[Coluna] O que é um autor nacional?

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O eterno embate geográfico

O que é um autor nacional?

É aquele brasileiro que escreve, ou aquele que escreve histórias sobre o Brasil?

A discussão é antiga e sempre polêmica. O autor é brasileiro, mas os nomes da sua obra são estrangeiros, a narrativa se passa em outro país, com polícias ou órgãos internacionais e elementos culturais não-nacionais… A identidade nacional se perde?

Por uma questão de assimilação da cultura estrangeira nós temos muitos autores que escrevem histórias, principalmente nos EUA ou Reino Unido, não por uma questão de escolha pensada, mas por uma questão de influência. Isso, no entanto, é um assunto que merece ser discutido por si só, em outro momento.

O que gostaria de abordar agora é um dos aspectos desse embate: o do preconceito sofrido por alguns autores que, conscientemente, ambientam suas histórias em territórios estrangeiros.

Até que ponto a ausência de elementos nacionais interfere na qualidade da obra?

O mundo hoje é tão vastamente globalizado que seria mesmo possível dizer que algum autor escreve completamente livre de influências alienígenas?

O autor francês Laurent Gaudé escreveu o premiado “O Sol dos Scorta” que se passa na Itália. Neil Gaiman é um escritor britânico, mas seu romance “Deuses Americanos” se passa nos Estados Unidos.  José Eduardo Agualusa é angolano e suas histórias se passam em vários locais… Angola, Portugal e até Brasil. Dan Brown é um autor norte-americano, suas narrativas ocorrem em vários locais do mundo, muitas vezes em mais de um local por livro. John Green é também estadunidense, e um de seus livros mais famosos mostra Amsterdã. José Saramago era português, mas seus livros frequentemente sequer mencionam a localização geográfica. O americano Stephen King criou as cidades fictícias de Derry, Castle Rock e Jerusalem’s Lot onde muitas de suas narrativas se passam. Então, permanece a pergunta…

Se autores de todos os lugares do mundo escrevem histórias que se passam em todos os lugares do mundo, por que não podem os autores brasileiros fazer o mesmo sem sofrer preconceito de seu público? O próprio Paulo Coelho – provavelmente o mais conhecido e reconhecido autor brasileiro – escreve livros que não se passam no Brasil. Como uma de suas obras mais recentes, “Adultério”, que se passa na Suíça.

A insistência de uma determinação geográfica acaba sendo mais um obstáculo para o autor iniciante que ou escreve a história onde quiser, arriscando sofrer algum preconceito, ou muda sua história para que ela se passe no Brasil, arriscando perder parte do conteúdo.

Diante disso, meu conselho aos autores é: não se importem com preconceitos. Escrevam sua obra da melhor forma que puderem e façam a ambientação como acreditarem ser mais rica para a história. Se for no Brasil, excelente. Se não for no Brasil, excelente também.

É importante, no entanto, tomar cuidado com o local a ser descrito. Imprecisões na descrição é o tipo de coisa que pode destruir a imersão do leitor na história. Priorize locais que você conhece ou já visitou, tente conversar com pessoas do local, faça uma pesquisa detalhada, tenha mapas, leia algum livro de um autor local, livros e filmes ambientados no local servem para complementar a experiência.

Não adianta apenas jogar nas páginas a descrição de um local real como você imagina que ele seja.  Fazendo isso, a probabilidade maior é que você se equivoque em vários detalhes e acabe perdendo pontos na sua obra.