[Resenha] A Casa das Bruxas do H.P Lovecraft

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É quase um consenso de que o exemplar “A Casa das Bruxas” é o melhor livro de iniciação à mitologia lovecraftiana. Nesse livro, temos a seleção de 3 contos e uma novela. A novela, Nas Montanhas da Loucura – que abre o livro – é considerada o magnum opus do mestre do horror cósmico, tanto pelos fãs, como pelo próprio autor. Logo em seguida, temos a sucessão de três contos: A Casa Abandonada; Os sonhos na casa das bruxas (que dá título à antologia) e O depoimento de Randolph Carter.

a casa das bruxas

Na novela “Nas Montanhas da Loucura”, temos uma expedição científica organizada pela Universidade de Miskatonic que é enviada para a Antártida com o objetivo de coletar espécimes de rocha, vegetais e fósseis. A novela é narrada em primeira pessoa, pela visão de um dos cientistas, um geólogo (um dos únicos sobreviventes). No decorrer da trama, no entanto, nos deparamos com “n” empecilhos, e aos poucos nos vai sendo introduzido o clima de suspense: Somos então apresentados a seres alienígenas estranhos, com fisionomia e fisiologia beirando o inusitado. Somos então apresentados aos “Antigos” e consequentemente aos tão controversos “Mitos de Cthullu” (como a coisa toda ficou conhecida).

a casa das bruxas2O que incomoda, na novela, no entanto, são os extensos dados de longitude, altitude e coisas afins, como detalhes muito técnicos, jornalísticos, científicos e históricos, que Lovecraft acrescenta à trama para dar mais realismo à mesma. Não que isso seja errado, mas em certos momentos chega a ser deveras maçante, entrando um pouco em choque com o clima pré-estabelecido pelo autor, de suspense e horror. Nas Montanhas da Loucura é uma narrativa clássica do horror e da ficção científica.

Em suas páginas Lovecraft faz muitas referências diretas a outras de suas histórias, dando mais solidez e apoio à sua própria mitologia, unificando todo seu universo macabro, mesmo que não esteja compilada num único livro. Nas Montanhas da Loucura leva o leitor a conhecer indiretamente O Chamado de Cthullu e o famigerado Necronomicon – só pra citar os principais apresentados por meio dessa obra.

A história narrada em “Nas Montanhas da Loucura”, inspirou muitos outros enredos, seja de filmes, livros, HQ’s e tudo o mais. Como por exemplo, essa trama foi a principal influência para o filme “The Thing” de John Carpenter, “Hellboy” e quase tudo o que podemos imaginar se tratando de extra-terrestres, incluindo o próprio “Alien”. Além de ter fortemente influenciado o nosso autor brasileiro, Leonel Caldela, onde podemos visualizar essa influência tanto em “O Código Élfico” como principalmente na “Trilogia Tormenta”.

Os outros contos do livro, são bem mais curtos, mas nem por isso menos perturbadores. Vemos o autor explorar sua principal característica de narrar o inenarrável e descrever o indescritível, além de buscar “traduzir” de forma magistral todas as sensações e loucuras que se passam na mente de suas personagens. Um terror psicológico, pessimista e absurdamente cruel. É notável a quase ausência de diálogos na obra do mestre Lovecraft, sendo quase que impelido a descrever suas histórias como relatos, como documentos, bem diferente dos estilos narrativos comuns que conhecemos que nos lembram a todo instante que trata de uma obra ficcional – o que não ocorre com a obra lovecraftiana, pelo contrário: somos quase convencidos de que se trata de um relato verídico.

No segundo conto – A casa abandonada – temos uma casa “mal-assombrada” que enlouquece todos seus proprietários. Somos instigados a tentar imaginar as criaturas fantasmagóricas e ilusórias que Lovecraft nos apresenta nesse conto, um desafio ao mesmo tempo agonizante e doentio. No conto Os sonhos na casa das bruxas, temos o autor nos colocando no núcleo dos piores pesadelos e visões do jovem Gilman e a apresentação da criatura tétrica chamada Parducho e da sua dona, a bruxa Keziah Mason. Enquanto que no último conto – acho que o mais curto – e um dos mais eletrizantes, O depoimento de Randolph Carter, temos o melhor desfecho que esse livro poderia ter, onde o jovem que dá nome ao título, dá seu depoimento absurdamente inacreditável sobre o desaparecimento de seu companheiro Harley Warren: loucura, verdade? Quem poderá julgar?

“Digo mais uma vez: não sei do que foi feito de Harley Warren, embora pense – quase rezo para isso – que ele está em oblívio pacífico, se é que existe, em algum lugar, coisa bem aventurada.” (Pág. 251)

Considerações Finais

O exemplar que li faz parte da coleção “Mestres do Horror e da Fantasia”, da editora Francisco Alves e é uma espécie de raridade, que data de 1983 e só não seria perfeita, devida à baixa qualidade de tradução.

Nas Montanhas da Loucura toma quase 50% do livro e ainda sim, dada a sua complexidade, eu acho que deveria ser maior: mais bem elaborada e mais explorada em certos aspectos.

Em todos os contos, vemos a habilidade do mestre do horror, H.P Lovecraft em narrar o inconcebível e usar e abusar das descrições, de relatos tão palpáveis que são capazes de produzir e provocar sensações, dando mais ênfase e realidade à sua obra. Temos o suspense como protagonista em quase todos os contos, o que torna todas as histórias bem mais agonizantes.

Esqueça todas suas concepções sobre extra-terrestres e bruxaria – para ler esse livro – pois ele lhe apresentará uma série de perspectivas tão absurdas, inovadoras e principalmente… inenarráveis.

NOTA:

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Nome: A Casa das Bruxas
Título original: At mountains of madness and others tales of terror
Autor: H.P Lovecraft
Edição:

Editora:
Francisco Alves
Ano: 1983
Páginas: 259
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