Ontem sai de casa e fui à minha cidade natal. Muita gente fez isso, como salmões subimos o rio e voltamos ao lugar de origem, mas não para procriar. O dever do dia era o voto, a eleição dos representantes da nação pelos próximos quatro anos. O tão antecipado evento prenunciado por notícias, militância e debates, foi também bastante conturbado. Morte, indecisões, propostas alteradas, intolerância, memes e reviravoltas de última hora. E ainda não acabou.
No caminho, minha esposa no volante teve a vista obstruída algumas vezes ainda dentro da cidade, dificultando conversões e travessia de cruzamentos. Motivo? Os cavaletes com propaganda política, que apesar de ficarem em lugares sem tráfego de pedestres, tiram a visão do motorista em locais bastante delicados. Isso sem contar a ventania que teve na cidade no dia anterior, lançando vários em meio aos carros nas ruas.
Vencido esse primeiro obstáculo, encontramos próximo à escola onde voto as ruas cobertas por panfletos. Se espalhavam por todos os lados, de todas as cores e formatos. Um mulher passava de carro e, sem a menor cerimônia, lançava mãos cheias de papéis na via. Nós passamos sem dificuldade, mas a notícias de idosos se machucando em escorregões abundaram. E qual a outra utilidade dessa propaganda? Talvez apenas para o eleitor de última hora, preocupado apenas em não ter problema com a justiça eleitoral, que pega qualquer uma das colinhas pré-preenchidas e digita na urna para ir embora logo. Santinhos. Nunca entendi esse nome.
A votação é rápida e tranquila. Diferente das manifestações nas redes sociais, lugares tão propícios para debates e trocas de idéias de forma construtiva, mas que na maioria das vezes apenas servem para manifestações vazias. Pouca gente tem disposição para debater. O que mais se vê são posts simplistas ao extremos, comparações descabidas, afirmações frágeis, meias verdades e justificativas que podem ser derrubadas com uma rápida argumentação bem embasada. Em sua maior parte, soam apenas como provocações com as quais prefiro não perder meu tempo.
Voltando pra casa, alguns não entendem meu voto. Que não foi, álias, voto de protesto, e sim voto de propostas. Como seria o processo eleitoral caso todos realmente parassem para analisar com calma as propostas de cada candidato? É questionável o quanto isso mudaria as escolhas de sempre mas com certeza muita gente votaria de forma mais consciente. Meu candidato não ganhou mas não me arrependi. Ao menos não votei naqueles que empurram problemas com a barriga para lidar com eles depois da eleição. Não votei em políticos previamente exonerados em desonra de seus cargos. Não votei em extremistas intolerantes nem em carreiristas de uma vida inteira no plenário, preocupados apenas em se manter no poder, por não saber fazer mais nada da vida.
Quando apertei o botão confimar pela última vez, me senti satisfeito com minhas escolhas e com minhas posições, ainda que desiludido fiz minha parte da melhor maneira que pude, sem alarde, sem selfies na urna e sem arrependimentos. Em vinte dias tem mais.