por Andrey Lehnemann
20 anos de casados, mas Nelinho ainda não conseguira acertar qual o presente perfeito de aniversário para a esposa. E as opções mais comuns já haviam esgotado. Parou de dar bombons para a mulher quando ela começou a reclamar que ele pensava que ela era gulosa. Voltou a dar quando ela cobrou que ele não dava mais chocolates porque achava ela gorda. Era alérgica a flores. Odiava joias, pois afirmava que só quem possuía condições monetárias poderia ostentar. Não, ela. Nunca venceu a discussão.
– Uma joia? O que já lhe falei, Nelinho?
– É um ato de amor.
– A única coisa que mostra é que você está arrependido de alguma coisa. Você está tendo um caso, Nelinho?
– Não, meu amor.
– Sem essa de meu amor, Nelson. Confesse.
Mas dessa vez, ele arranjaria o presente perfeito. Começou a pensar nas antigas namoradas. O que já havia dado para elas? Lembrou-se de Cléo. Ah, a Cléo. Aquilo era mulher. Uma vez ela ficou satisfeita com uma noitada de presente. Não conseguia se lembrar do motivo que os levou ao fim do relacionamento. Talvez pela Cris. Ah, a Cris. A mulher que mais possuía amor por flores que ele já conhecera. Tulipas era sua fraqueza. Fizeram amor numa cama com tulipas no colchão, no aniversário dela. Depois teve a Ângela, a Dinéia, a Flavinha, a Melissa e a Heleninha. Sempre deu o mesmo tipo de presente e nunca havia errado, menos com sua esposa. Nunca parecia o suficiente. Naquela noite, Nelinho pensou na primeira recordação que eles tinham. Uma foto tirada por uma polaroide. O momento da primeira memória de apaixonados. Um retrato que resistira por 20 anos, assim como o amor dos dois. Não havia como ela não ficar satisfeita.
Entrou sorrateiramente no quarto para levar o café da manhã na cama e acordou sua mulher aos beijos para acomodar a bandeja entre suas pernas. O embrulho de presente estava ao lado do prato, o que ela percebeu imediatamente.
– Que você aprontou dessa vez, Nelinho?
– Tenho certeza que desse você vai gostar. É a maneira que encontrei de resumir todo nosso amor durante esses 20 anos.
A mulher abriu sem cerimônia aquele pacote e começou a chorar ao pegar o retrato na mão:
– Nelson, essa não sou eu!