O cantor Otto sempre afirma em entrevistas que sua relação com o mundo dos livros é bem próxima. Ele faz questão de deixar claro que seus autores favoritos influenciam seu trabalho, seja na composição de novas músicas, seja na criação de conceitos para os seus videoclipes. E a presença da literatura na obra do artista não é difícil de identificar.
Metamorfose musical
Em 2009, Otto lançou o disco, muito elogiado pela crítica, Certa manhã acordei de sonhos intranquilos. O trabalho realmente é fantástico e seu título chama a atenção pela referência que o cantor faz ao maior clássico de Franz Kafka. A Metamorfose começa com a frase: “Certa manhã, ao despertar de sonhos intranqüilos, Gregor Samsa encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso” e o disco de Otto vai falar também de um período de transformações pelas quais passou em diversos pontos da vida até então. Ponto para a intertextualidade.
Adaptações videoclipadas
Não é só em títulos que a literatura serve como fonte de inspiração para o artista. Selecionei dois videoclipes de Otto em que, como o próprio admite, foram baseados em obras de autores que ele admira:
Pelo Engarrafamento – O beijo no asfalto (Nelson Rodrigues)
O clipe é bem simples. Otto corre enquanto canta os versos da música do álbum Condom Black, lançado em 2001. E passaria batido não fosse seu final uma reprodução da cena que desencadeia todos os conflitos da minha peça favorita de Nelson Rodrigues: o atropelamento seguido do beijo (ainda que ele não seja devidamente mostrado).
O que dirá o mundo – Kholstomér (Liev Tolstoi)
O último clipe lançado pelo cantor pertence ao disco The Moon 1111, lançado em 2012. O vídeo foi inspirado no conto Kholstomér, de Tolstoi, cujo protagonista é um cavalo. No clipe, Otto interpreta o animal que nomeia o conto e não tem, assim como a atriz Amanda Lira, o menor pudor de explorar sua nudez para construir a narrativa visual. Vale muito a pena conferir o resultado do clipe dirigido por Camila Botelho.
Mas combina?
Música e literatura sempre combinam. E se tem algo que eu gosto é ver artes que eu aprecio interagindo, principalmente quando a fusão é bem-sucedida. Otto é um dos artistas que eu mais gosto da atual música brasileira e acho importante falarmos de alguém que faz dos livros um dos elementos para compor um ótimo trabalho musical. Além de torcer para que ele faça escola e esse hábito se propague cada vez mais.