Por Andrey Lehnemann
Não lembro quem foi realmente o autor da pergunta-título, mas lembro de que foi em uma palestra sobre o cinema fantástico. O medo é uma coisa que sempre me despertou curiosidade. Desde pequeno, eu e meus amigos nos reuníamos em minha casa para contar histórias macabras e fantasiar acerca de mitos e lendas. Como todo menino, a impressão era forte. No colégio, a atmosfera também já era a mesma. Acho que tinha por volta dos 10 ou 11 anos, quando o copo e o compasso eram as principais brincadeiras do recreio.
O primeiro fantasma que conheci se chamava Philadelphio. Com dois PHs. Não lembro direito onde vivia, mas eu lembro que era solitário. Buscava esses jogos juvenis para se relacionar com alguém. Talvez, olhando agora de longe, seja óbvio que esse sentimento refletia as sensações do próprio menino que guiava o compasso na ocasião, mas éramos crianças. A solidão era uma palavra desconhecida. O jogo acabou quando o homem havia cansado de brincar e queria sair para nossa realidade. Devíamos fechar o compasso para ele não sair.
Acredito que tenha tentado jogar outras duas vezes. Uma delas falei com Hitler, pois era quem eu mais temia encontrar nesses momentos (afinal, eu estudava a segunda guerra) e os meus amigos acharam legal pregar uma peça. Na segunda, falei amém antes de iniciar o jogo, o que – e não me perguntem o motivo – era proibido.
É curioso como essas coisas nos pegam quando são crianças.
Lembram-se da loira do banheiro ou da Maria sangrenta?
E é notável o quanto o ‘medo’ muda conforme a idade passa. O medo do sobrenatural é trocado pelo real. A morte passa a ser nosso maior receio, não o pós-morte. Pelo contrário, o pós-morte vira um conforto. E é por isso que fica tão difícil descrever ou escrever sobre o medo, o horror. Afinal, o que ele seria? O medo parece não ser universal, mas pessoal. Está intrínseco às nossas próprias fantasias. Reais ou irreais. Stephen King passou a sua carreira literária toda tentando desvendar o que assusta os seus leitores. Ainda tenta. Há quem diga que o próprio Camus tenha algo muito mais assustador em seus livros: o desnude de nossa sociedade. O cinema do gênero já se reinventou dezenas de vezes para continuar proporcionando arrepio aos espectadores. E as próprias histórias juvenis já ganharam fábulas muito mais trabalhadas. Difícil chegar a um acordo sobre o que é assustador, e é por isso que ele é tão – por não existir outra palavra – fantástico.