Por Gabriel Mendes
Estava voltando do colégio para casa junto com um grupo de amigos. No caminho há uma praça, com árvores altas e bem separadas. Dias antes eu tinha falado com meus amigos da minha ideia de subir em uma das árvores. Apesar deles não verem motivo algum para isso, a curiosidade que eu sentia em relação a essa experiência era tamanha que eu fiz uma tentativa e nós a filmamos. Um vídeo de três minutos mostrando um adolescente subir no primeiro galho de uma árvore, a um metro e meio do chão. Nada demais para quem nasceu nos anos 70 e teve aquela saudosa infância – quando as crianças jogavam bola na rua, subiam em árvores, brincavam bastante. A minha não; nasci no final dos anos 90, quando as ruas eram perigosas e prédios começavam a tomar conta de Recife. Hoje, tendo a oportunidade, resolvi ter esse vislumbre de como foi a infância dos meus pais. Minha mãe costumava me contar que subia bastante em árvores, quando era pequena.
E voltamos a mim e meus amigos, passando pela praça, quando me vem a ideia: por que não tentar subir de novo, desta vez num galho mais alto? Disse isso em voz alta e muitos riram, dizendo: “Pra quê, cara?”. Mas alguns me incentivaram em nome da zueira e eu pedi que segurassem minha mochila enquanto eu escalava. Subi naquele primeiro galho e comecei a pensar em como proceder. Acabei me segurando nos cipós e me apoiando nos emaranhados destes para continuar a subida. E lá cheguei, no topo da árvore, a três metros e meio do chão. Poderia ter continuado a subir, escalando um dos galhos que surgem da bifurcação onde eu estava sentado, mas decidi ficar e apreciar a vista.
Como é belo o mundo… Sempre fui muito baixinho, costumo olhar para cima o tempo inteiro para falar com as pessoas, mas não daquela vez. Não, daquela vez em estava acima de todos, vendo o mundo do alto, e uma onda de felicidade me inundou o coração. Feliz, e depois de registrar o momento com duas fotos (tiradas por um de meus amigos lá do chão), procurei um jeito de descer. Meus amigos me indicaram alguns cipós que eu poderia usar e alguns pontos para apoiar os pés, e fui descendo. Segurando-me em alguns galhos que não foram usados durante a subida e nos cipós (que meus amigos estavam puxando e inclinando para me ajudar), fui descendo até uma altura segura para saltar… E voltei ao chão. A brincadeira tomou conta do grupo e piadas como: “Radical, fera!” e “Muito ousado esse Gabrielzinho” foram ditas por meus amigos.
Pensando naquele momento e naquela emoção, decidi relatar o que se passava em minha mente durante o momento em que eu estive no topo daquela árvore. É como estar voando e continuar preso ao chão. Você está vendo tudo de cima, sente uma diferença no vento, mas sente medo, pois sabe que não é natural para você estar ali; afinal, nenhum ser humano voa naturalmente. Eu podia ver o mundo por outro ponto de vista. Agora as coisas eram diferentes. E assim permaneceram enquanto eu estava no topo. As pessoas eram pequenas, os carros eram menores e até os ônibus pareciam pequenos. Era quase uma visão daqueles jogos de estratégia em que você monta uma casa e controla alguns bonecos. A “visão de Deus” no zoom máximo. E a sensação de vitória também é ótima; atingi meu objetivo. Posso dizer como é subir numa árvore e me orgulho disso, pois é algo que muitos da minha idade nunca fizeram e que muitos que vierem depois de mim não farão. Dificilmente minhas irmãs mais novas, hoje com cinco anos e outra de um mês, farão a mesma coisa. Pena que durou pouco…
E é uma pena que nós percamos esse contato com a natureza a cada dia. Por mais incômodo que seja sair da zona de conforto, a descoberta do desconhecido eleva o ser humano. Meu objetivo foi cumprido e eu tive o vislumbre do passado. Será que nasci no ano errado? Bem… Pelo menos eu tenho uma história pra contar pros meus netos e dizer: “Quando vocês puderem tentar, tentem.”, pois a visão de uma árvore será algo raro daqui a cinquenta anos ou mais.
Mas é a vida. As coisas vêm e vão sem que a gente sequer perceba. Fica a reflexão: nunca é tarde para viver bons momentos.