por Andrey Lehnemann
Venha comigo, disse-me o menino. Vou lhe mostrar o bosque. Era escuro. Não parecia um bosque. As madeiras eram secas, mas com indicativos de uma possível umidade em algum momento. Parecia que o tempo não havia passado para elas, entretanto. Nem para o garoto, que mais sugeria um sábio. Merecia ser tratado com respeito. Não sei sua altura, mas era pálido. Voz embargada. Sujo. Acho que ele não sabia de sua existência. Servia como um peão do bosque. Outra criatura dominada. No fundo, eu vi uma clareira, mas desviamos do caminho. Levou-me até um acampamento, o qual serviria de morada pelos próximos tempos. Um familiar me perguntou uma vez como uma pessoa poderia se suicidar por asfixia. Ao chegar no acampamento e ter a sensação que faz sua garganta ficar estática não é difícil imaginar. A morte é uma dádiva no bosque. Os colegas são enterrados com uma sensação de perda enorme, uma batalha perdida, mas esperada. Não existia outra coisa para aqueles que estavam lá. Uma vez no bosque, você era do bosque. Poderia vagar por ele, alimentar a clareira, mas nunca sairia da trilha. Não dava para amar o bosque, obviamente. Nunca conheci alguém que o amou. Todos o odiavam, mas não sabiam como sair. Quem dizia o amar, não o conhecia. Só havia ouvido a respeito. Quando você precisar vomitar por não conseguir expressar sua dor ou chorar abraçado a um vaso sanitário imundo, que só existe naquele local degradante, você poderá dizer que se sentiu próximo do bosque. O bosque não é exclusivo, mas é seletivo. É universal, mas não de fácil acesso ou gratuito. Difícil chegar, e impossível sair. A primeira vez que estive aqui foi em 2010. Quatro anos atrás. Não saí desde então. Os olhos se acostumam a escuridão, mas o coração não.