A pequena base isolada no Valley Forge, comandada pelo Capitão Frank Castle é o único posto de comando ainda empenhado em combater e resistir ao inimigo. O sentimento anti-guerra se apodera e os soldados veem o fim da guerra cada vez mais próximo, como um fio de esperança de voltarem ainda vivos para casa.
Nessa aclamada minissérie divida em quatro volumes, cada um contando um dia desse tormento infernal, Garth Ennis conta a história de Frank Castle, antes que o mesmo se tornasse o Justiceiro que conhecemos. Esqueça o que sabe sobre aquela história batida da morte da família dele, no parque etc. esqueça a caveira no peito e o codinome Justiceiro. Aqui temos o Capitão Frank Castle, um combatente treinado, disciplinado e perito em quase todas as técnicas de combate possível: armamentos, explosivos, sobrevivência, veículo de guerra etc. Uma verdadeira máquina de extermínio. E o melhor de tudo, para o Exército Americano obviamente, um militar leal, determinado e com o dever cívico sempre em mente. Lutar pelo seu país é o seu ideal.
A história narrada no decorrer de quatro dias, como já dito anteriormente, é contada pelo soldado Stevie Goodwin que está sob as ordens do Capitão Castle. Mas Capitão de quê? Capitão do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos (United States Marine Corps). Um marine. Garth Ennis coloca de lado a teoria de que Castle havia enlouquecido e tomado para a si personalidade do Justiceiro apenas após os eventos que aconteceram com a sua família, e nos joga a ideia de que talvez ele sempre houvesse tido dentro de si esse desejo pela morte, e esse senso radical de justiça. Talvez o que aconteceu a sua família, apenas houvesse engatilhado o que sempre esteve ali. Talvez tivesse sido a gota d’água e ele tivesse desistido de lutar contra o que havia dentro dele e deixado aquilo aflorar. Ennis nos conduz com maestria dentro da mente psicótica de Castle, e nos convida a conhecer como a pressão e os eventos ocorridos na fronteira do Camboja contribuíram para o aparecimento (ou aceleramento) desse peculiar senso de justiça, como em certa altura ele mesmo chega a se perguntar: “esse desejo que tem de dar a cada filho da mãe no mundo exatamente o que ele merece?”. Em dados momentos, passa a ser claro para nós o quanto ele luta contra algo que há dentro dele, como uma dupla personalidade insana e com sede por morte que tenta a todo custo emergir, mas a parte dele que ainda mantém sua sanidade buscando abafar.
A arte de Darick Robertson dá o tom sombrio que a minissérie precisa. Não é só o tom realista que o artista confere a obra, como o trabalho de coloração também foi muito bem feito. É uma HQ bem escrita, bem desenhada e bem colorida. Não há enrolação nos eventos dessa minissérie, com cada coisa e cada cena, por mais explícita e chocante que seja, possuindo um motivo específico para estar ali, como para a construção dos personagens e da trama, por exemplo, que culmina em algo espetacular. Na verdade a HQ toda do começo ao fim é espetacular.
Mas não é só Frank Castle que é um bom personagem. Há outros muito interessantes e bem construídos também, como o próprio narrador Stevie Goodwin e seu amigo Angel, cada um com sua própria luta pessoal, suas próprias motivações e esperanças (ou desesperanças), lutando contra seus próprios inimigos, mas no fim, na linha de frente e no fim da Guerra do Vietnã, lutando contra o mesmo inimigo.
Infelizmente não encontrei a informação de quem foi o capista dessa minissérie do Justiceiro, mas creio que as capas foram feitas pelo Tim Bradstreet, que já é conhecido pelos seus outros trabalhos igualmente maravilhosos como capista, como em Hellblazer, Blade, mensais de Punisher e livros de jogos de RPG, como até de capas de bandas de Heavy Metal (vide Iron Maiden). Caso eu esteja enganado, por favor, avisem nos comentários.
Um capitão disciplinado e leal ao seu país, capaz de tudo para cumprir sua missão, disposto a tirar quem quer que seja de seu caminho nos mostra a evolução de sua personalidade singular, e seu senso de justiça no mínimo controverso, evidenciado a cada cena do quadrinho. Em Born estamos na mente heroica ou doentia (está a sua interpretação) de Frank Castle.
“Se você pensa que a vingança é ruim… Você não conheceu Frank Castle.”
NOTA:
Nome: Justiceiro — Nascido Para Matar (MAX)
Nome Original: The Punisher — Born
Autor: Garth Ennis (roteiro), Darick Robertson (desenhista), Tom Palmer (finalizador)
Editora: MAX Comics (Selo adulto da Marvel Comics)
Ano: 2003
Páginas: 23 cada volume