[Notícia] O triunfo da ficção de fantasia – Parte I

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A fantasia está sendo festejada como nunca antes. Assim como The Game of Thrones na TV, John Mullan compartilha da magia do gênero e explora os universos alternativos de Tolkien, Terry Pratchett, Neil Gaiman – e, obviamente, o laureado Senhor da Fantasia, George R. R. Martin

A Fantasia, há décadas um próspero gênero literário, finalmente tomou o seu lugar no mainstream. Não se atendo apenas aos admiradores de modinhas, os romancistas de literatura de Fantasia mais bem sucedidos têm não só os números de suas vendas para incentivá-los, mas também uma série de livros acessórios que vêm na mesma onda, sites de análise esmiuçando todos os aspectos, conferências e comentários on-line que caracterizam o fandom. É um gênero que sempre gerou massa crítica. Romancistas de Fantasia há muito tempo tem uma relação com seus leitores que outros escritores invejam (dê uma olhada na atenção dada a cada tweet feito por Neil Gaiman para seus 2,2 milhões de seguidores).

Mas os devotos de Fantasia atualmente sentem-se contrariados como os críticos que oportunamente se apressam a declarar seu vício em The Game of Thrones, da HBO – adaptado da saga multi-volume de George R. R. Martin, As Crônicas de Gelo e Fogo – ou declarar sua admiração por Terry Pratchett, como tributo à atenção esmagadora, devido à sua morte recente. Portanto, O Gigante Enterrado (Companhia das Letras, 2015), o novo romance de um dos principais romancistas da Grã-Bretanha, Kazuo Ishiguro, parece uma reinvindicação atrasada ao gênero.

Ishiguro tem falado, nas últimas semanas, de como a barreira entre este, outrora desdenhado gênero, e romances

“sérios”, está definitivamente quebrada. Se isso for verdade, George R. R. Martin, com certeza, liderou o ataque. Martin é o laureado Senhor da ficção de Fantasia. A Song of Ice and Fire (cujo primeiro livro é The Game of Thrones) começou a aparecer em 1996 e agora é composta por cinco longos livros (com mais dois ainda por vir). Ele tem uma legião de fãs que se ressentem do baixo status concedido a seu gênero favorito, e alguns admiradores ilustres concordam.

Um defensor do mérito de Martin é o reconhecido romancista John Lanchester, que convidou abertamente os esnobes literários para atravessar a aparentemente “intransponível fenda” entre os leitores de fantasia e “o público alfabetizado mais amplo”. Discutindo as delícias da fantasia de Martin, Lanchester celebrou não só a sua criação de um mundo ricamente imaginado, mas o “sentimento de insegurança e incerteza” desse mundo.

Qualquer apreciador de literatura que cruza essa fronteira certamente será apanhado pela energia e inventividade dos múltiplos pontos de vista da história de Martin. É uma variante não idealizada de ficção UA (universo alternativo).

Na terra de Westeros, num mundo monárquico pré-industrial e brutal, beligerantes grupos de famílias lutam pelo poder. Na terra vizinha de Essos – mais primitiva, ainda mais completamente hobbesiana – uma jovem mulher, descendente dos antigos governantes de Westeros, luta para reivindicar a terra de onde foi exilada. J. R. R. Tolkien, que pode não ter inventado a fantasia UA, mas certamente foi o seu mais influente expoente, deu peso ao seu mundo com línguas inventadas, lendas, genealogias e poesia. Martin, por sua vez, fornece bastante disso, mas dedica a maior parte de suas energias para convencer o leitor dos medos inteiramente humanos e ambições de seus personagens principais. Tolkien nos deu hobbits, orcs, elfos e anões. Martin lida com homens e mulheres.

Continua…

Via The Guardian