[Mangá] Henshin Mangá – Os vencedores do BMA

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Pra quem não sabe, BMA é a sigla de Brazil Mangá Awards, o primeiro concurso de mangás realizado pela JBC com o intuito de descobrir e divulgar autores brasileiros. O Henshin Mangá é uma antologia com cinco histórias, os cinco vencedores do concurso. Eles foram avaliados pelos jurados: Fábio Yabu (autor de Combo Rangers), Cassius Medauar (gerente de conteúdo da JBC), Arnaldo Oka (tradutor) e a professora Sônia Luyten (especialista em mangá da academia brasileira). Essa publicação faz parte do selo Ink Comics, voltado para os quadrinhos nacionais.

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Então vamos agora às histórias dos vencedores pela ordem em que foram publicadas:

Quack – Kaji Pato

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Depois de uma pequena confusão onde achei que o personagem do mangá, o humano Baltazar, se chamava Quack por causa do modo de falar de Colombo o Pato, comecei minha leitura. O humano e o pato são melhores amigos que vivem zoando um ao outro e também vivem diversas aventuras. Dessa vez eles caíram em um local exótico com ambiente e criaturas diferentes.

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Com Quack não há um objetivo certo, eles caíram de avião em um local diferente, começam a explorar o local para procurar combustível, mas a procura é esquecida e eles partem em buscam de aventuras por si só. A aventura dos dois é recheada de humor (e esse foi o gênero mais abordado na maioria das histórias do volume) com um clima nonsense também. O inimigo que surge para confrontá-los é hilário e foi um ótimo começo. Claro que como é uma história curta, você fica com a impressão de que faltou alguma coisa. Aliás em todas as histórias temos um gostinho de “quero mais” com relação ao local onde a história se passa, o mundo, os personagens. Quack é o tipo de história para quem não tem preconceito contra o humor escatológico e ainda gosta de uma história com personagens e acontecimentos sem noção.

Crishno: O Escolhido – Lielson Zeni (roteiro) e Francis Ortolan (arte)

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Crishno pode ser a história que vai fazer você torcer o nariz por causa do traço, mas eu digo: siga em frente. É uma história bem humorada que brinca com o clichê usado em tantas histórias: a questão do Escolhido. Fugindo de monstros árvores, que não tem a sua origem explicada na história, Crishno é raptado por aliens, seres superiores, que dizem que ele é o escolhido conforme está escrito na ~Profecia~ para salvar a humanidade. Crishno então aceita seu destino e parte para lutar contra os monstros. Monstros esses que rendem uma página dupla, a primeira do volume que te faz parar um pouco antes de virar a página.

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Como já dito, a história é irônica com seu tema, por isso o final é bem divertido. Fiquei querendo saber mais, quem são os monstros árvore, como surgiram, etc.

(Re)Fábula – Ivys Danillo (roteirista) e Breno Fonseca (arte)

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Como o próprio título diz, a história é uma re-fábula da origem do horóscopo chinês, onde Buda convidou todos os animais da criação para uma festa de Ano Novo, prometendo uma surpresa a cada um dos animais. Apenas doze animais compareceram e ganharam um ano de acordo com a ordem de chegada. Na (Re)Fábula temos uma corrida com o prêmio de um ano com seu nome para os doze animais que chegassem primeiro. No caminho, acontece um desentendimento entre o Gato e Rato e eles se tornam inimigos pra vida toda. Depois de muito tempo uma nova corrida começa, só que as contas serão acertadas humanamente.

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Assim que li (Re)Fábula pensei que seria minha história favorita da coletânea. Não foi por causa de Starmind, mas gostei bastante tanto da história como do traço. Vemos a luta entre Gato e Rato e parece mesmo com uma luta de mangá, com poderes, transformações (lembra um pouco Naruto), etc. Esse também tem uma página dupla no clímax da luta muito boa. Fiquei com muita vontade de ver uma história maior e mais bem elaborada desses autores.

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Entre Monstros e Deuses – Pedro Leonelli e Dharylia

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Louvre (que é um homem e eu só fui perceber que era realmente um homem lá pela metade da história) é um pintor que restaura templos e por restaurar entenda apagar os vestígios dos deuses antigos e cobri-los com novos. Infelizmente achei essa história um tanto confusa. Louvre encontra uma noviça que é seguidora da antiga deusa e Louvre também encontra essa antiga deusa. Com o final da história eu não entendi se Louvre teve um relacionamento amoroso com essa noviça ou se foi apenas uma amizade, porque não foi aprofundada a relação entre os dois e não sei explicar realmente o que aconteceu. Foi a primeira vez que concordei com os críticos: a história podia ser melhor explicada.

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Starmind – Toppera TPR e Ryot

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Tudo começa com Artie, um menino que tira notas ruins da escola e quer ser inteligente. Ele faz um pedido para uma estrela cadente e para surpresa de todos (menos a nossa) seu pedido é realizado e ele se torna o Mente Estelar ou Starmind.

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Starmind é sem dúvidas a melhor história da coletânea. Tem um traço bem feito e marcante além de ser recheado de humor. Starmind sai por aí dando porrada em todo mundo porque essa é a forma de passar inteligência a todos até encontrar Hobo (sim, um mendigo) que tem o lema de “Ignorância é uma bênção” e que gosta de ser burro. A batalha entre os dois então se inicia.

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É bem fechada com um final que me agradou. É uma história que você tem certeza do porquê ela ser escolhida como uma das vencedoras.

Considerações Técnicas

Henshin Mangá conta com 180 páginas e cinco histórias, sem páginas coloridas e papel pisa brite 52g e é vendido tanto em bancas quanto livrarias pelo valor de R$ 11,50. No final de cada história temos um espaço para os autores comentarem a experiência da publicação e também a opinião dos críticos.

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Essa coisa da crítica eu só não gostei de algo: em praticamente todas as histórias era dito que “poderia ter desenvolvido melhor e explicado melhor”, mas a regra do concurso pedia no máximo 32 páginas e isso, vamos combinar, é pouco para fazer uma história totalmente fechada com drama, humor, romance, coisas que normalmente permeiam as páginas de mangás. No Japão, por exemplo, isso é feito com os oneshots que tem de 15 a 90 páginas e normalmente são capítulos fechados que porventura se tornam séries. Muitos títulos famosos começaram assim e recentemente li o oneshot que deu origem a One Piece e não foi lá super ultra explicado o mundo nem aprofundada a história dos personagens, porque o oneshot sempre quer deixar aquele gostinho de quero mais para que posteriormente se transforme em uma série. Bom, é a minha opinião, não sou uma crítica formada em mangás que trabalhou com isso a vida toda, mas falar que um oneshot poderia ser “mais completo” não é plausível.

Não sei se vocês perceberam pelas imagens, mas o Henshin tem leitura ocidental, ou seja, não é de trás pra frente. Demorei a perceber isso (peguei o volume pra ler e abri na última pagina) e mesmo quando percebi demorei pra me adaptar. É o costume xD

Uma coisa que fiquei em dúvida foi com relação aos vencedores. Parece que não teve colocações como primeiro ou segundo lugar, mas os críticos do Starmind disseram coisas como: O vencedor do BMA, o campeão, etc. Então temos a impressão de que Starmind ganhou o primeiro lugar, mas… e o restante? Quem vem em segundo lugar? Se for pela ordem de publicação é Entre Monstros e Deuses seguindo a lógica de que a publicação foi do quinto ao primeiro lugar. Porém na capa a colocação é outra, trocando o 4º e o 5º lugar. Fiquei confusa em qual devo seguir ‘-‘

Dou meus parabéns a JBC pela iniciativa de divulgar autores brasileiros. Isso é extremamente bom para o mercado. Terá sim um outro concurso onde será lançado outra coletânea no final do ano que vem, essa é a oportunidade pra você que gosta de mangás, gosta de desenhar ou escrever e gostaria de ter uma história sua publicada e ainda não tinha a mínima ideia do BMA. No final do volume temos duas novidades, o anúncio dos próximos lançamentos do selo Ink Comics: Combo Rangers 2 em dezembro e o álbum de tiras Robô Esmaga do Alexandre Lourenço.

Ficou também a dúvida: teremos mais desses autores? Histórias maiores? Eu gostaria e compraria 😀

E chegamos ao fim dessa enorme resenha da primeira edição do Henshin Mangá. Se você gosta de mangás, compre. Se você quer incentivar o mercado brasileiro de mangás, compre. Ou melhor, compre de qualquer jeito.

NOTA:

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Publicado por: Editora JBC (Selo Ink Comics)
Valor: R$ 11,50 com 180 páginas
Distribuição: Nacional em bancas e livrarias
Autores: Toppera TPR e Ryot (Starmind), Pedro Leonelli e Dharilya (Entre Monstros e Deuses), Nameru Hitsuji (ReFábula), Francis Ortolan e Lielson Zeni (Crishno o escolhido)