Gillian Flynn tem o dom de ser uma escritora atual que consegue me convencer a ler seus livros através apenas da sinopse. Isso é um fato.
Somando-se aos títulos intrigantes e capas produzidas pela editoração de arte da editora, eu confesso que saindo de Garota Exemplar (cuja resenha você pode acessar e ler, bem como ouvir o episódio CabulosoCast #102 onde falamos sobre o livro) não pensei duas vezes ao decidir ler “Objetos Cortantes”, principalmente depois de assistir ao booktrailer.
Mas, vamos lá: Flynn provou mais uma vez que conhece as relações entre seres humanos e nos mostra, sem medo nem vergonha, algumas características asquerosas e assustadoras de nós mesmos. Quem leu Garota Exemplar sabe que depois da leitura é impossível não observar as outras pessoas e pensar de forma fria sobre relacionamentos, assumindo a responsabilidade de nossos atos e erros perante os dois. (Bem que minha mãe sempre me dizia que a gente pode dormir a vida inteira com o inimigo e nem se dar conta disso…).
Já Objetos Cortantes ameaça chegar perto disso, mas é mais romanciado, pega menos na alma. Penso que é assim devido ao seu formato em gênero romance policial.
– Eu corto palavras – murmurei, como se fizesse diferença.
Todos temos nossos segredos, mas simplesmente não gostamos de assumir que os outros também têm os seus.
E quando a pressão aumenta, cada um tem sua própria forma de reagir: alguns se tornam viciados em trabalhar, outros em ler, outros em sair, em dormir, em comer, em malhar, em gritar, em correr…. e Camille, a protagonista da história, se tornou viciada em cortar palavras… em sua própria pele.
Camille é a filha mais velha de Adora, uma mulher excêntrica, poderosa, de classe alta e que definitivamente pode ter nascido para tudo: menos para ficar sozinha, perder o controle e ser mãe. As duas não se dão bem, não se gostam, não se aturam, contudo precisam engolir o orgulho quando Camille é enviada para sua cidade natal, Wind Gap por seu chefe para cobrir uma notícia sobre o desaparecimento de uma criança na cidade. Ao descer na cidade, descobre sobre outro caso: o de uma criança de idade similar que foi brutalmente assassinada no ano anterior e cujo responsável pela atrocidade ainda não foi preso.
A narrativa se desenvolve a partir dos acontecimentos na cidade e sob perspectiva da jornalista, enquanto tenta lidar com seu próprio passado. Chegar na cidade, após anos de distanciamento, é forte e desperta lembranças de sua irmã caçula que morreu ainda jovem. Além disso, ela precisa lidar com sua irmã mais nova, mimada e descontrolada, que age sobre o feitiço de sua mãe, além de ter de lidar com todas as pessoas com quem cresceu e visivelmente não eram, necessariamente, as melhores pessoas para ela.
Em meio a tudo isso, destaca-se o fato de que Camille tinha o hábito de se auto mutilar. Não dá para saber, de imediato, se o fato é natural ou traumático, se está ligado a dor ou prazer… eis a façanha de Gillian Flynn que sempre nos deixa, seus leitores, oscilando entre esses extremos: onde a meio passo da razão, encontra-se apenas a loucura.
Análise Crítica
Confesso: sou fã (mesmo) de Gillian Flynn.
O livro é bem escrito, todo em primeira pessoa e apresenta todos os acontecimentos e personagens sob a dimensão de Camille.
A estrutura narrativa é bem montada, não sobra espaço para confusão e o desfecho é levemente deduzível, contudo até o último momento torcemos para que estejamos errados.
A edição lançada pela editora Intrínseca em 2015 possui 256 páginas, capa comum e folhas amareladas, escritas a preto. A diagramação é comum, as letras são de bom tamanho, a leitura vai bem.
Vale ressaltar que o livro foi originalmente escrito em 2006 e que antes de ser relançado pela Intrínseca no Brasil, ele foi lançado sob o título de Na Própria Carne pela editora Rocco em 2008. (Trata-se, portanto, do mesmo material).
Por fim, o livro segue ritmo do gênero trriller psicológico, indo para viés policial, assumindo (por isso mesmo) ritmo um pouco diferenciado do que a obra de destaque Garota Exemplar.
Meu conselho? Cai de cabeça! Vale a pena!!!
Nota
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Nome: Objetos Cortantes
Autor: Gillian Flynn
Edição: 1ª
Editora: Intrínseca
ISBN: 9788580576580
Ano: 2015
Páginas: 256
Sinopse: Objetos Cortantes
Uma narrativa tensa e cheia de reviravoltas. Um livro viciante, assombroso e inesquecível. Recém-saída de um hospital psiquiátrico, onde foi internada para tratar a tendência à automutilação que deixou seu corpo todo marcado, a repórter de um jornal sem prestígio em Chicago, Camille Preaker, tem um novo desafio pela frente. Frank Curry, o editor-chefe da publicação, pede que ela retorne à cidade onde nasceu para cobrir o caso de uma menina assassinada e outra misteriosamente desaparecida.
Desde que deixou a pequena Wind Gap, no Missouri, oito anos antes, Camille quase não falou com a mãe neurótica, o padrasto e a meia-irmã, praticamente uma desconhecida. Mas, sem recursos para se hospedar na cidade, é obrigada a ficar na casa da família e lidar com todas as reminiscências de seu passado. Entrevistando velhos conhecidos e recém-chegados a fim de aprofundar as investigações e elaborar sua matéria, a jornalista relembra a infância e a adolescência conturbadas e aos poucos desvenda os segredos de sua família, quase tão macabros quanto as cicatrizes sob suas roupas.