Deitaram no chão e percorreram todo assoalho com o olhar. Verificaram a geladeira de água ao fundo. Talvez tivesse caído lá dentro ao pegar um copo mais cedo. Reviraram o banco novamente, até terem certeza que nada se encontrava nos esconderijos de suas reentrâncias. Sem sinal. Também não estava no porta bagagens. Lembrou-se de ter usado o banheiro, mas lá não havia nada, nem mesmo no lixo.
Mas que porcaria! Tinha fugido, a danada da aliança. Escapara do seu dedo e se lançara ao mundo. Já havia lido isso em algum lugar, mas sabia que na verdade era tudo culpa do frio. Sempre que estava frio, seu dedo anelar se afinava ligeiramente, e a aliança escorregava com facilidade. Tinha caído dessa forma, sabe-se lá onde. Olhando o chão mais uma vez notou umas grades que davam no bagageiro abaixo.
E lá foram eles. Desceram do ônibus e, bagageiro aberto, se enfiou em seu interior e vasculhou o local. Nada. Já estava quase se conformando em chegar em casa e contar a mulher sobre a perda. Não seria legal. Jocosamente o amigo lhe ofereceu o quarto de hóspedes para aquela noite. Não lhe pareceu uma ideia tão ruim.
Duvidava que ela fosse acreditar que perdera o anel enquanto dormia. Ia levar cara feia por semanas, e cinco anos depois, numa discussão não relacionada, ainda seria lembrado da perda. Certeza. E posteriormente teria que comprar outra. Mas não só a dele. Claro que não. Iam aproveitar para trocar o par, obviamente. Ô dureza.
Sem qualquer esperança, resolveu verificar na mochila, afinal tinha guardado uma blusa nela. Tirou tudo de seu interior, agasalho, guarda-chuva, carteira e caderno, e lá no fundo, escondidinha e brilhando sob a luz do celular estava ela, a safada! Foi invadido por um alívio gigantesco quando a recolocou no dedo, pensando se não seria mais seguro pendurá-la numa corrente em volta do pescoço. Mas não. A esposa não ia gostar.