Apesar de não ter no Brasil, o reconhecimento que deveria William H. Hodgson e sua casa sobre o abismo constituem um marco do gênero terror na literatura, servindo de referência para muitos dos escritores que viriam a se tornar lendas no gênero sobrenatural, como H.P Lovecraft, que inclusive nunca deixou de admitir a influência que o autor inglês teve sobre ele, fosse pela forma estilística e intensa de escrever, ou da capacidade do mesmo em criar climas tensos e oportunos.
E é com extrema facilidade que podemos ver o porquê de Lovecraft ter tanto apreço assim pelas histórias de William H. Hodgson, uma vez que a história da maldita casa construída sobre o abismo acaba por se transfigurar numa viagem no continuum espaço-tempo e evoca nossa pequenez perante o cosmos. Aquilo que Lovecraft viria fazer com maestria nos mitos de Cthullu, evocando a presença dos astros, outras dimensões e a infinitude do Universo, graças a sua inclinação natural e interesse pela astronomia — que infelizmente não rendeu frutos (no ramo da ciência; mas que por outro lado reinventou a literatura sobrenatural à sua maneira).
A história de “A Casa Sobre o Abismo” começa com dois amigos que decidem passar suas férias num vilarejo esquecido pelo mundo. Numa de suas explorações, após pescarias e banhos de rio, deparam-se com um abismo profundo e uma casa construída sobre ele, desafiando muitas leis da física. Os amigos encontram um manuscrito do antigo morador da casa. Um manuscrito que não poderia ser mais esquisito.
É uma história envolvente, bizarra, que te faz roer muitas unhas no decorrer da história. Num estilo muito parecido com o que Lovecraft iria desenvolver em seus próprios mitos, William H. Hodgson atiça nossa curiosidade sobre os fenômenos apresentados no livro, sem nos entregar muita coisa a respeito do que acontece. No fim nos perguntamos se tudo de fato aconteceu ou se não passou de uma loucura? Uma ilusão inventada por uma mente assolada pela solidão, de um velho sem mais perspectiva nenhuma de vida? É algo a se pensar.
É uma história dentro de uma história, contada em primeira pessoa, tanto pelos amigos que leem a história, quanto pelo velho Recluso (escritor do manuscrito), e somos levados à beira da aflição de cada um deles, vendo pelos seus olhos. Confesso que em alguns momentos achei o livro demasiado arrastado e maçante, mas foram poucos esses momentos. Na maioria das vezes eu estava envolvido demais com a história, vendo o tempo passar freneticamente frente às muitas alvoradas, assistindo o fim de muitos mundos com o narrador, e enfrentando as criaturas macabras meio homem e meio porcas, junto com ele.
Um livro que influenciou tanto autor bom e é considerado um marco de terror não pode ser ruim. Na verdade, pode. Mas não é o caso deste. Tanto para sua própria época, como para os dias de hoje, “A Casa Sobre o Abismo”, continua sendo uma história inovadora. É um terror cósmico, dúbio e psicológico. Somos confrontados por deus antigos mudos, que espreitam na escuridão e apresentados a outras dimensões de uma forma deveras onírica. Um livro muito importante para quem ama o gênero horror. Recomendo a leitura.
PS:. Há inclusive uma adaptação em quadrinhos, produzida pela Vertigo e prefaciada por ninguém menos que Alan Moore, para quem tenha interesse. A adaptação se chama “A Casa do Fim do Mundo”.
NOTA:
Nome: A Casa Sobre o Abismo
Autor: William H. Hodgson
Edição: 1ª
Editora: Newton Compton Brasil
Ano: 1993
Páginas: 98
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