[Adapatações] A Menina que roubava livros, 12 anos de solidão e O grande Gatsby

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O mundo da literatura sempre foi uma imensa floresta, repleta de frutas que são anualmente colhidas pelos cineastas. Grandes livros possuem grandes histórias. E grandes histórias são metade do caminho para um grande filme. Além disso, best-sellers trazem sempre uma grande bilheteria em potencial, o que acaba sendo uma escolha relativamente segura por parte dos produtores. E como os produtores, a platéia também é composta por seres humanos, amantes da sensação de segurança. É bom ir ao cinema ver uma história que já conhecemos e sabemos que vamos gostar (nem que seja gostar de criticar). Soma-se à tudo isso a magia de ver algo que, até então, existia apenas em nossa imaginação. O resultado? Nunca tantas histórias migraram das estantes das livrarias para as salas de cinema.

Nessa coluna, vamos tratar desse fenômeno, trazendo alguns filmes que estão em cartaz e que tiveram a sua origem nas penas (ou teclas) de escritores solitários. Também vamos trazer sempre mais uma adaptação que já saiu de cartaz, mas que é recomendado pela coluna.

Para quem ainda não me conhece, meu nome é Gabriel Gaspar, sou escritor de O que pensa o homem e criador do canal Acabou de Acabar, sobre filmes. Além disso, sou colunista do site Os Cinéfilos e colaborador do Homo Literatus e do Leitor Cabuloso.

Após essa rápida apresentação minha e da coluna, vamos aos livros/filmes:

A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS – adaptação do best-seller de Markus Zusak demorou, mas finalmente chegou ao cinema, contando conta a história de uma menina que vai descobrindo o prazer da leitura durante a Segunda Guerra Mundial. Além de retratar a guerra e seus terrores do ponto de vista de uma criança alemã (algo posteriormente repetido em O menino do pijama listrado, que também rendeu uma adaptação no cinema) o grande diferencial do livro é o narrador – ninguém menos que a própria Morte. Sempre presente na história, seja narrado ou agindo, a transposição de um personagem dessa natureza para as telonas seria um desafio. Seria, no pretérito imperfeito, já que a direção do filme optou por praticamente excluir esse personagem (salvo duas narrações em off, uma no início e outra no final).

Apesar dessa ausência, o filme consegue passar o tom do livro, se equilibrando entre o singelo e o mórbido, em grande parte graças à impecável trilha sonora do premiadíssimo John Williams e às atuações de seu elenco principal. A cativante Sophie Nélisse como protagonista, apesar da pouca experiência com filmes, consegue passar o ar de menina corajosa, mas ao mesmo tempo assustada e que precisa de proteção. Já o experiente e consagradíssimo Geoffrey Rush (no papel de pai da protagonista) é daqueles raros talentos que consegue roubar a atenção quando aparece em tela e, ao mesmo tempo, iluminar a atuação de seus companheiros de cena.

Nota do livro: 9,0/10,0

Nota do filme: 8,0/10,0

12 ANOS DE ESCRAVIDÃO – grande vencedor do Oscar de 2014, o filme trata da vida de história real de Solomon Northup, um negro livre na Nova York do século XIX que é sequestrado, acabando no Sul dos Estados Unidos como escravo. Segue-se então uma jornada de sofrimento físico e mental que dura pelos 12 anos do título. O roteiro foca em mostrar a ignorância dos proprietários de escravos, todos extremamente religiosos, e surpreende ao abordar com ironia a própria religião, como em uma categórica cena em que um fazendeiro escravagista se questiona “Por que Deus me castigou?”, ao ter sua plantação atacada por uma praga.

A direção de Steve McQueen  é firme e correta. Mais contido que seus filmes anteriores, ele demonstra extremo respeito pelo tema, mas mostra em diversas cenas que é capaz de fazer o espectador sentir o que ele quer, na hora que ele quer. A cena do plano-sequência em que uma das escravas é chicoteada merece todos os elogios ao diretor. Em alguns momentos, ele optava por deixar o protagonista em um canto da tela, com um grande espaço vazio no centro da cena, dando ao espectador a impressão de que alguém apareceria e fazendo com que compartilhássemos com o personagem a agonia de esperar que alguém o salvasse. Direção primorosa.

Quanto aos atores, foi reunido um elenco fabuloso, contando com as sempre ótimas atuações de Benedict Cumberbatch, Paul Dano, Paul Giamatti e Brad Pitt. Mas o destaque fica por conta de Chiwetel Ejiofor, que vive o papel de sua vida como protagonista; Lupita Nyong’o  que já levou um Oscar de Atriz Coadjuvante em sua estreia no cinema e o talentoso Michael Fassbender, que vive um fazendeiro absolutamente detestável e assustadoramente real.

Tanto o filme quanto o livro (escrito pelo próprio Solomon Northup)  tornaram-se material didático nos EUA. Uma história forte que merece ser contada. Com o filme ganhando o Oscar de melhor filme e o de melhor roteiro original, temos aqui uma aula de adaptação bem feita.

Nota do livro: 9,0/10,0

Nota do filme: 10,0/10,0

 O GRANDE GATSBY – a adaptação de 2014 daquele que é considerado por muitos críticos literários como o grande romance americano do século XX não poderia ser ignorada por essa coluna.  O livro, obra prima de Fitzgerald, conta a história de um milionário (Gatsby) que tenta impressionar sua antiga amada Daisy pelo excesso.

Apesar do livro ser uma crítica sutil ao modo americano de pensar, sempre valorizando mais o material que as relações pessoais, o filme opta por um visual mais ostensivo, o que causou a insatisfação de alguns estudiosos da obra de Fitzgerald. O filme, entretanto, é uma boa obra para apresentar a história àqueles que ainda não a conheciam.

Contando com a atuação sempre inspirada de Leonardo DiCaprio, com uma trilha sonora contagiante e com um visual arrebatador que levou duas estatuetas do Oscar (Direção de arte e Figurino) o filme perde em crítica social, mas consegue cativar o público, a ponto de muitos saírem da sala de cinema direto para a livraria. O mundo literário agradece.

Nota do livro: 10,0

Nota do filme: 7,5/10,0

 O ano continua e ainda teremos várias adaptações literárias esse ano. Fique por dentro dos lançamentos aqui no Leitor Cabuloso e pelo YouTube no canal Acabou de Acabar.

E fica a pergunta. Quais adaptações devem ser comentadas no próximo artigo da coluna?