O livro “Bukowski 3 em 1” reúne três livros do Velho Safado em três momentos diferentes da sua vida. É um tomo realmente muito bem organizado, porque lemos o livro numa escala ascendente: O primeiro livro é “Cartas na Rua”, o primeiro do autor, o segundo é “Mulheres”, um livro já mais maduro, e o terceiro é “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”, um dos seus últimos livros; lançado postumamente.
Em “Cartas na Rua” (livro autobiográfico, peculiaridade inerente ao próprio estilo do autor) temos Bukowski… ou melhor, Henry Chinaski (seu alterego) começando seus trabalhos nos Correios norte-americanos.
“Que emprego, pensei. Moleza!.” (Pág. 11)
Mas claro que o Velho Safado não poderia estar mais enganado. Esse emprego que ele pensava em passar apenas algum tempo, juntar uma grana, beber um pouco, durou nada menos que 12 anos.
Somos então mergulhados no universo em que viveu Charles Bukowski, e conhecemos isso através do fanfarrão e cínico Henry Chinaski. Chinaski vive na pobreza, aposta em cavalos, bebe, conhece mulheres, faz sexo com elas e assim toca sua vida.
Henry Chinaski é um anti-herói no sentido total que o termo pode ter. Um alcoólatra, cínico e misantropo, assim como era Charles Bukowski. E assim como Bukwoski, portanto, nasceu pobre, passou grande parte da sua vida possuindo casos com várias mulheres, e em “Cartas na Rua” o vemos trabalhando nos Correios, emprego que ambos — autor e criatura — tanto odiaram.
Já em “Mulheres” temos Henry Chinaski num novo contexto. Um Henry Chinaski poeta, após largar o trabalho nos Correios. Esse livro basicamente exerce a função de um “volume 2”. Eu disse basicamente. Nesse novo livro temos um Henry Chinaski em outro trabalho, sim, mas sua vida não é tão diferente, por causa disso. A diferença desse é que ele bebe mais e fode mais. Ah, e nota-se uma nítida evolução de Bukowski como escritor propriamente dito. O livro age, assim com o seu predecessor, como uma estruturação de uma série de episódios da vida de Henry Chinaski, funcionando como se fossem uma série de contos. Esses “contos” desse livro são bem mais interessantes que o do antecessor a meu ver, inclusive este insere algumas mulheres bem marcantes que passaram pela vida do escritor, como Lydia.
Não satisfeito com uma ascensão de um livro pro outro, subimos mais um degrau na escada literária de Bukowski, para um dos livros mais arrebatadores que li. Arrebatador por que ele vem despretensiosamente e te dá uma pancada na cara. “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio” foi publicado em 1998, e é uma série de trechos de seu diário, previamente selecionados pelo próprio, antes de morrer. No texto podemos ver o que já havíamos conhecido de seus hábitos, pelos dois últimos livros, como seu vício em beber e de apostar em cavalos. Mas o que mais interessa nesse último volume é que temos acesso direto aos pensamentos de Bukowski acerca do mundo, acerca da natureza humana e principalmente acerca dele mesmo, assim como da literatura e de seus produtores. Temos acesso a suas reflexões filosóficas como se o próprio estivesse nos dizendo. E ele realmente está, afinal!
Esse último livro conta com ilustrações do desenhista norte-americano Robert Clumb (muito boas, diga-se de passagem) e sinceramente não entendi qual o significado do título… Se alguém souber, por favor, me avise.
“(…) Acho que você tem que enfiar a cara na lama, de vez em quando, acho que você tem que saber o que é uma prisão, o que é um hospital. Acho que você tem que saber o que é ficar sem comer por uns quatro ou cinco dias. Acho que viver com mulheres loucas faz bem para a espinha. Acho que você pode escrever com satisfação e liberdade depois de passar pelo aperto. Só digo isso porque todos os poetas que conheci têm sido uns frouxos, uns parasitas. Não tinham nada para escrever, exceto sua egoísta falta de persistência.
Sim, fico longe dos POETAS. Você me culpa por isso?” (Pág. 476)
Considerações finais
Erroneamente, Bukowski tem sido identificado como pertencente à Geração Beat por causa de seus temas e estilos parecidos, como temas e personagens marginais: prostituição, alcoolismo, sexo, pobreza extrema, corrida de cavalos, experiências marginais e etc. É considerado como o último poeta “maldito” da literatura norte-americana e também “O maior poeta da América” pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre. Jim Christy ainda disse que a diferença de Bukowski para os autores beatniks, era que Bukowski era engraçado.
Suas principais influências foram Dostoiévski e o estilo minimalista de escrever de Ernest Hemingway. Uma espécie de “falar muito, com menos”. Sua obra perpassa principalmente por suas próprias experiências de vida (seus livros são de caráter extremamente autobiográficos) e em tom propositalmente coloquial.
“Não há nada a lamentar sobre a morte, assim como não há nada a lamentar sobre o crescimento de uma flor. O que é terrível não é a morte, mas as vidas que as pessoas levam ou não levam até a sua morte. Não reverenciam suas próprias vidas, mijam em suas vidas. As pessoas as cagam. Idiotas fodidos. Concentram-se demais em foder, cinema, dinheiro, família, foder. Suas mentes estão cheias de algodão. Engolem Deus sem pensar, engolem o país sem pensar. Esquecem logo como pensar, deixam que os outros pensem por elas. Seus cérebros estão entupidos de algodão. São feios, falam feio, caminham feio. Toque para elas a maior música de todos os tempos e elas não conseguem ouvi-la. A maioria das mortes das pessoas é uma empulhação. Não sobra nada para morrer.” (Pág. 426)
NOTA:
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Nome: Bukowski (3 em 1)
Autor: Charles Bukowski
Edição: 1ª
Editora: L&PM Editores
ISBN: 9788525429346
Ano: 2013
Páginas: 511
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