento que não lembro qual era, mas acho que era cartão de crédito. Você podia dar quanto desejasse, mas o “preço” era 1 dólar, e 75% dos downloads do site, pelo menos, deveriam ser remunerados por esse valor. Várias pessoas pagavam 5 ou 10 dólares para tentar garantir a continuidade da publicação. Ao mesmo tempo vários leitores do exterior, eu inclusive, tinham dificuldades para conseguir pagar. Era uma época da internet selvagem, nada de Paypal, cartão internacional era raro, enfim… o problema maior era efetivamente fazer o pagamento e não o dólar devido.
No fim a história não teve um final satisfatório e sua arrecadação, apesar de irregular, rendeu ao autor algo como meio milhão de dólares.
E então…
Muitos anos se passaram e encontro uma proposta interessante na minha timeline: O Paulo Elache compartilhou um post de Christopher Kastensmidt oferecendo algumas cópias de suas noveletas (espero que a classificação esteja correta) para quem se propusesse a resenhar as histórias em qualquer veículo (goodreads, Amazon…). A ideia de uma sequência de histórias curtas me remeteu diretamente à minha primeira experiência e decidi fazer o contato. O post estava escrito em inglês e as publicações, pela capa, também. Nesse idioma expliquei que tinha uma coluna em um site no Brasil, a proposta da coluna (que não é resenhar essas histórias) mas que via como criar a pauta relacionando com a história das publicações digitais. Desde o começo da coluna, a idéia de incluir o experimento The Plant existia e ele está presente desde a primeira lista de pautas possíveis. Essa era a oportunidade! Para minha surpresa a resposta veio rápida e em português. Depois de uma rápida troca de comunicações recebi os três primeiros conteúdos da “A Bandeira do Elefante e da Arara” que serão publicados a partir da semana que vem (7/Julho/2015) na Amazon, em inglês.
Qual a surpresa disso?
O tema das histórias é o período das Bandeiras no Brasil, o folclore brasileiro, a colonização do Brasil. A Editora Devir já publicou fisicamente esse material em português, sempre em edição com um deles e uma outra noveleta do Roberto Causo, e, enquanto eu escrevo, tem um de cada disponível na Amazon Brasil, se você correr pode até dar sorte! (se a revisora já não correu e comprou =D).
Uma outra possibilidade é a versão quadrinizada com a ajuda do autor para o primeiro volume. Esse não se encontra disponível na Amazon, mas está na Livraria Cultura e na Livraria da Travessa. Não tive contato com essas traduções, mas o que eu posso dizer é: a história vale muito a pena!
A “origem” do Oludara, contada na mesa do almoço já convenceu alguns amigos a comprarem os contos a fim de saber mais. Ao mesmo tempo que eu recomendo fortemente a história, não recomendo os textos em inglês para quem não tem um domínio razoável da língua. A mistura de termos antigos, com nomes folclóricos adaptados e uma história muito distante do nosso cotidiano contribuem para dificultar a leitura. Se você tem um bom domínio da língua ótimo, se não corra atrás das, já raras, traduções. Vale a pena!
Um ponto de divergência interessante de ser analisado entre as duas obras (e seus 15 anos de separação) é o nível de controle sobre os meios de publicação: Stephen King, dono de um nome que vende por si só, publicou no seu próprio site e estabeleceu os critérios de manutenção da história. A história da “A Bandeira do Elefante e da Arara” é muito mais complexa. Com o autor radicado no Brasil, desde o início dos anos 2000, “Encontro Fortuito” foi publicada lá fora, com grande sucesso, em 2010 na revista americana Realms of Fantasy e concorreu entre os finalistas do Nebula de Melhor Noveleta (eu estava certo na classificação no fim das contas).
O segundo foi vendido para uma publicação americana que, de posse dos direitos, não publicava a história, impactando as possibilidades da terceira história que já havia sido publicada no Brasil em português (também pela Devir na mesma série Duplo Fantasia Heroica em 2012). Com a publicação dos três volumes em inglês nesse momento, espero que o autor esteja nivelando a disponibilidade e que no futuro novas aventuras estejam disponíveis.
Antes do tchau…
Para quem quiser saber mais sobre as obras do autor, ele participou do programa sobre Literatura Fantástica nos EUA e Brasil dos amigos do Programa Ghost Writer e contou muito sobre as obras. Chego a arriscar que esse relançamento poderia ser reflexo das discussões desse programa, mas não tenho certeza. Meus agradecimentos ao Paulo Elache por me lembrar do programa e por quê aquela história me parecia familiar. O Prograsma GW pode ser ouvido no link.
Abraços rapidinhos, que por essa semana já contei muita história.