Realiza-se, de 25 a 28 de junho, o primeiro festival literário, digno desse título, de BH. Embora o “Internacional” mostre-se apenas uma bela intenção, sem ainda ter qualquer significado prático, pelo menos não ainda nessa edição. Digo isso após ter presenciado a Bienal, por duas vezes, e ter me desapontado demais, pois nem as grandes editoras mais conhecidas, pareceram se interessar pelo evento e não deram as caras. Bienal sem uma Rocco, uma Leya, uma Companhia das Letras ou uma Record não dá, não é?
Não é o caso da FLI-BH: Festival Literário Internacional de Belo Horizonte, que já começa justificando sua existência numa parceria com a LIBRE, Liga Brasileira de Editoras, uma associação de editoras independentes, e promove a Primavera da LIBRE 2015, trazendo várias editoras “pequenas”, que com seus descontos altíssimos permite que estudantes gastem seus vale-livros, presenteados pela rede municipal de ensino, comprando livros. Eu mesmo comprei As Dez Torres de Sangue (Ed. Draco, 2012) de Carlos Orsi, por R$15,00!
O modelo desse Festival passa por promoção de muitos e variados eventos, como oficinas, narrações em bibliotecas, feira com preços incríveis, mesas de discussão, lançamentos, performances, sessões de autógrafos, mostras de cinema, palestras e mil coisas mais. Tem atividade para todo tipo de gosto. Tudo com o dedo da literatura ali presente. E temos gente como Milton Hatoum, Joca Reniers Terron, Paulo Werneck e Luiz Rufato, dentre uma imensa galera literária. Parabéns Belo Horizonte!
Contudo a FLI-BH ainda carece de aperfeiçoamento, principalmente com relação ao público jovem. Não digo a garotada, que tem até vários eventos voltados às crianças. Falo de adolescentes e jovens adultos, leitores que surgiram com os fenômenos Harry Potter e O Senhor dos Anéis. Tirando Fábio Moon e Gabriel Bá, representante do mundo dos quadrinhos, não há, dentre os 120 eventos oficiais, um único voltado à literatura fantástica, ou um autor convidado dessa facção – nem unzinho sequer! Parece que o mundo literário é indolente demais, ou incompetente mesmo, no que se refere a atrair público, preferindo chamar figurões bons de crítica, mas ruins de venda, à escritores da nova leva da literatura fantástica.
Mas enquanto as mesas e as conferências nos teatros convidam o mainstream para os coquetéis e jantares, nos teatros e auditórios, onde traçam o futuro da literatura nacional, a Giz Editorial, a Editora Draco, a Aleph, dentre outras dezenas de editoras, estão lá fora, a céu aberto nesse frio, no Parque Municipal, em quiosques minúsculos de 2,5 m², vendendo livros a R$15,00 (esse é o valor dos vales dados pela prefeitura aos meninos e meninas, alucinados para comprar livros… Quinzão, gente! Tem político que acha que livro custa R$15,00 nesse país! Mas é melhor que nada). Tudo bem, deixem-nos com as glórias de se acharem os construtores de uma realidade literária inexistente. As editoras pequenas se contentam com a grana! Show me the money, diria o cara do filme…
De olhos bem fechados (cacete, por que eu faço isso?), ao lado da Simone Matheus, editora da Giz Editorial.
Sem encontrar Erick Sama (dono da Draco), tive o prazer de conhecer Dana Guedes, autora e gente fina, no stand da Editora Draco.
A criançada em casa adorou. As Dez Torres de Sangue para o Enzo, A Torre Acima do Céu (Giz Editorial, 2015) para o Pietro, Bichos Papões de Escola (Ed. Mar de Ideias, 2014) e para mim: A Mão Esquerda da Escuridão (Editora Aleph, 2014).