“A cidade uivava. Os gritos de desespero ecoavam pela névoa cinzenta que engolia os prédios, as ruas e os carros.”
É assim que se inicia a distopia A Torre Acima do Véu. Um ótimo começo que elevou minhas expectativas.
Uma névoa apareceu na megacidade Rio-Aires. Ninguém sabe de onde e o motivo, só se sabe uma coisa: a névoa mata. As pessoas desesperadas começam a procurar abrigo nos megaedifícios onde no topo a névoa não chega. Para surpresa de todos, alguns conseguem sobreviver a névoa… mas esses não são mais humanos. Com as veias do corpo inchadas e totalmente sem pelo, as criaturas só desejam matar e ficaram conhecidos como os Sombras.
Esse começo me empolgou bastante e só uma coisinha me fez desanimar um pouco com a obra… se passam cinquenta anos, as pessoas aprenderam a conviver com a névoa e uma pequena parcela das crianças que nasceram depois ganharam poderes. A questão dos poderes me desanimou porque se eles existem e a personagem principal é uma das premiadas, o livro é juvenil e eu esperava algo mais adulto. Não pude deixar de imaginar durante a obra as cenas sem os poderes e como seria uma situação mais pesada e uma distopia mais profunda. Bom, mas isso é pessoal.
A personagem citada é Rebeca, ou como prefere ser chamada, Beca. Ela é uma saltadora e tem uma grande força e agilidade nas pernas. Isso a ajuda muito nas missões que faz junto com seu pai Lion, um ex-mergulhador (nome dado as pessoas que mergulhavam na Névoa em missões) e o irmão Edu, um nerd que entende tudo de computadores. Essas missões são em grande parte para explorar tal área e pegar tal item que o cliente solicitou.
Beca e sua família moram no Setor 2 da Torre. Torre é o nome dado a organização fundada por Faysal, e agora comandada pelo filho Emir, que tem como objetivo manter a segurança para aqueles que vivem debaixo das suas asas. Os quatro setores da Torre são os mais seguros, mas viver neles tem um preço: obedecer e respeitar a Torre em qualquer situação. Quem não cumpre esse papel é exilado e está fadado a viver muito perto da névoa, o que tem suas consequências, além de ser atormentado pelos Sombras.
No começo nós acompanhamos Beca em algumas missões e assim vamos sabendo aos poucos detalhes sobre seu mundo. Ela acaba se metendo em uma missão maior do que parece e isso vai acabar a levando a descobrir segredos da Torre, dos Sombras e da própria Névoa. Além de conhecer e perder alguns amigos. Esse é um ponto positivo do livro: a morte está bem presente e nenhum personagem está a salvo. Conseguiu me pegar de surpresa algumas vezes.
A distopia presente é leve, típica de um livro juvenil, mas não decepciona. O mundo criado por Roberta é bem feito e podemos ver a dedicação da autora nas pesquisas para deixar o livro mais rico em detalhes. Uma coisa legal é que Beca é meio latina (a cidade Rio-Aires se manteve um mistério para mim, uma mistura entre Rio de Janeiro e Buenos Aires? Como?) e o livro conta com diversas palavras em espanhol, o que ajuda também a disfarçar os palavrões nos diálogos. Beca é uma personagem bastante humana e suas atitudes batem com seu modo de agir e sentimentos, o que nos faz sentir uma proximidade com a garota.
O livro termina com um clima de que teremos uma continuação, mas parece que não é necessariamente uma série. Os mistérios são solucionados e não fica nenhuma coisa realmente pendente. Parece que a continuação é para quem ainda quer permanecer no mundo de Beca e saber qual o destino da Torre e seus habitantes.
Se você é fã do gênero distopia, não deixe de ler A Torre Acima do Véu.
NOTA:
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Ficha Técnica:
Editora: Giz Editorial
Autora: Roberta Spindler
Origem: Brasileira
Ano: 2014
Número de páginas: 272
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