[Coluna] Sobre quando éramos felizes

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Ninguém lhe prepara para o dia em que você percebe que está sozinho. É curioso, pois é uma sensação que deveria estar intrínseca à existência. Haverá conforto nos braços paternos, geralmente, mas seus amigos e pessoas do convívio diário não necessitam ter um vínculo com você. Ou estender o braço. Amizade é um fruto que nasce de um espectro egoísta, de uma necessidade, que, naturalmente, é calcada em algum tipo de interesse. E mesmo que não se perceba. Um motivo banal, muitas vezes. A aprazibilidade de trabalhar com alguém que você goste, uma necessidade de ter atenção, uma pessoa que saiba como você se sinta. Todos nós acabamos tendo um motivo prévio para se aproximar de alguém. A beleza é um dos fatores prematuros, às vezes, mas não segura um relacionamento. Precisa-se de mais do que apenas paz aos olhos. É um conforto mais metafórico, o que precisamos, acredito. De achar que, pelo menos por algum segundo, não, você não está sozinho. Existe alguém. E, para você, é óbvio que ela se importa. Claro que estenderá a mão, que fará de tudo por você, não?!

É difícil se preparar.

E ainda mais assumir a condição solitária que invade a alma, na perseverança do pessimismo em lhe deixar mal. Em acabar com sua sede de viver. Lamentar a existência. Tornar-lhe amargo, individualista, empático, mas com restrições. Amizades não são genéricas, certo, mas tampouco especiais. Precisamos de placas indicativas para limitar a maioria delas: até onde podemos chegar sem ferir uns aos outros, o quanto podemos falar de nós, qual é a vez de quem. Aproveitar o momento também, pois como todos os outros ele terá um fim. Ele nascerá, atingirá bons períodos e cessará. Como nossa vida. Não se sinta sozinho, quando alguém lhe abandonar. Apenas perceba que esse é o nosso inevitável destino. Fique feliz. Pois um novo ciclo talvez se inicie. Quem sabe.