Por Lucas Rafael Ferraz
Madrugada. Sento-me à mesa para comer uns pães de queijo que sobraram do domingo. Está frio e tenho sono, mas em vinte minutos o fretado passa em frente de casa. Que desanimo dessa segunda-feira, mais um dia, mais uma semana. Mais do mesmo. A diferença é o gato miando na janela do banheiro. Esse Tevildo é fogo.
O banheiro tem uma janelinha que dá pra lavanderia, local onde o gato dorme. No dia anterior ele aprendeu a subir no beiral dessa janelinha, ficou em pé e enfiou a cabeçona pra dentro enquanto eu tomava banho. Foi um puta susto, mas muito engraçado. Agora ele está lá, na janela onde adorou subir, miando sem parar. Ele me escuta todo dia cedo e faz isso. Quer carinho e um pouco de ração.
O ignoro e continuo a comer quando ouço um grande barulho e o gato surge cambaleante ao meu lado. Danado! Pulou da janela por cima da porta de vidro que divide a lavanderia da cozinha. E agora? Aprendeu a sair do cafofo, dificilmente teremos paz em casa novamente desse jeito. E caiu dentro de um balde com água. Eu, já atrasado, saio de casa e deixo a esposa com a irritante tarefa de enxugar o chão e mudar o gato para o box do banheiro naquele horário ingrato.
Já no fretado, com o sono abalado pelo transtorno felino e entre pequenas cochiladas, penso que baldes de água parecem estar em todo lugar hoje em dia. Alguns tem gelo e são jogados sobre as cabeças dos desafiados em defesa de uma nobre causa. Sem ironia, veja bem. A causa realmente é nobre e não duvido que o desafio gere engajamento, mas não simpatizo com o movimento porque exalta o egocentrismo humano que não consegue doar para uma causa em silêncio, mas antes tem que se mostrar nas redes sociais fazendo uma estupidez dessas, sendo que pelas regras quem faz o desafio doa dez vezes menos. É egocentrismo e pão-durismo, que me gera dúvidas se todos que o fazem realmente doam depois ou se tudo se resume a um espetáculo exibicionista, um grande oba-oba digital.
Cochilo novamente e acordo com um pequeno susto. Sonhei com água me caindo pela cabeça e escorrendo gélida pelo corpo. Perdendo novamente o sono, conjecturo sobre os baldes de água fria no sentido figurado, como o que tirou um presidenciável da campanha de forma abrupta e cruel derramando o malquisto líquido sobre o partido político e com mais força ainda sobre sua esposa e cinco filhos. Entretanto o aspecto mais revelador desse caso é outra uma vez sobre a natureza humana, que inundou a internet com observações do tipo “podia ter sido fulano” ou com especulações políticas poucas horas após a confirmação da tragédia, momento apropriado apenas para consternação e respeitoso silêncio sobre assuntos eleitorais. Isso para não falar das selfies em frente ao caixão, o que nos leva novamente aquela história do exibicionismo desmedido e despropositado.
Sinto as pálpebras pesarem. É muito cedo para tais conjecturas de cunho filosófico. O cansaço das pouca horas de sono finalmente se sobrepõe à injeção de energia provida pelo susto dado por Tevildo com sua peripécia desajeitada. E, pensando bem, o quase banho do gato é o menor dos males atuais envolvendo baldes de água. Literais ou figurados.


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