Olá, caros leitores cabulosos!
No dia 7 de Abril de 2014 estreou o remake da novela Meu Pedacinho de Chão escrita por Benedito Ruy Barbosa com colaboração de Teixeira Filho, apresentada ao telespectador pela primeira vez em 1971. Sim! Há 43 anos, a nova novelinha das 18 horas foi produzida pela Rede Globo e TV Cultura simultaneamente, na época era televisionada em preto e branco, o cenário era realista e os personagens não eram caricaturas dos contos de fadas e histórias fantásticas como na versão atual.
A história de Meu Pedacinho de Chão se passa num pequeno vilarejo fictício no interior de São Paulo, a Vila de Santa Fé, controlado pelo coronel Epaminondas (Osmar Prado) que procura todas as formas de atrapalhar o sonho da recém-chegada ao vilarejo, a professora Juliana (Bruna Linzmeyer), de montar uma escola e alfabetizar as crianças da região. No meio dessa rixa, se entrelaçam uma série de sub-tramas. Ferdinando (Jonny Massaro), o filho do coronel, que na versão anterior era um playboy que torrou todo o dinheiro que o pai enviara para os estudos na capital, e na atual é um jovem crítico, vai contra os dogmas do pai, desafiando-o ao formar-se em agronomia ao invés de direito, que era o sonho de Epaminondas, mas está longe de ser um herói da história. Ferdinando interessa-se pela professora Juliana, mas ao mesmo tempo tem “admiração” por sua madrasta, Madame Catarina (Juliana Paes), a segunda esposa do coronel. Os dois tem uma filhinha chamada Pituca, a Pituquinha, que vive para cima e para baixo com Serelepe, o Lepe, um garotinho órfão do vilarejo.
A nova releitura da novela teve o toque do diretor Luiz Fernando Carvalho, que escreveu e dirigiu Hoje é dia de Maria, adaptou obras literárias para TV como A Pedra do Reino de Ariano Suassuna e Capitu de Machado de Assis, recentemente dirigiu Alexandre e seus Heróis, baseado nos contos infanto-juvenis de Graciliano Ramos, foi responsável pela série de oito episódios Correio Feminino, inspirada nas colunas que Clarice Lispector escreveu para jornais cariocas.
Conhecendo o estilo do diretor, não é nenhuma surpresa que Meu Pedacinho de Chão tenha sido regravada com novas referências visuais e literárias. A história em si abre caminho para novas tendências contemporâneas, seja ela na literatura ou cinema e a principal vertente escolhida por Luiz Fernando Carvalho foi a fantasia, que cruza com o drama, comédia, aventura, quadrinhos, fábulas.
A recriação da novela trouxe o commedia dell’arte, teatro popular improvisado, muito comum na época de Shakespeare, elementos circenses, máscaras, muita música, danças, acrobacias, diálogos carregados de ironia e humor somaram para o clima atemporal que Luiz Fernando quis dar à novela. O diretor também procurou outras fontes que resgatasse a infância, que torna-se o tema o “cargo chefe” da trama. Serelepe (Tomas Sampaio) traz toda uma atmosfera lírica à história, é o órfão dos contos de fadas, é o guerreiro que foge do lugar comum das crianças na dramaturgia atual, o Lepe, é como o menino que nunca cresceu de J.M. Barrie.
Pituca (Geytsa Garcia), filha do coronel Epaminondas e Madame Catarina, tem aquele ar romântico das Sweete Lolitas, uma subcategoria japonesa de moda do estilo Lolita inspirado no período histórico Rococó e que começou no início da década de 80. Pituca é a melhor amiga de Lepe, os dois tem uma sintonia semelhante a Peter Pan e Wendy e chego a ver nela um pouco de Alice de Lewis Carrol ou Dorothy de L. Frank Baum.
Madame Catarina é a fiel leitura de Maria Antonieta, rainha da França conhecida por seus exageros, tantos nas vestimentas quanto no estilo de vida. Sua vida acabou na guilhotina por causa da Revolução Francesa. Catarina não terá o mesmo fim.
Coronel Epaminondas é responsável por cobrir a esposa de mimos, seu jeito durão se derrete diante da filha caçula, o que não o torna menos intolerante sobre os sentimentos e crenças alheias. Seu autoritarismo o consume ao ponto de ter tendências maléficas e egocêntricas, algo em sua personalidade e figurino me faz lembra o Conde Olaf de Desventuras em Série.
Professora Juliana também que um ar de Lolita, lembra Betty a boneca de porcelana de Toy Story, inspirado num personagem infantil clássico Little Bo-Peep, uma pastora, e segundo outras fontes, Willy Wonka de A Fantástica Fábrica de Chocolate também caracterizou a personagem.
Há personagens que lembram o Woody de Toy Story, Merida de Valente, misteriosos ciganos e contos russos. O cenário lúdico nos remete a casinhas de bonecas e o clima nos faz embarcar numa fábula de sonhos cheios de imagens, sons e cores.
Espero que tenham gostado do post e NÃO PERCAM a novela Meu Pedacinho de chão, a previsão é de 120 capítulos, sabe-se lá quando a Globo terá outro trabalho dessa qualidade realizado, daí vem aquela velha história, tudo que é bom dura pouco, então não pisque os olhos!
Devotchka, uma banda folk com estilo circense faz parte da trilha sonora da novela.