[Resenha] O Hobbit de J. R. R. Tolkien

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o-hobbit-livroEdição: 1ª

Editora: WMF MARTINS FONTES

ISBN: 8578276302

Ano de Lançamento: 2012

Número de páginas: 320

Tradutor: ESTEVES, LENITA MARIA RIMOLI

Sinopse:

Inesperadamente, Bilbo Bolseiro, um hobbit de vida confortável e tranquila no Condado recebe a visita de 13 anões e Gandalf que o arrastam em uma jornada através das montanhas e das terras ermas enfretando trolls, orcs, wargs, elfos para o resgate de um tesouro muito bem guardado por Smaug, o dragão. Bilbo se vê em diversas confusões e encontra algo que mudaria não só sua vida como de toda Terra-Média. (Skoob)

Análise (com spoilers):

“Numa toca no chão vivia um Hobbit…” assim Tolkien escreveu em uma folha em braco deixada por um de seus alunos. Talvez naquele momento, ele não soubesse exatamente o porquê daquelas palavras, mas fica bem claro que a Terra-Média já impregnava seu imaginário há muito tempo e O Hobbit é a prova cabal disto. Existe muito mais do que viria a ser o Arda (outro sinônimo para o mundo criado por Tolkien) neste livro do que muitos leitores creem. O Hobbit é um livro com características de literatura infantil, logo não deve ser lido como um prequel no mesmo nível épico de OSdA.

E quais são estas características infantis: a começar pelo narrador. O livro é narrado em 3ª pessoa, contudo há um eu presente na história que não se identifica e que a todo momento deixa crer que sabe mais do que o leitor. Porém quando este desconhece algum fato, isto também nos é negligenciado, como em:

(Eu) Nunca fiquei sabendo o que aconteceu ao chefe dos guardas e ao mordomo.

Pág. 193

Os livros infantis em geral começam com Era uma vez…, para dar aquele sensação de que alguém vai lhe contar aquela história, seja o pai e mãe antes de dormir, seja na para dar a representatividade da voz paterna ou materna quando a criança estiver a ler sozinha, daí a presença deste narrador ser essencial para dar a característica de livro infantil. Devemos lembrar, que foi uma criança de 10 anos que estimulou Tolkien a continuar o livro que até então ficara engavetado e portanto incompleto. Mas hoje, e principalmente sabendo da existência de toda a literatura tolkieniana, creio que uma criança não se sentisse tão à vontade com determinados nomes, expressões ou citações feitas e que ficaram soltas na obra. Veja esta citação:

[…] indo sempre por túneis ou sob a proteção da noite, até que, ao redor e sob a grande montanha Gundabad do Norte […]

Pág. 273

A montanha Gundabad é citada de forma a fazer parte do reino dos Orcs, mas a nomeação desta pouco tem valia para a narrativa e poderia levar uma criança de hoje a se perguntar: “Mas o que significa Gundabad?”, por isso quem já leu OSdA e deixou de lado O Hobbit por se tratar de um livro infantil perde a oportunidade de se aprofundar no incrível mundo que Tolkien criou.

Outro ponto que conta a favor de quem já leu OSdA, mas adia a leitura deste livro, é quanto a escrita. Muito se fala sobre o descritivismo exacerbado de Tolkien em O Senhor dos Anéis, porém o mesmo não ocorre em o Hobbit. O livro tem uma leitora fácil, com descrições precisas. No entanto, como não poderia deixar de ser, em certos momento o autor de OSdA começa a aparecer aqui e ali  em O Hobbit. Em momentos casuais, surge um “fazia fria naquela época”, que pouco contribuem para o fatos transcorridos naquelas páginas, mas para os leitores das demais obras será um deleite em perceber a formação do estilo de escrita de Tolkien.

A trama do livro pode ser pouco original nos dias de hoje: um grupo de anões quer reaver o seu tesouro e parte numa jornada com um ser que é utilizado pelo narrador como os olhos do leitor, já que Bilbo pouco conhecia do mundo além das fronteiras do Condado. Contudo não se podem negar as metáforas existentes. Da mesma forma que Tolkien foi retirado de sua vida pacata e jogado no meio de uma Guerra (pois para aqueles que não sabem, Tolkien participou da 1ª Guerra Mundial), Bilbo é lançado numa aventura com desconhecidos por motivos que não eram dele. Além disso, a cobiça dos Anões, do Dragão e que motiva a Guerra dos Cinco Exércitos também poderia ser vista por Tolkien através da Guerra que ele vivera, já que a cobiça humana é um dos, se não o grande fator, motivador das Guerras.

E por falar em anões, os personagens são o grande destaque do livro. Apesar de termos pouquíssima caracterização dos demais ( o foco fica com Thorin, Balin e Dain) a maneira como são descritos seus hábitos, suas habilidades e cultura deixam a obra ainda mais rica. Tolkien sabe explorar isto nos mínimos detalhes – pode ser contraditório o que direi, mas nesta obra, os mínimos detalhes não correspondem a descrição excessiva, porém, a descrições curtas espalhadas pelo livro. As raças são descritas no momento certo e é possível compreender com perfeição tudo o aquilo que é necessário saber para que a história se desenvolva e o universo criado possa se expandir. Cada raça, age e fala da forma como se espera que o façam. Bilbo, por exemplo, sempre desejando voltar para a sua casa, sua vida pacata, sentindo falta de coisas que só os hobbits poderiam sentir, fazendo coisas que só hobbits poderia fazer e é neste ponto que outro fator se sobressai no livro: a linhagem. A linhagem é muito importante para a mitologia do Tolkien, porque um hobbit segundo a descrição do livro jamais faria o que Bilbo fez, logo o sangue Tûk descrito logo no início e que está presente na linhagem dos Bolseiros seria o ingrediente necessário para o jovem Bilbo “trair” seu sangue Hobbit e fazer coisas inesperadas.

O autor é mestre nisto: ser fiel aos seus personagens e suas características – que como já foi dito, ele vai revelando aos poucos  – e não se contradiz em toda a leitura. Se os anões de Dain são maiores e mais fortes é por que não anões das Montanhas de Ferro e não pertencem a linhagem de Thorin. São afirmações como esta que dão um caráter de verossimilhança a O Hobbit.

Contudo, apesar de tantos elogios há pontos negativos no livro – perceba que estou falando do livro e não da obra – a edição que adquiri foi a comemorativa dos 75 do lançamento da 1ª edição do livro. Com capa-dura preta, as montanhas da mesma cor, apesar do tom de marrom e o sol vermelho. A diagramação é excelente com raríssimos erros de digitação, a folha é em papel cuchê, o espaçamento é muito agradável, porém por ser uma edição comemorativa eu esperava algo mais, talvez algumas notas de rodapé, algumas curiosidades, biografia mais detalhada do autor…, mas nada disto é visto aqui. A obra é igual as demais, as ilustrações feitas pelo Tolkien são as mesmas das outras edições (sim, eu tive como compará-las já que esta resenha é fruto de uma releitura); e por falar em ilustrações, estas estão mal posicionadas, algumas vezes muito a frente, outras muito atrasadas quanto a descrição da cena, mesmo que o original seja assim, acho que seria imprescindível colocá-las mais próximas da página a que pertencem.

Considerações finais

O livro O Hobbit foi uma das poucas obras que reli na vida. Na primeira vez, ainda embriagado com o clima dos filmes de O Senhor dos Anéis fiz uma leitura preconceituosa e com expectativa erradas. Esperava um livro épico e encontrei um livro repleto de músicas e cenas “a lá trapalhões”. Contudo, nas duas releituras que fiz puder ler e avaliar o obra como ela merecia como um livro que o Tolkien escreveu para crianças para que elas pudessem se divertir e rir das trapalhadas daquele grupo de anões e seu hobbit. Torci por eles do início ao fim e me emocionei com a morte de Thorin no fim do livro. Se você já conhecia, como eu, Arda através do cinema, vale a pena ler O Hobbit, pois você verá o universo de Tolkien se expandindo; caso já tenha lido as demais obras do criador de O Senhor dos Anéis, mas deixou de lado este livro porque ouviu dizer que ele era infantil demais, então precisa dar uma chance de lê-lo sem esperar nada épico, mas uma leitura divertida que o fará ver o autor treinando sua escrita e aprimorando sua técnica de descrição; e se você, como eu, já havia lido e achou muito infantil, dê-se a chance de uma releitura tentando ler este livro como ele realmente é e não como “aquilo que não é Senhor dos Anéis”. Tenho certeza que não se arrependerá.

Nota:

Nota: 4 Selos Cabulosos
Avaliação: 4 Selos Cabulosos

Perde meio ponto, por motivos já explicados a cima que competem a edição comemorativa. O preço mais caro apenas por uma capa-dura com coloração diferente não faz jus ideia de uma edição especial. Deveria haver informações que motivassem mesmo aquelas pessoas que já possuem o livro a comprá-lo para tê-lo em sua prateleira como uma edição de colecionador.

Vídeo:

Além da resenha:

  • Gravamos um CabulosoCast (o podcast do site Leitor Cabuloso) sobre a obra O Hobbit. Lá você encontrará uma biografia extensa sobre Tolkien, curiosidades e opiniões diversas sobre esta obra. Para ter acesso ao episódio, clique na imagem abaixo e após clique no play no final do post.
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Clique na imagem para acessar o post do podcast.
  • Também escrevi recentemente uma crítica sobre o 2º filme A desolação de Smaug. Se ficou interessado em ler pode clicar na expressão em destaque que será redirecionado para o post.

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