[Resenha] Rani e o Sino da Divisão – Jim Anotsu

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Rani é uma adolescente de 15 anos que tem uma banda de punk death metal com a melhor amiga Marina. Ela teve sua vida mudada para sempre quando avistou um estranho garoto fluorescente no cemitério próximo à sua casa. A partir daquele momento ela descobriria que há mistérios que não podem ser explicados pelo Monstro do Espaguete Voador ou pelo Deus Metal. Vampiros, lobisomens, demônios e xamãs invadem sua vida para nunca mais sair, e maiores e mais incríveis descobertas estavam por vir. Ela é uma xamã e um certo Aiba quer matá-la. Aiba também é um xamã, que percorre o mundo matando seus semelhantes na intenção de destruir a música das esferas e libertar o Grande Espírito, que expurgaria a humanidade do mundo. De certa forma, as intenções de Aiba me lembraram do Rei Rubro da série Torre Negra, de Stephen King, em sua ânsia por destruir a Torre devolvendo o mundo ao Caos Primordial.

Felizmente Rani não vai precisar enfrentar tudo isso sozinha, pois será auxiliada e introduzida nesse mundo de magia e seres sobrenaturais pelo grupo auto denominado os Animais de Festa: o vampiro Pietro, que é o adolescente fluorescente do começo, sua irmã Valentina, o demônio filho de Lúcifer chamado Tales e  o lobisomem cientista Fred, além de muitos outros aliados que surgem no decorrer da jornada.

A trama se desenrola em capítulos curtos de em média 4 páginas, o que torna a leitura dinâmica e rápida, sendo fácil pausá-la sem ter que parar um capítulo no meio. A narrativa é feita pela protagonista, e prepare-se para uma enxurrada de referências musicais, literárias e televisivas que compõe os conteúdos que Rani consome. Muito metal melódico, Dr. Who, Duna, Star Wars, etc. É tanta, mas tanta coisa, que fica até difícil listar. O legal disso é que o Jim escreve de uma forma que não fica forçado, em nenhum momento isso se torna massante ou você pensa que o autor está plantando milhões de referências só pra ser cool. É uma adolescente falando de sua vida e misturando isso tudo com seus hobbies e coisas que gosta, por isso fica bastante natural. Divertido também é notar, além das referências diretas e nomeadas, as mais sutis escondidas no texto, e não há melhor exemplo do que o próprio título do livro, que remete diretamente ao álbum The Division Bell do Pink Floyd.

Outros exemplos são nomes de capítulos, como um que se chama “O Corredor da Desolação” (Bob Dylan, anyone?), ou uma nota quando o avô tenta lhe dar um conselho amoroso e ela comenta: “Você não sabe de nada, Jon Snow”. Uma citação nessa pegada que eu achei muito legal foi essa, quando dizem à Rani que ela está atrasada e ela responde:

“Uma xamã nunca se atrasa ou se adianta, ela chega exatamente quando tem de chegar.”

Também curti demais esse trecho com outra citação velada muito bem feita:

“Eu havia passado minha vida inteira com os pés bem firmes no chão, com os meus All Stars que nunca se detiveram para o impossível; mas o impossível gentilmente se detinha para mim agora. Em um breve e estranho momento, o mundo se tornou diferente, como se de repente eu me descobrisse vivendo em um planeta em forma de disco vagando pelo espaço nas costas de elefantes sobre uma tartaruga gigante. Um sentimento novo brotava em mim, uma mistura de curiosidade com algo sem nome ou forma.”

Exemplo de anotação no livro
Exemplo de anotação no livro

Ainda no departamento de início de capítulos, além dos nomes que são muito legais, Jim dá um show ao colocar, antes de cada capítulo, a citação da uma música cuja letra se encaixa com a história apresentada. É normal ver isso no começo do livro, ou mesmo antes de cada parte, mas eu nunca havia visto uma citação para cada capítulo, especialmente para um livro com um número elevado de capítulos como esse.

Outro ponto que merece destaque são as notas. Rani narra a história como se estivesse contando para alguém ou escrevendo num diário, e quando quer fazer uma adição ou anotação no texto, faz exatamente isso! É um show de diagramação, uma setinha sai do texto e tem o desenho de uma caixa com um fonte mais despojada, como se fosse uma anotação mesmo. Outro ponto legal é a criatividade do Jim que vai muito além do texto e do enredo.

Temos muita coisa diferente nesse livro, páginas entre capítulos com conteúdo extra ou mesmo interativo, como um teste para descobrir à qual facção sobrenatural o leitor pertence (Animal de festa! o/), o fac-símile de um folheto que eles entregam à população sobrenatural em certo momento, o set list de um show realizado por Rani e Marina, enfim, tanta coisa nesse estilo que é muito divertido de ler e adiciona uma camada extra de profundidade na história, provendo-a com mais verossimilhança, por mais fantástica que seja.

Aliado a tudo isso e ao texto bem escrito e de agradável leitura do Jim, temos um Lúcifer que possui em sua morada pinturas de Romero Brito e uma estátua de Adam Sandler, uma casa maior por dentro e com personalidade marcante, Dom Pedro II e amazonas montadas em dinossauros! Precisa dizer mais? Vai ler!

NOTA:

Avaliação: 5 Selinhos Cabulosos

 

Ficou interessado(a)? Então compre o livro:

 

Editora:  Gutenberglogolucas_vectorized (1)
Autor: Jim Anotsu
Origem: Brasileira
Ano: 2014
Número de páginas: 320

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