[Resenha] Último Tango em Paris – Robert Alley

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Olá, leitores queridos. Trago para vocês neste post de hoje a resenha de um dos meus livros preferidos, precisava [re]ler e compartilhar com vocês as sensações que esta obra me trouxe [e traz até hoje]. Li Último Tango em Paris em meados de 2006, na época eu ainda não sonhava em ter blog, mal usava a internet, e foi uma leitura bastante agradável, desprendida e cheia de curiosidade, por se tratar da indicação de um amigo, que me emprestou o livro e não me deu tantos detalhes acerca da história, dizendo apenas que foi um livro baseado em filme [sim, o contrário] dos mais polêmicos e famosos da carreira de Marlon Brando… Então resolvi ler [e hoje tenho minha própria edição]…

Último tango em parisEdição: 5
Editora: Editora Civilização Brasileira
ISBN: 0
Ano: 1982
Páginas: 184
Tradutor: Fernando de Castro Ferro

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Baseou o filme “Último Tango em Paris”, dirigido por Bernardo Bertolucci e estrelado por Marlon Brando.
Em Paris, um dono de hotel estadunidense viúvo e de meia-idade encontra uma jovem mulher em um apartamento vazio.

O casal se envolve numa relação puramente sexual, na qual nem os nomes são ditos.

A história é sobre um homem chamado Paul que perdeu sua esposa recentemente, ela se suicidou no hotel que eles administravam. E fala também sobre Jeanne, uma jovem garota noiva de um cineasta, que está a perambular pelas ruas parisienses, meio inquieta, deixando-se levar pelo ar decadente da cidade rumo a lugar nenhum em específico… Eles nunca tinham se visto ou sequer ouvido falar um do outro, e entre tantas dezenas de pessoas passando pela rua, algum fio do destino resolveu entremear a vida de ambos… 

“Duas das pessoas que cruzavam a ponte, movendo-se na mesma direção, já estavam unidas pela cadência mútua, embora nem mesmo o suspeitassem, embora nem sequer se conhecessem, não podendo, até, explicar esta curiosa conjunção de tempo e de circunstância que as aproximara uma da outra. A ponte, o dia, o céu de Paris e as condições da sua própria existência significavam, para cada uma delas, algo de inteiramente diferente ou, talvez mesmo, nada. Na verdade, qualquer possibilidade de um encontro teria parecido verdadeiramente infinitesimal.” 

Parecendo vagar sem rumo, os dois desconhecidos acabam indo parar no mesmo lugar, um prédio decadente e suburbano, a fim de olhar um apartamento. Cada um tinha razões distintas sobre o imóvel e eis que eles acabam se encontrando [novamente] frente a frente nesse apartamento, depois de pegarem a chave com uma mulher na portaria não muito envolvida e atenta às pessoas que frequentam o tal prédio… 

” – Quem é você? – perguntou ela, apavorada e procurando dominar-se, enquanto recuava lentamente em direção à porta. – Você assustou-me, – acrescentou, falando no tom mais calmo que lhe era possível, mas não tardou a reconhecer o homem que encontrara na ponte. – como é que você entrou? – Pela porta. A sua voz era profunda e vibrante. Falava o francês com um sotaque estrangeiro, com dureza e um aparente desprezo pelo idioma.” 

Após alguns minutos de diálogo, a tensão parece crescer dentro daquele ambiente sufocador… Os dois estranhos se analisam mutuamente, e logo percebe-se no ar a atração que emana de um para o outro. O desfecho parece inevitável…

“Suas palavras pairaram no ar como se fosse num convite. Paul chegou junto dela num segundo, tomando seu rosto nas suas possantes mãos e beijando-a na boca. […] nenhum som chegava junto deles, a não ser o de suas próprias respirações. Pareciam suspensos no tempo, tal como a beleza desgastada da sala, isolados do mundo e das suas próprias vidas em separado. […] Ele tinha em si um odor […] que ela não podia identificar, mas que era mais masculino do que o cheiro característico de qualquer outro jovem que ela conhecera, algo que, na realidade, a excitava ainda mais.” 

A narrativa do autor Robert Alley é carregada de volúpia e deixa o leitor amarrado a cada parágrafo, impossibilitando quem segura o livro nas mãos de ter outra reação que não a de continuar a leitura de maneira frenética e instigante… Ao menos a blogueira que vos fala teve essa sensação…

“Agarraram-se um ao outro como animais. Jeanne subiu pelo tronco do seu corpo, apertando os quadris de Paul com seus joelhos, abraçando seu pescoço como uma criança perdida. Paul encostou-a contra a parede e entrou mais profundamente nela. Durante alguns instantes, lutaram confusamente, como se em combate, mas depressa chegaram a um acordo e começaram laborando em conjunto. Seus corpos avançavam e recuavam como componentes na mais íntima das danças. O ritmo tornou-se mais frenético, com o mundo esquecido e tudo o mais sem significado. Paul e Jeanne arquejavam e soltavam exclamações surdas, embatendo violentamente contra a parede que protegia sua paixão. Finalmente, mergulharam para lá das origens do seu próprio esforço, morrendo gradualmente e sem remorsos sobre o dilacerado tapete cor de laranja. […] Minutos antes, tinham-se juntado na mais carnal das uniões e, agora, já fora dos confins do apartamento, mostravam-se tão distantes quanto completos desconhecidos.”

Nos capítulos seguintes passamos a conhecer os protagonistas desse tórrido ‘romance’ de forma alternada. Ora descobrimos mais sobre a vida futura de Jeanne que está às portas de um casamento tradicional e sem muita paixão, pois seu noivo Tom vive às voltas com sua equipe de filmagens, sonhando acordado com as tomadas e ângulos de sua câmera, sem preencher a vida de sua noiva com a paixão luxuriosa que ela encontra no apartamento com Paul.

E conhecemos a angústia de Paul em ter encontrado sua esposa morta na banheira de casa, sequer um bilhete deixado por Rosa a fim de explicar o porquê daquilo. ter que lidar com a sogra que está cuidando do funeral da filha, a convivência com os seus inquilinos, entre eles um casal negro, em que o homem toca saxofone… Importante ressaltar que a trilha sonora do filme, com a direção de Bernardo Bertolucci, é do músico Gato Barbieri [clique aqui e confira a trilha], jazz com pitadas de tango do começo ao fim, deixando o filme ainda mais primoroso, a trilha sonora dá o toque de sensualidade que embala o casal protagonista, interpretado por Marlon Brando e Maria Schneider.

Sem contar a polêmica com a cena da ‘manteiga’ que foi um furo na época que o filme foi lançado, sendo vetado em vários países, incluindo o Brasil, pois alegaram um desrespeito com a instituição da sagrada família, além das fortes cenas de cunho sexual e nudez apresentadas, e pelo teor ‘herege’ dos diálogos dos personagens, sobre sexo, moral e igreja…

Voltando ao livro, essa polêmica também ocorreu com a publicação, claro. Porém, de forma menos explícita que no filme. Mas não pretendo contar os detalhes dessa parte da ‘manteiga’ e demais cenas ‘imorais’ e deixo que vocês descubram por si mesmos ao lerem/verem a história… Os diálogos do casal são esquisitos, com assuntos que perturbam Jeanne, Paul é um sádico que gosta de deixá-la de ‘sobreaviso’, há momentos em que ele age como se fosse matá-la e deixar seu corpo abandonado naquele apartamento caindo aos pedaços… E ninguém saberia de nada caso o crime realmente ocorresse, mas ele de fato não quer matá-la, apenas assustá-la, pois se diverte com o medo nos olhos de Jeanne. As emoções afloradas dela o excitam, meio que uma válvula de escape para o pesadelo de sua vida que ele deixa na porta do prédio, e só o recolhe de volta quando vai embora…

Um fato bem peculiar é que em momento algum eles sabem de suas histórias, sequer seus nomes são ditos. Jeanne até tenta certa vez contar algo de si mesma, mas Paul sempre a retrai, enérgico. Eles são perfeitos estranhos, compartilhando fluídos e não sabem seus nomes, idades, endereços… É como se naquele apartamento eles deixassem de existir para o mundo lá fora, e ali só houvesse a união sexual que conecta ambos…

“Não se tocavam, agora, mas ambos tinham a perfeita consciência do corpo do outro, da sua proximidade e da intrigante possibilidade. Esse era, na realidade, o elo que havia entre eles.”

O apartamento era um refúgio para Paul e Jeanne, um homem de meia-idade, viúvo e perdido em solidão e Jeanne, uma garota presa a conveniências, a um futuro ‘seguro e metódico’ mas sem emoção… Ele, 45 anos, ela, vinte e poucos, compartilhando do cheiro de mofo de um prédio velho, pouco visitado e habitado, numa rua do subúrbio da rica cidade parisiense. Art Nouveau estampando as ruas daquela parte antiga da cidade, o cinema dos anos 70 pela câmera de seu noivo e uma chama de prazeres sem obrigações futuras com aquele desconhecido… O instante vivido transformado em eterno, até o momento em que ambos saem da ‘redoma reconfortante de sexo e entrega dos corpos’. Paul, que de início repugnava a possibilidade de conhecer o mundo externo de Jeanne, começa a enxergar uma vida fora do apartamento com ela, e nesse momento, Jeanne começa a enxergar os defeitos daquele homem, de cabelos quase brancos, com o peso da idade sobrepondo-se entre eles, além de outros fatores… Fora do apartamento, o encanto esvaneceu…

Sentindo-se perseguida pelas ruas e becos de Paris, eles ainda dançam uma última música, um Último Tango, até o desfecho surpreendente que os aguarda… 

“-Eu sou eu, você é você. Eu e você. Sem nome, sem profissão, sem vínculo nenhum com a vida aqui fora. Nós dois.”

NOTA

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