Edição: 1
Editora: Bestbolso
ISBN: 9788577990252
Ano: 2007
Páginas: 532
Tradutor: Tati Moraes
A história verdadeira deste homem que enfrentou perigos inacreditáveis e sacrificou tudo o que possuía, colocando em jogo a própria liberdade, para salvar mais de mil pessoas.
Partindo dos testemunhos dos Schindlerjuden – os judeus de Schindler -, Thomas Keneally compôs um romance notável e comovente, que retrata a coragem, a generosidade e a perspicácia de um herói em meio às cinzas do holocausto. Escrito com paixão, mas também com absoluta fidelidade aos fatos, A Lista de Schindler valeu a seu autor o cobiçado Prêmio Booker, da Inglaterra. Levado às telas com grande sucesso por Steven Spielberg, foi eleito o melhor filme de 1993 pela Associação dos Críticos de Nova York e de Los Angeles.
Há poucos anos, tive a oportunidade de assistir A lista de Schindler, filme que passava sempre na TV quando eu era pequena mas que nunca tinha tido a chance de ver. Quando descobri que ele foi inspirado na obra de Thomas Keneally, fiquei bem interessada em conhecer a história lendo o livro. E eis que um aluno me fala que viu o livro na prateleira das Americanas, lógico que corri pra comprar meu exemplar. Foram mais de 500 páginas, carregadas de intensidade e de um relato primoroso sobre um personagem que salvou centenas de judeus do terrível Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial.
Oskar Schindler era um industrial alemão, que conseguiu fortuna desde cedo e por alguns fatores acabou membro do partido nazista. Embora não compactuasse com a ideologia do partido, de ‘limpar’ a Alemanha dos ‘malditos judeus’, ele lucrava com sua fábrica de esmaltados, e contribuía com o Partido. O livro começa falando sobre a origem de Oskar, de como ele enriqueceu, suas relações com pessoas influentes na Alemanha e posteriormente, de como ele arriscou a própria vida para impedir que vários judeus que trabalhavam em suas fábricas fossem levados nos trens de gado rumo a morte nos campos de concentração poloneses.
O seu mais competente e leal funcionário era judeu, e como conhecia as diversas famílias judias que tentavam em vão escapar dos nazistas, acabava levando-os para a fábrica para trabalharem como ‘mão-de-obra especializada’, como Oskar se referia a eles quando as vistorias dos soldados alemães colocavam os olhos nesses funcionários, a fim de matá-los ou prendê-los. Schindler sempre defendia os seus empregados, fingindo que não se importava com seus destinos, mas que seria de grande prejuízo para suas fábricas e para o país desperdiçarem mãos treinadas para fabricar os produtos de sua indústria.
A verdade é que diante de tantos horrores que Schindler presenciava por parte dos soldados nazistas com os judeus, ele utilizou de várias artimanhas para comprar a vida dessas pessoas, e se desesperava quando perdia algum, eventualmente. Diferente dos demais nazistas, ele tratava com respeito os seus funcionários, lhes dava uma alimentação [embora difícil de se obter em tempos de guerra] adequada, e seus funcionários não passavam privações. Logo os boatos sobre as indústrias de Schindler se tornaram a esperança dos judeus em tentar uma vaga para trabalho, pois sabiam que seria um salvo-conduto enquanto a guerra prosseguia, e com seu fim, quem sabe eles poderiam escapar do exterminio.
Confesso que achei que ia chorar bastante lendo o livro, pois o filme tem passagens que me deixaram com um nó na garganta. Mas não chorei ‘de me acabar’ durante a leitura. Isso não torna o livro ruim ou pior que o filme de maneira alguma, mas quando lia algum trecho e lembrava daquilo no filme, me sentia desconfortável… Um dos grandes momentos do livro é retratado nessa imagem abaixo, no filme… Essa criança tentava fugir dos soldados que estavam conduzindo alguns judeus para os trens de deportação, e desesperado, ele pula nas latrinas para se esconder… O olhar desse menininho me deixou perturbada por dias após ter visto o filme, e quando lia o livro e cheguei nessa passagem, fiquei imaginando a cena, que se recriava em minha mente durante a leitura… Nunca vou esquecer a tristeza e desesperança nos olhos desse menino… Essa entre outras passagens são cruéis, desumanas e deixam o leitor com uma sensação de revolta, que aumenta progressivamente a cada nova atrocidade cometida contra o povo judeu.
“As longas instalações das latrinas ficavam atrás do campo dos homens e, ali chegando, o menino passou por cima da tábua em que os homens se sentavam para defecar. Com um braço de cada lado da fossa, ele foi descendo e procurando encontrar apoio para os joelhos e os pés. O mau cheiro deixava-o engasgado e moscas invadiam-lhe a boca, ouvidos e narinas. Ao chegar a um espaço mais amplo e tocar no fundo da fossa, pareceu-lhe ouvir o que supôs ser um murmúrio alucinatório de vozes acima do fervilhar das moscas. “Eles estavam atrás de você?”, perguntou uma voz. E outra respondeu: “Que diabo, este lugar é nosso!”
Havia dez crianças ali, a seu redor.”.
Os subornos, fianças pagas quando foi preso algumas vezes para interrogatório, os presentinhos enviados aos oficiais, a alimentação adquirida no mercado negro a fim de matar a fome de seus empregados judeus, os inúmeros documentos que teriam que ser despachados de forma ilegal, bem como várias outras ‘arbitrariedades aos olhos nazistas’ custaram uma fortuna para os bolsos de Oskar Schindler durante os anos de conflito, e ao final da guerra, ele já não contava com a posição de industrial milionário que possuía. Mas em momento algum ele se arrependeu de gastar cada centavo de seu dinheiro para salvar vidas. Os pouco mais de mil judeus que tiveram seu nome na Lista de Schindler [como ficou conhecido o documento com os nomes dos funcionários que sobreviveram ao holocausto porque o industrial pagou para mantê-los vivos] foram eternamente gratos aquele homem de semblante pacífico, ‘bon-vivant’, que possuía muitas mulheres apesar de casado, mas que nunca desamparou nenhum dos seus, que quase foi descoberto por ‘trair a raça ariana’ ao tratar como humanos os judeus, e que teve que suportar a maldade nazista sem demonstrar revolta com o que via.
Oskar Schindler foi uma das pessoas mais memoráveis que tive o privilégio de saber sobre, um homem que apostou alto demais, perdeu tudo o que tinha mas ganhou a gratidão de mil judeus.
“aquele que salva a vida de um homem salva a vida do mundo inteiro”.
Mas o livro não é apenas Schindler. O livro fala da vida interrompida de milhares de judeus, que perderam suas identidades e não passavam de carcaças esfomeadas marcadas com uma tatuagem numerada no antebraço. Eram apenas números, vidas insignificantes aos olhos nazistas, e deveriam ser aniquiladas para ‘o bem da Alemanha nazista’. Itzhak Stern, A sra. Pfeffeberg, Hanukkah, Danka, Genia, Menasha Levartov, entre tantos outros, viveram anos de medo, dor de perder seus parentes, fome, frio, humilhações e privações por parte da nação alemã. Se escaparam, foi por sorte de encontrar pessoas como Oskar, que se arriscavam por eles.
Infelizmente, para a maioria dos judeus, não houve misericórdia, e suas vidas foram ceifadas com tiros na nuca, bombas, pela fome a ponto de deixar o corpo em pele e ossos, por cercas eletrificadas que os ‘livravam’ do sofrimento, por espancamentos, doses de veneno ministradas por médicos que preferiam privar-lhes de uma morte violenta e grotesca, pelos ‘chuveiros’ da morte que deixavam escapar gás letal ao invés de água, pelo sufocamento de um vagão superlotado sem ventilação rumo aos campos que diziam que ‘o trabalho liberta’. Inúmeros judeus que viraram apenas números estatísticos e que se perderam em valas e fornos crematórios. E, exceção à parte, alguns poucos que tiveram seus nomes conhecidos por situações específicas, ou por causa de objetos que contaram suas histórias…
A Lista de Schindler é uma obra dolorida, um relato de milhões de cotidianos interrompidos pela crueldade e ambições dos que se achavam superiores…