por Alan Cosme
– Sua safada!
Foi com essas palavras que seu ex-marido lançou sobre ela a maldição. A partir daquele momento, Gina Weasley passou a viver com um problema que era tão doloroso quanto prazeroso, na mesma medida. Devido à essas características parecerem antagônicas, a mulher ficava em duvida se o que a atormentava realmente a atormentava ou se era um alivio.
Na semana seguinte ao lançamento da maldição, Gina foi até o curandeiro acompanhado de sua mãe, Molly Weasley. A garota estava passando por diversas dores cujo motivo lhe era desconhecido.
– Você poderia tirar a roupa? – A intenção do curandeiro era o seu bem estar, não tinha olhos de desejo. Alias, até tinha, o desejo de ajudar. Mesmo assim, Gina ficou acanhada. A garota não estava acostumada à se expor tanto assim.
– A lingerie também. – Acompanhando a cor dos seus cabelos, seu rosto se tornou vermelho.
Sem malícia o curandeiro examinou o corpo da garota pedaço por pedaço tentando identificar qual seria o caso do seu transtorno. Sem malicia não, todo mundo tem malicia. Porém, o curandeiro sabia direcionar sua “malicia” para algo que não fosse danoso.
As roupas da garota foram colocadas em um cesto e postas no canto do consultório. Gina esticou o braço com sede ao pote tentando recuperar aquele seu tesouro, mas o curandeiro não permitiu. – Fique aqui, espere um minutinho que irei conversar com sua mãe, eu já volto. – No momento Gina chegou a pensar que o curandeiro estava tirando proveito da situação. Não estava. Alias, estava. Estava aproveitando a oportunidade para testar se sua suspeitas se confirmariam.
Vinte minutos depois, o curandeiro e a mãe da garota voltaram à sala. – Fecha logo! – A porta não ficou aberta nem por dois segundos para deixá-los passar, mesmo assim para ela foi tempo demais.
– Ainda está sentindo dor? – Perguntou o curandeiro.
Gina negou com a cabeça sem nem mesmo pensar, tinha até se esquecido dela. Primeiramente a garota sorriu achando que o seu tormento tinha terminado. Molly olhou para a filha e sorriu de volta. O sorriso da garota era alegre, o da mãe era triste. Pelo que o curandeiro havia lhe dito e pela resposta da garota ficou claro à mãe que o tormento só estava começando.
– Pode se vestir. – Falou o curandeiro, expressando no rosto o mesmo sorriso triste. A garota voltou a se compor. Pena que aquela proteção não poderá continuar em seu corpo por muito tempo. Esse era o “espírito” daquela maldição. Se continuasse vestida por mais tempo as dores voltavam.
Ao voltar do curandeiro, como qualquer bruxa normal, Gina foi tomar uma chuveirada. Ao sair do banho se enxugou e se enrolou em uma toalha. – Mãe? Cadê minha roupa?
Gina foi até a sala enrolada, quando sua mãe a viu tirou sua cobertura à pulso. – Mãe?! – Molly fez uma atitude cruel, mas sua intenção não era. – Desculpa, filha. É o único jeito.
– A maldição succubizante. – Disse o curandeiro quando conversou a sós com Molly. – Uma maldição perversa. Transforma tudo o que é saudável, natural e puro em sujo. Não se limita ao sexo, mas como o que mais move o ser humano é o sexo…
Gina já tinha mais de vinte anos, mas quando sua proteção lhe foi tirada ela deu pulinhos e fez muxoxo como uma menina de cinco. O pedido de ajuda de Gina fez com que a fala de Molly se tornasse ainda mais penosa. Seu coração estava dilacerado, mas munida com a magia que só uma mãe consegue ter (ou um pai que seja tão bom quanto uma mãe) ela falou: – Feitiço succubizante.
– Como cura?
– Tem que esperar a energia da magia acabar.
– Isso dura quanto?
– Pouco tempo. – Mentiu Molly.
Não há pecado na nudez, o pecado está em como se usa. Não há vergonha na nudez, a vergonha está em como se usa, em que condições se usa, com quem se usa… Nudez forçada: não deveria ser vergonha para a vitima, mas ela a sente assim mesmo. Trouxas são por definição trouxas. Se preocupam mais com o ato do que com o motivo. Os bruxos se acham melhores, mas no final das contas são também trouxas. A única diferença é um efeito especial aqui ou acolá.
Para preservá-la um pouco mais, o pai e os irmãos varões de Gina foram morar em outra casa. Esperavam que a garota ficasse mais conformada com a situação para poderem a visitá-la com mais naturalidade.
Gina estava despida há horas, mesmo assim as dores voltaram. – O quê?!
Molly então lhe contou o aspecto mais tenebroso da maldição succubizante. A nudez forçada era só o primeiro estágio.
Gina abriu as pernas e usou os dedos com raiva. Não era a primeira vez que ela fazia isso, porém, o ato em si não importa e sim o motivo. Antes, o dedo era curioso e perseguia o amor. Agora ele estava cheio de ódio. O ódio ia crescendo a medida que o dedo agia com mais rapidez. Molly viu a expressão no rosto da filha e se assustou. Não era a primeira vez que ela via sua menina fazer aquele ato. Como mãe, ela pacientemente explicou para a menina o que isso era e o que significava. O ato em si não a chocou, o que chocou foi o motivo.
Após o dedo parar veio o gozo molhado. O gozo era de prazer, mas não de amor. Era de ódio. Molly saiu da sala e foi se proteger em seu quarto engolindo a tristeza que queria escapar. Engoliu a tristeza até ela explodir em ódio.
– POTTER!
XXX
Thomas era careca, fora isso era um garoto de dezoito anos como qualquer um. Ele se sentia culpado por atitudes que nem sabia se fora realmente ele que cometera. – De onde veio essas memórias?
Sua aflição só apaziguou quando foi aconselhado por seu amigo, Draco. – Esqueça o passado. Só porque você já foi o vilão da história não significa que terá que o ser para sempre.
Sempre quando a culpa apertava Thomas, ele se lembrava daquele conselho e se sentia mais aliviado. A culpa se transformava em orgulho. – Eu superei! – Thomas estava diante do castelo de Hogwarts se preparando para a invasão. Ele se vestia de preto, pois na guerra ninguém pode se dar ao luxo de demonstrar fraqueza, não importando em qual lado se esteja. Thomas pegou sua varinha e enfeitiçou seu rosto. Seu rosto ficou monstruoso, lhe faltando o nariz. O efeito dissuasivo era temporário, claro, só o tempo necessário para impor medo nos que mereciam.
– Hahaha! Você está ridículo! – Disse Draco assim que o viu.
– São seus olhos, o general Potter não achará um pingo de graça. Pode ter certeza disso.
– Comensais!
Os soldados de Thomas se colocaram em posição de combate, com as varinhas em punho prontas para usá-las.
– Amizade, bondade, humildade são características positivas?!
– Não, senhor! – Gritou o exercito em uníssono.
– Não o quê?!
– Não o tempo todo senhor!
– Qual o nome de vocês agora?!
– Comensais da Morte, senhor!
– Por quê?!
– Por que é preciso, senhor?!
– E depois da guerra?!
– Comensais, senhor!
– Muito bem, homens. Não preciso de soldados presos à rótulos.
Antes de ir à batalha Thomas sentiu uma sensação estranha que não compartilhou com os seus companheiros de luta por receio. – Por que tenho a impressão de que já estive nessa situação antes?
Ps: as pessoas só procuram o que querem ver.
XXX
Em outro universo alternativo, seja ele real ou não, um garoto britânico de oito anos chamado Thomas brinca de “lutinha” com seu coleguinha chamado Potter.
– Sou Voldemort. – Disse Thomas. – Vou proteger as pessoas de bem!
Deixando esse universo alternativo, visitemos outro, seja ele imaginário ou não. Nele o mesmo Thomas de oito anos brinca da mesma maneira com o mesmo garoto chamado Potter.
– Sou Voldemort. – Disse Thomas. – Vou te matar!
Pode não parecer, mas essas duas brincadeiras são diferentes.
Ps: o Batman que aparece na tela é diferente a depender de quem o está assistindo. Ainda bem que 99,99% não explode. Já que, durante a sessão, só vi o pessoal fazendo piada das lutas, transformando o que deveria ser violento em galhofa.
Agora visitemos outro universo paralelo. Prometo que esse será o último.
Nele Thomas faz uma piada sobre os óculos de Potter. A piada foi boba, mas o coração de oito anos da criança não entendeu isso. A galhofa virou violência.
O garoto Thomas vai jogar Mortal Kombat em casa, ao ver tanto sangue em um fatality ele ri do exagero. O garoto Potter vai jogar Mortal Kombat em casa, ao ver tanto sangue em um fatality ele fica tentado. O garoto Thomas vai ler a bíblia, mais tarde ele chamará seu colega de irmão. O garoto Potter vai ler a bíblia e passará a dizer “quero ver meus inimigos derrotados, eles irão aplaudir de pé a minha vitória”. Se esse Potter vivesse duzentos anos atrás ele diria, se é que já não disse: “quero ver meus inimigos derrotados, que o deus da guerra acabe com eles”. O garoto Thomas decidiu ser ateu: “tenho que ajudar o próximo porque o bem da sociedade reflete em todos”. O garoto Potter decidiu ser ateu: “vou tocar o foda-se”.
Ao chegar à adolescência, o garoto Thomas bate na bunda de sua namorada enquanto estão sozinhos e a chama de safada, ela sorri e sobe com ele pro quarto. Ao chegar à adolescência, o garoto Potter bate na cara de uma mulher que encontra na rua e chama ela de safada.
Fantasia aliena? Depende. Ver fantasia na realidade, sim. Ver realidade na fantasia, não, pelo contrário, a cabeça expande, você passa a perceber coisas que ninguém mais percebe.
Pode não parecer, mas a diferença é enorme.
Continua…