Por Andrey Lehnemann
Estou à procura de um emprego na Revista Veja e já tenho minha arma secreta para conseguir: eu escreverei uma crônica sobre a influência do resultado do Brasil na pauta jornalística para desvirtuar as atenções da ineficácia política do governo Dilma. É balela. Só não deixem a ideia chegar aos ouvidos de Constantino, pois ainda não finalizei o texto.
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O lado negativo de uma copa do mundo no país é exatamente sua polarização entre dois extremos – os odiosos e os amantes. É a síndrome do marido traído: não há um lado indiferente e todos assumem seus sentimentos por completo. E, neste meio tempo, parece nunca ter existido uma fragilidade emocional que desencadeasse naquele momento ou algo do tipo. É assim e pronto. Como ela pode fazer isso com ele?! Os canais de direita condenam a copa, os de esquerda a veneram. A coluna de um economista tentando desvendar o significado da cor vermelha no símbolo da copa do mundo foi um dos instantes mais reveladores da nossa atual situação. “A copa está comprada!”. “Tudo para esconder as baixarias da nossa economia!”. “Não acreditem no superávit da balança comercial ocorrido no último mês, é conversa!”. “Que nada, a derrota do Brasil já estava planejada desde o começo!”.
E é difícil condenar a imprensa petista ao criar um status de copa das copas, não apenas pelo futebol apresentado, mas pelo investimento político; porque é exatamente o panorama que a imprensa tucana havia proposto antes: ei, se tudo der errado, a culpa é do PT; mas, caso dê certo, algo quase inimaginável, o PT não tem nada a ver com isso.
Mas é uma situação curiosa, que fica ainda mais, quando, para desmentir notícias e condenar a imprensa, as pessoas usam, bem, outras notícias e outros canais da imprensa. Os 7 a 1 para a Alemanha criou um estado de “caos” tão absurdo na imprensa brasileira que de um lado analisávamos matérias perguntando onde estávamos no momento da goleada (Juro! E com ares tragicômicos, tentando criar um 11/09 brasileiro) e do outro uma condenação até Nelson Rodrigues para explicar a falta de planejamento tático na seleção.
Esta é a sexta copa do mundo que acompanho, e, como todas as outras, ela teve seus problemas, assim como acertos. Mas a nossa baixaria política não se propõe a analisar as ferramentas que levam a um caso metafórico, apenas a situação momentânea proporcionada por ele. Também acho que esta foi a copa das copas. Mas não esperem ler isso na Veja da semana.