Por Andrey Lehnemann
A primeira obra de Camus que li foi O Estrangeiro. Ganhei de presente de uma amiga íntima que – como todos nós queremos quando se trata de pessoas significativas – queria que eu amasse o livro tanto quanto ela. Para sorte de nós dois, eu amei. O escritor falava um pouco sobre o nosso estado inerte social e pessoal, a maneira como somos suscetíveis a coisas insignificantes e, de uma forma pouco sutil, o certo x o errado. Meursault havia perdido a mãe, mas não sentia nada. Era uma pessoa que já havia morrido há muito tempo por dentro e não observava mais sentido na natureza humana. Era um estrangeiro, mas da forma mais metafórica possível: ele não sabia viver, apenas existia. O final era o grande momento de Camus. Todo o ódio repreendido de nossa sociedade que se diz benéfica nos gritos de fúria disfarçados de justiça durante um enforcamento era brilhantemente atual. Um termômetro tão interessante de sentimentos paradoxais, onde a compaixão não aparecia, que Meursault finalmente sentia-se bem recebido; em casa.
O Estrangeiro possuía uma empatia entristecida e melancólica com seu leitor, nada esperançosa, o que fez parte do resto da obra do francês. Camus também se sentia um estrangeiro em seu tempo, mas não aquele que possuía ódio pela vida, pelo contrário, queria viver o máximo para compreendê-la em sua magnitude. Uma faceta que se tornou intransigente em sua maravilhosa obra e até mesmo em sua vida: o sempre sincero diálogo com a morte. Além disso, o escritor tinha um presságio terrível de que sua vida seria tirada dele muito cedo, o que se tornou verdade. Seu falecimento precoce foi tão movido ao acaso da vida que parecia ter sido escrito por ele próprio. Morreu aos 46 anos.
A sua vida tomou o meu pensamento não por Meursault, tampouco por minha amiga, mas pela temeridade que assombra a nossa alma sobre uma coisa tão intrínseca à existência. Como evitar a morte? Essa é a pergunta que inúmeras pessoas fazem e os escritores parecem ter encontrado uma solução momentânea: através da palavra, de seus textos e pensamentos. Nunca conheci Camus ou sua vida pessoal, mas o tenho perto em minha memória, consigo bolar uma suposta conversa que teríamos e lhe sinto próximo de alguma maneira. A morte precoce também assombra meus dias, mas, bem como Camus, posso colocá-la no papel e fazer o que quiser até que ela se torne inerente e que me deixe apenas num punhado de palavras.


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