[Resenha] Petaluma – Tiago Velasco | Editora Oito e Meio

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Tecnologia à ponta dos dedos, dois trabalhos, domínio de três idiomas, cotação de dólar, abastecimento de veículo, internet banda larga, casamento de final de semana, vida longa, imortalidade baixa, a ascensão da classe média… eis o século XXI – o século da imortalidade, onde vivemos intensamente, quase sem descanso, nos esforçando ao máximo, tecendo nossa história escapando pela tangente, dormindo pouco, comendo mal, pensando de menos e fingindo não sentir por demais.

A mesma complexidade que temos hoje em dia é do passado, a complexidade de quem somos, do que acreditamos, do que e por quem / pelo que lutamos. E porquê raios somos assim?!

Esse é o universo explorado pelo autor carioca Tiago Velasco em sua segunda obra de contos intitulada “Petaluma”, lançada pela Editora Oito e Meio no país.

“Conhece-te a ti mesmo”

Petaluma não é uma leitura de entretenimento, um livro de descanso. Petaluma é um convite de Tiago a cada um de nós, para que nos embriaguemos em nossos sentimentos e pensamentos, nos aventuremos dentro de nós mesmos e aceitemos quem somos e quem podemos ser.

Não se trata de aceitação ou confrontamento e sim de auto conhecimento.

A cada conto, a cada cenário, a cada nova personagem nos deparamos com um pedaço de nós mesmos e das pessoas ao nosso redor, buscando sobreviver nesse admirável mundo novo.

Depois da leitura, a cada novo amanhecer busco me lembrar de quem sou – mesmo olhando para as imagens fotográficas alocadas em redes sociais ou em quadros pela casa. Caminho pela cidade e percebo que sou estrangeira em qualquer parte, com espírito livre nada nos prende por onde passamos com exceção de quando me deparo se unindo a quem amo sem notar que muitas vezes nossos corpos podem soar a outros como um (e como julgamos isso nos outros de forma pejorativa!).  Por fim, ao encerrar o dia devo confessar que o espelho – objeto ou humano – reflete exatamente aquilo que lhe mostrado e exigido, sempre.

Segue a máxima e a necessidade já afirmada pelo grande filósofo: “Conhece-te a ti mesmo”.

Análise Crítica

“Petaluma” é meu primeiro contato com uma obra do escritor e jornalista Tiago Velasco.

Confesso que a escrita e grande paixão pelas letras e pensamentos, cenários e depoimentos, auto conhecimento e aceitação, busca e vida me surpreenderam. Particularmente, aprecio obras que vão além dos best sellers, sendo os meus favoritos aqueles que mesmo no top 5 dos jornais mais famosos e aclamados do mundo, aqueles que me libertam da casca e me fazem olhar além da caixa através da perspectiva singular do autor, estrela e companheiro do momento de leitura.

Tive grande sorte em conhecer tal obra! E a isso agradeço. Me fez questionar, amar, viver, sorrir, correr, gritar, balbuciar em outros idiomas, correr de camisola, e tudo o mais que se tem direito, hábitos que a fase adulta e a correria característica de nossa geração e nosso tempo presente muitas vezes me tiram.

A diagramação do livro é simples: folhas amarelas, fonte de bom tamanho, espaçamento que oferece leitura mais rápida. A capa é simples, com arte focada e bem feita, porém não desenvolvida para se tornar um marco comercial. (Parece mesmo que a capa é algo extremamente simples desenvolvida a dedo para glorificar ainda mais a nossa complexidade – o interior é sempre mais belo, puro, forte e perfeito do que o exterior – seja dos objetos ou das pessoas).

“Petaluma” surpreende – leia-o e saia da caixa de si mesmo, dispa-se de suas obrigações sociais e máscaras construídas, evolua e vá além, assumindo sua verdadeira face e começando a caminhar por uma estrada que nenhum ser humano que já andou por esse planeta chegou ao final: a estrada do autoconhecimento e domínio perfeito de suas próprias razões e emoções.

Nota

05-selos-cabulosos

 

 

Capa_Tiago Velasco_PetalumaNome: Petaluma
Autor: Tiago Velasco
Edição:

Editora:
Oito e Meio
ISBN: 9788563883612
Ano: 2014
Páginas: 108
Sinopse: Dentre as virtudes deste livro de contos, o segundo de Tiago Velasco, destaca-se em Petaluma o olhar sensível às questões do homem contemporâneo. Na narrativa que abre o livro, Em pedaços, acompanhamos o andar fraturado de um homem que acorda numa cama de hospital e que, com uma doença que desconhece, não tem o que fazer senão caminhar a esmo. A fragmentação de tempo e espaço e do próprio território psíquico do personagem trazem uma atmosfera becketiana que fisga o leitor já nas primeiras páginas.
Mais adiante, em Reflexo temos o homem niilista, sartreano, que abdica (por transgressão ou egoísmo?, se perguntará o leitor) de seu lugar social para viver conforme suas pulsões e demandas mais essenciais.
Tiago Velasco caminha, com destreza, (e esta é outra virtude deste livro), por diferentes gêneros e formatos narrativos: da sátira de costumes (A morta de São José) ao tragicômico (Andrezza/ Ernesto); do nanoconto (Reflexo) à narrativa mais longa, que incorpora ao texto de forma suplementativa, os registros jornalístico, cinematográfico e publicitário, o autor traz uma escrita polifônica e sintonizada com as aflições do homem (pós-)moderno.
Por fim, temos Petaluma, o conto (também novela, também poema, também autoficção) que fecha e dá nome ao livro. Um restaurante em que cidadãos de todos os lugares do mundo vão trabalhar como busboys é o cenário em que se desdobrarão as seculares e ásperas relações de classe, atualizadas aqui pela condição contemporânea ultraglobalizada.
Metáfora da condição desterritorializada do homem hoje, e escrito com linguagem econômica, direta e cortante, Petaluma irá te desterritorializar; na medida em que ser tocado e em entrar em contado verdadeiro com o outro (experiência que Tiago nos proporciona) já é sair de si.
Skoob

LIVRO DE PARCERIA COM A OASYS CULTURAL