[Coluna] Onde foi parar aquela história?

10

Coluna não é resenha, e a de hoje ilustra bem essa diferença.  Vou escrever sobre o que eu não li, não posso ler e nem você.  Exagero, mas não muito, como explico logo a seguir, bem rapidinho…

Como disse na primeira coluna, o mercado digital revolucionou a maneira de se consumir histórias curtas fazendo com que pudessem ser vendidas de maneira individual e a preços justos.  Quer seja por iniciativas como a editora Draco publicando boa parte de seu catálogo de histórias curtas nesse formato, e de maneira individual, ou por iniciativa própria, seguindo o caminho da autopublicação digital independente, como o premiado autor Fábio Barreto, esse material tem encontrado seu caminho até o público.  Ótimo!

Mas onde vão parar alguns clássicos?

Clássicos não são só os que se estudam nas cadeiras das escolas, mas histórias que mudaram como enxergamos o mercado, o gênero, que influencia novas, ou antigas, gerações, ou qualquer outro critério que se queira criar por conta própria, mas de maneira defensável por favor, já que não existe um critério objetivo para se classificar algo como clássico.

O primeiro deles que trago é o conto “2002” de Jorge Luíz Calife (1975), creio que o patrono da ficção científica brasileira (e se você não o conhece “shame on you“), mas vou facilitar contando um pouco sobre o autor.  Calife traduziu a saga Duna para o português originalmente, escreveu a trilogia “Padrões de Contato”, antes de trilogias serem tendência por aqui, entre outras várias obras nas mais diversas formas, mas sua história mais curiosa envolve o conto chamado, como já mencionei “2002”.

Ineditos completaO que 2002, um conto indisponível, atualmente, difícil de ser encontrado e, diferente do que eu disse no começo esse eu até já li, tem de tão especial?  Esse conto foi traduzido, enviado ao Arthur C. Clarke, a quem o autor hoje chama de amigo, e o inspirou a continuar o 2001 – Uma Odisséia no Espaço, dando origem a não uma, mas três continuações.

A única publicação que conheço dessa obra tão importante foi na finada revista Quark em um de seus primeiros números no início dos anos 2000.  Quase impossível de ser encontrada hoje, mas tenho a minha aqui.

Outro exemplo de clássico perdido é “Eu Matei Paolo Rossi” de Octavio Aragão publicado originalmente na antologia “Outras Copas, Outros Mundos” moldou o universo Intempol que começou a germinar na internet até virar uma nova antologia da mesma editora dedicada exclusivamente a esse universo, incluindo o conto original.  A Editora Ano-Luz desapareceu, o que posso tentar adivinhar é que os direitos devam estar perdidos entre as disputas dos advogados, e para quem tem interesse em conhecer a obra só em sebos, e não será fácil.  Acabei de receber meu exemplar da Estante Virtual e só tinha mais um, será que alguém daqui que vai levar?  Vale mencionar que o universo Intempol compreende também a resenha publicada ontem da ficção carnavalesca de “Para tudo se acabar na quarta feira”. Se você ainda não viu, pode conferir aqui.

De toda forma a pergunta que fica é, qual seria o motivo para obras tão relevantes não estarem disponíveis em formato digital sendo amplamente divulgadas e inspirando novas aventuras, como já fizeram no passado.  Certamente mereciam!

O que eu posso dizer é o mesmo que está na minha apresentação para o site.  Por mais fácil que o mercado digital tenha tornado a leitura desse tipo de obra, não acredito que as pessoas devam se limitar pelo que o mercado quer ou não que nós tenhamos acesso.  Leia sempre, leia muito, leia tudo!  E não importa se digital, físico, em sebo ou numa revista de variedades.  Grandes autores como Stephen King, Chuck Palahniuk, Scott Turow entre outros já publicaram contos na Playboy por exemplo.

Acho que o chefe vai me matar por que não tem link patrocinado óbvio possível dessa vez. Talvez com as outras obras dos autores?  Essa idéia ainda pode me salvar… assim rapidinho.

Abraços e semana que vem eu volto com a “Tirando de Letra” para conversar com vocês.

Rodrigo Fernandes

 Mas antes do tchau…

Em tempo: tive que criar o “título” de patrono da ficção científica brasileira para o Jorge Luiz Calife, mas creio sim merecido, por um motivo muito simples… todos sabem que o Paaaaaaaaaiiiiiiiiiiii da ficção científica no Brasil é o nosso convidado frequente dos CabulosoCasts, Paulo Elache, que por coincidência, ou não, é um dos autores presentes na antologia da Intempol.