Como todo primeiro amor de infância, o meu tinha nome: Mariana. Ela morava em Canoas; eu, Porto Alegre. Mas nossos sentimentos se encontravam todos os verões, numa casa que ficava em uma praia perto de Imbé, Mariluz. Nosso relacionamento era fruto da disposição de nossos pais passarem algumas semanas nas casas de nossas famílias. Éramos vizinhos, eu e ela, mas só por alguns dias. Não chegamos a ter uma relação, pois nem sabíamos o que isso significava. Apenas nos divertíamos juntos, brincávamos e aproveitávamos a timidez um do outro, sem a presença dos adultos. Lembro-me que Mariana parecia saber tudo o que fazia, cada etapa; eu era só um novato que me aproveitava dos caprichos dela para conhecer mais sobre, bem, tudo. Eu me apaixonei perdidamente. Foi o primeiro contato que tive de forma íntima e natural com o outro sexo, o que também não compreendia. As ingenuidades de nossas mentes nos fizeram aproveitar cada momento.
Tempos depois me apaixonei por outra Mariana, mas com essa não deu certo, talvez porque morássemos na mesma cidade. Uma coisa era certa: a ingenuidade havia sido perdida, os dois conheciam cada etapa e ambos queriam comandá-las.
De certa forma, as próprias memórias da infância são diretamente influenciadas por nós, numa idade adulta; ouvi alguns amigos afirmarem que esse é o maior problema de O Oceano no Fim do Caminho, por exemplo, ainda que o ache exatamente um ponto positivo. O escritor Antônio Prata, pelo contrário, prefere uma abordagem juvenil mais tradicional e nos transporta diretamente para a infância, sem os nossos complexos, “infacilitadores” e solitários pensamentos atuais. Voltamos à época que desconhecíamos a razão de um endereço, que qualquer pessoa um ano mais velha possuía um conhecimento muito mais avançado e o que mais gerava vergonha era não sermos aceitos pelos nossos colegas. Seja um problema com uma cueca ou um bilhete de amor. E é lindo ver Prata mostrar as visões estreita e hipócrita dos adultos de forma tão ingênua e simpática. Como não sorrir ao ler a divagação sobre a sua mãe e o relacionamento com a palavra empregada?! Ou nos sentir discretamente tristes com a sua crônica “Mulheres Peladas”?! Uma coisa é certa: nós nunca parecemos estar lendo um livro de crônicas produzidas sob encomenda, mas um romance bem organizado de alguém exposto. Que decidiu dar razão ao sonho que o perseguia, e desnudou-se completamente. Sem as botas, mas armado com o que há de mais belo: a literatura.
Outra rapidinha:
Caso trabalhasse no cartório, eu passaria a proibir alguns nomes.
– O que deseja, senhora?
– Gostaria de colocar o nome do meu filho de Eleutério?
– Não podemos fazer isso, senhora.
– E Antônio Alfredo Liberato?
– Seu filho nasceu com 62 anos?
– Chame o gerente!