[Manifesto] Dois livros e uma rapidinha

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Por Andrey Lehnemann

Vocês se lembram de quem é a frase que dizia que, caso não saibas como iniciar um texto, comece pela frase mais honesta que venha em sua mente? Só clichês vêm a minha mente e pretendo deixá-los livre deles nesse período de empolgação. O que há de novo, pergunta o leitor amigo? E interessa? Estamos em período de copa do mundo. As coisas estão dando certo, os estádios estão recebendo os jogos, a crise imediatista idealizada pelos veículos mais conservadores não aconteceu e tudo funciona bem. Esse é o período de paz mais genuíno que o governo Dilma viveu nesses últimos três anos. Um mês tão impressionante para a política nacional que as notícias não deram muita atenção nem ao absurdo fato do congresso estar completamente vazio durante a segunda-feira. Enfim, não é época para pessimismo, diria o escritor otimista. E não é mesmo. Os assuntos ficam até escassos para as crônicas. Focalizo, portanto, na literatura. Nunca nos deixa na mão.

Eu li 46 obras esse ano. Comecei no primeiro dia de janeiro com o desestimulante A Culpa é das Estrelas, mas a última leitura foi a de Dias Perfeitos, do brasileiro Raphael Montes. 24 anos, o rapaz tem. 24! Não canso de repetir a idade, pois é assombrosa a maturidade literária que desfrutamos no suspense. Uma maturidade que não consegui enxergar no livro do conceituado Daniel Galera, Até o dia em que o cão morreu. Ambos discernem sobre a solidão, a idealização e a falta de perspectiva, mas – obviamente – com diferentes pontos de partida e resultados. Um desvenda os segredos da sociopatia, enquanto o outro analisa alguém que não descobriu como viver. O início pensado quase como uma narrativa kafkiana é fantástico, mas o restante da narrativa carece da excepcionalidade do devaneio do protagonista de Galera. Certo, às vezes, a literatura nos frustra, mas não há nada mais divertido que desvendá-la.

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Da série “uma rapidinha”:

As coisas funcionam diferentes durante a copa. Jeffinho cabulava as aulas de renovação da CNH, Daniel fingia reunião para assistir aos jogos com os amigos, mas nada era mais falado que o caso do Alberto.

– E o Albertão?

– Dizem que teve que terminar com a Soninha.

– É? Mas o que houve? Eram tão apegados. Pareciam se querer tanto. A mulher dele descobriu?

– Que nada. Mês de copa do mundo. Ela havia dado a sentença: ela ou o jogo do Uruguai. Ele disse que a escolha valeu a pena.