por Andrey Lehnemann
Eles conversavam em tom monótono debaixo da chuva fina e do frio intenso. Encaravam o abismo à sua frente e argumentavam sobre seguir ou não seguir. Estavam nos bosques da depressão. Suas mãos geladas, embora usassem luvas, tentavam dar algum conforto ao corpo que ainda os guiava pelas entranhas do bosque. A discussão era intensa. O mais novo argumentava que havia algo além daquele bosque, onde a água era cristalina, a temperatura agradável, o ar não produzia lágrimas e o verde era como os dos contos de fada. O mais velho não sabia o que era conto de fada. Ele olhava fixamente para o vazio ensurdecedor, pleno, instigante, que o encarava.
Nada os cercava.
O solo do bosque não era fértil, muitas famílias abandonaram o lugar com o passar do tempo, eles foram os que permaneceram. Não conheciam outra coisa. Sobreviviam a base de grãos. O silêncio era o único amigo. Alguns se aventuravam pelo bosque, mas não ficavam. O velho, passando-se por mais sábio que os demais, afirmava que eram turistas. O bosque os rejeitara. Tentavam encontrar alguma casa, algo para permanecer, mas aquele não era o lugar deles. Quem vive no bosque está fadado a morrer no bosque. Está permitido a fazer seus passeios por outras regiões, desde que retorne ao lar.
Os rumores davam conta de que o velho nunca havia deixado o bosque. E, de certa forma, não. Uma vez que se chega no bosque, ele nos acompanha. Serve-nos, abriga-nos, guia-nos por seus mais estranhos caminhos. Ele é infinito, mágico, acolhedor. A solidão é muito mais acolhedora do que qualquer outra coisa, raciocinava um dos dois. É natural, o sentimento. O bosque evita o contato, é individual, antissocial, magnânimo. O velho de calça xadrez se deu conta disso no momento em que passou a não ouvir a voz do mais novo. Não havia ninguém lá. Nunca houve. Sua mente tentava lhe pregar uma última peça. Deu um passo para frente, após se despedir do bosque.