[Conto] Lendas do Dragão do Céu: A Quebra da Ampulheta

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Por Gabriel Mendes

Primeiramente, boa noite (afinal, este texto foi escrito durante a noite). Eu sou Gabriel Mendes, autor d’A Sombra do Ranger e gostaria de avisar ao leitor que eu cometi uma confusão de datas com A Sombra do Ranger e com o Fragmento da Guerra em Mordhoth. A estória (Sombra do Ranger) começa em 24 de Outubro de 1343 e termina no final da tarde do dia 26; O Fragmento se passa em Abril de 1338. Outra coisa que eu gostaria de falar é sobre os personagens. Conhecê-los melhor ajudará o leitor a se situar melhor na história da estória, ou não.

Ley é um amaldiçoado, como eu já disse (ou devo ter dito) n’A Sombra do Ranger. Ele nasceu em 27 de Janeiro do Ano 3018 da Segunda Era e morreu em 31 de Agosto do Ano 3045 da Segunda Era, último dia da Grande Guerra e da Segunda Era. Foi ressuscitado 1337 anos depois, em 1o de Outubro do Ano de 1337 da Terceira Era, pelo Necromanceiro (depois eu conto a história dele, é bem interessante), que usou uma maldição. Essa maldição ressuscita alguém e torna essa pessoa imortal, impedindo que ela envelheça; ao custo de outra vida. Outros efeitos interessantes são: Os Necros (nome dos que são ressuscitados por essa maldição) sentem a necessidade de matar com frequência. A abstinência disso faz com que eles acumulem Rage, que, quando liberado, os torna máquinas de matar incontroláveis. Além disso, os Necros têm os tecidos mais duros, são mais fortes, mais rápidos e mais resistentes que humanos normais. Por causa disso, eles não podem ser feridos facilmente; é preciso de um metal superior ao aço para causar algum dano de corte neles. Em contrapartida, eles são extremamente vulneráveis a magia; qualquer feitiço tem o efeito muito aumentado em um Necro. Por último (e provavelmente mais importante): Necros tem fraqueza contra o Sol. A exposição deles ao Sol causa efeitos similares à exposição de vampiros (eles não ficam brilhando que nem purpurina), mas com menos força. Eles ficam limitados a usar 10% de sua capacidade normal (tanto física quanto mágica) e sua pele queima mais rápido que o normal. E sobre sua espada lendária, Col Rhyper, é importante falar que ela tem um vínculo de alma com seu dono. Ley forjou-a ainda na adolescência, encantou-a com magia e deu um pedaço de sua alma à espada. Sendo assim, a arma tem vontade própria, movendo-se sozinha ou fazendo algumas magias. Col Rhyper não fere Ley por se considerar parte dele – Ley também pensa assim. E eu nem falei sobre o Cristal das Trevas…

Sobre Wanda: eu ouvi de alguns leitores que Wanda é uma vadia. E após escrever um pouco cheguei à mesma conclusão e perdoei vocês. Ela era um trovadora, viajava pelo mundo tocando músicas de vários lugares por onde passara. Até que ela viajou a Angband e foi parar em Mordhoth, onde conheceu Ley e Guilherme. Ley a ensinou a fazer magia através da música, arte que ela vem aperfeiçoando desde então.

Falando em Guilherme, acho bom deixar claro que ele foi inspirado em um amigo meu e esse amigo é um dos leitores que chamou Wanda de vadia. Semelhanças entre pessoa e personagem: ambos são muito altos e muito fortes, mas o Guilherme Ranger é maior que o Guilherme da Vida Real. Outra inspiração para esse Ranger, como alguns podem ter notado, foi a série Rangers: Ordem dos Arqueiros. Guilherme segue o mesmo estilo de Ranger: não usa espada, luta com facas, atira facas e flechas com precisão mortal e tem um arco longo. É importante dizer que há Rangers de estilos diferentes do dele, mas isso eu explico depois. Vale ressaltar que o Guilherme Ranger e o Guilherme Real são pessoas diferentes quanto à personalidade, mas tem algumas coisas em comum.
Outro personagem que foi inspirado em pessoa real é Gustaff (O próprio nome dá a entender). Esse nome surgiu da combinação das palavras “Gustavo” e “Staff” (que signifca “cajado”, em inglês). Esse meu amigo tinha criado um mago nas nossas antigas e primitivas “aventuras de RPG”. Inspirado por esse personagem acabei criando Gustaff: um poderoso, irônico e tímido mago. Qualquer dia eu conto como ele conheceu Ley, mas adianto que não foi de forma boa.

Lily era uma ideia que eu tinha de criar uma personagem feminazy; como uma pessoa identificada por “Mel” me corrigiu, ela não é nem um pouco feminista. Verdade, não é. Porque, apesar do nome, Feminismo prega a igualdade entre os sexos e Lily acredita na superioridade total e inquestionável das mulheres. Por isso esperem dela atitudes como desprezo pelos homens, enaltecimento das mulheres, pudor extremo (desculpa, mas ela é assim) e (surpresa!) uma amizade forte com Gustaff. Não digo mais nada depois desse spoiler.

Mas ainda tenho que falar de Jed. Jed. Jed… Jed também foi inspirado em um amigo meu, cujo apelido é Jeday. Seu nome verdadeiro é Daniel, mas ele ganhou esse apelido na época em que um certo Gedai/Jedai/Jedi/Geday era goleiro do Ypiranga. Como Daniel era um goleiro mítico na época, colocamos nele o apelido de Jeday. E eu me inspirei nele para dar a aparência de Jed, pois a personalidade deles é muito diferente.

Depois eu descrevo a aparência dele, pois lá se foram uma página e um terço, mais de 700 palavras e eu ainda nem comecei a nova estória. Então pegue um lanche – coisa leve pra não engordar –, uma bebida que lhe agrade, fique confortável e deixe que o Dragão do Céu lhe conte mais uma Lenda.

Capítulo 1: Queda

Ley pegou suas armas e desceu as escadas da pousada. Abriu a porta e se deparou com um grande grupo de guardas da cidade. O Sol já estava se pondo, mas ele não queria arrumar mais confusão; isso só pioraria a situação do seu grupo.

– Eu vim, Farid – Disse ele – Como prometido.

– Que bom. – Retrucou Farid – Onde estão seus companheiros? Vocês todos serão condenados pelos crimes de: Perturbação da Ordem Pública, Múltiplos Assassinatos, Destruição…

– Nenhum deles será preso.

– O quê? – A raiva reapareceu nos olhos de Farid quando ele foi confrontado.

– Nenhum deles será preso porque o único que cometeu qualquer crime nesta cidade fui eu – Disse Ley, determinado.

– Mas e o seu amigo brutamontes? – Farid mostrava os dentes e falava quase rosnando.

– Ele não tem culpa alguma. Eu sou responsável por toda a confusão.

– Mas eles serão condenados também por serem cúmplices. – Disse Farid, pensando ter encontrado a solução para executar todos.

– Nenhum deles é cúmplice. – Retrucou Ley, puxando a espada – E eu quero a sua palavra que nenhum deles será preso, acusado ou injuriado enquanto eles estiverem na cidade e que nenhum guarda ou autoridade irá atrapalhá-los de fazer suas vontades. Ou então não sobrarão guardas nesta cidade para tal. – Um brilho amarelo correu os olhos de Ley por um instante. Seu tom de ameaça era amedrontador. Todos os guardas foram intimidados, inclusive Farid; ao menos no primeiro momento.

– Então… – Disse Farid – Pelos crimes que eu já citei você está condenado à decapitação. Renda-se, entregue suas armas e deixe que meus homens o levem.

– Muito bem. – Disse Ley.

O nórdico guardou a espada, entregou-a aos guardas, tirou o cinto e entregou junto. Foi revistado, algemado e levado a um celeiro onde aguardavam outros condenados à morte. O dia seguinte seria dia de execução de prisioneiros, um verdadeiro show de horror.
O lugar era dividido em celas, cada uma com um tipo específico de criminoso. A cela maior era para os que seriam empalados por cometer os crimes de roubo, furto ou assalto; muitos deles tinham uma mão ou um olho faltando, punição de primeira e segunda estância do crime. Outra cela grande era a de Ley, cujos condenados seriam decapitados pelo crime de assassinato. As celas dos que seriam enforcados, apedrejados ou queimados eram menores, contendo de duas a quatro pessoas dentre homens e mulheres.

Os enforcados eram prisioneiros políticos, os apedrejados tinham sido condenados por adultério – eram um homem e duas mulheres – e os que seriam queimados eram uma hebraica e dois homens homossexuais; cujos crimes foram desrespeito à religião local.

Ley fez algumas amizades em sua cela. Os homens que lá estavam já haviam aceitado seu destino e queriam aproveitar o pouco tempo de vida que lhes restava. A grande maioria tinha barbas grandes e fedia muito, consequência do longo tempo de detenção, outros estavam mais limpos e com barbas menores. O mais antigo prisioneiro ali, Mullah Ibn Raman, estava lá havia seis meses, pois fora preso no dia seguinte ao festival de execuções anterior. Ele era amigo de todos os detentos, sabia da vida de todos e todos sabiam de sua vida. Era um homem de cinquenta anos, divertidíssimo, amigável e de boa índole, que matou sua mulher adúltera e o amante dela ao flagrar os dois no ato. Querendo manter-se bem informado sobre seus companheiros, começou a conversar com Ley assim que os guardas saíram.

– Oh! Temos mais um companheiro. – Dissera Mullah – Como é o seu nome, meu jovem?

– Meu nome é Ley, senhor. – Respondeu o nórdico, analisando a cela e os companheiros.

– Um nome incomum. – Disse Mullah – É estrangeiro, com certeza, mas de onde você veio?

– De Angband, velho homem – Respondeu Ley após ponderar sobre o que o homem tinha dito. O sotaque de Mullah comprometia muito a compreensão de sua Língua Geral.

– Angband! – Vários detentos se surpreenderam. Além de viajantes nórdicos serem raros em Harud, Angband era um país cercado de mitos. Era dito que seus habitantes eram seres das Trevas, muito altos e muito feios, canibais e monstros. Ley parecia um homem comum, apenas tinha a pele muito pálida e era muito magro e mais baixo que o normal.

– Amigos, acalmem-se. – Disse Mullah, tranquilizando os prisioneiros – Ele pode ser de Angband, mas não sabemos nada sobre aquela terra. Além disso, ele é nosso companheiro agora.

Ley passou a conversar com os detentos que se dispuseram a ouvi-lo. Contou sobre sua terra, sua vida (depois de ressuscitado e sem sequer citar a Segunda Era) e sobre suas viagens para diversas partes do mundo. Todos os outros prisioneiros dormiram com o tempo, mas Ley permaneceu acordado – tocando a faca que trouxe escondida em suas roupas.

Se havia algo que Ley sabia fazer com maestria infinita, era esconder coisas pequenas. Ele pegara a faca de arremesso que a Sombra dera a Guilherme e a escondera entre sua camisa, capa e muitas proteções contra o Sol. Toda aquela roupa tornou a tarefa mais simples. Com o raiar do dia, todos os prisioneiros foram acordados, acorrentados e levados à praça principal, onde ocorreria a execução em massa; um show que entretinha toda a cidade de Coppah e ocorria uma vez a cada semestre. Um grande palco fora montado para o “espetáculo” e o cronograma estava escrito em uma placa que estava pregada ao palco. A abertura das execuções seria a decapitação de Ley.

Os trinta prisioneiros enfileirados viram Ley ser liberto da fila principal e arrastado até o bloco do carrasco com as mãos e pés amarrados. Ley observou a multidão na praça principal, seus olhares dirigiam ódio a ele. A estória que foi contada durante o dia anterior em toda a cidade era de que um nórdico gigante e de roupas estranhas havia espancado e matado dezenas de pessoas na praça principal. A maioria estranhou o fato de Ley ser bem menor do que o dito assassino, mas as estórias vão ganhando exageros à medida que são contadas. O mais estranho era ele ter espancado alguém, pois era muito franzino. Mas muitas pessoas haviam perdido um parente ou tido um ferido e a culpa recaíra sobre Ley. Ele foi colocado diante do bloco, em pé, para que todos pudessem vê-lo e insultá-lo.

Farid, que iria liderar as execuções, tomou um passo à frente, desenrolou um pergaminho e começou a anunciar os motivos de Ley estar lá.

– Meu bom povo de Coppah! – Ele falava com a voz empostada, não era muito máscula ou grossa, mas servia – Aqui está o culpado pelo massacre da praça; pelo assassinato de Hadir Ibn Aliabah, um cidadão de bem e dono de quatro barracas do mercado; pela execução de quatro guardas da cidade, uma delas a sangue frio e com testemunhas; pelos prejuízos e transtornos causados na estalagem de Azir Ibn Kalut; Ley de Angband! – Gritou o nome do culpado.

Os cidadãos ali presentes arremessaram lixo e outras coisas desagradáveis em Ley, gritando todas as ofensas que conheciam.
– É bom ressaltar… – Bradou Farid mais uma vez – Que este homem não causou o tumulto na praça, mas um amigo dele! E o prisioneiro que será executado decidiu tomar responsabilidade pelos crimes.

– Então matem os dois! – Gritou um velho no meu dos espectadores. A ideia foi apoiada por todos.

– E como este homem é um infiel ele não merece honra nenhuma! – Gritou Farid, silenciando a multidão – Nós vamos decapitá-lo com sua própria espada. E para isso eu chamo o nosso carrasco favorito, Mossah!

Uma onda de comemoração inundou a plateia. Mossah surgiu detrás das cortinas com um saco preto cortado para deixa livres os olhos e a boca na cabeça. A multidão gritava seu nome avidamente enquanto ele exibia seu machado gigante, segurando-o com uma mão. A acha de um gume circundava o ar em movimentos rápidos (para um machado), que Ley via em câmera lenta. Uma pequena banda começou a tocar com seus tambores e flautas e Mossah ensaiou uma dança com o machado, girando-o e trocando de mãos enquanto batia os pés no chão. A multidão vibrava com a performance do carismático carrasco, que terminou com ele batendo o punho fechado no peito e urrando. Os espectadores aplaudiram o carrasco-showman e então uma concubina trouxe, sobre uma almofada luxuosa, Col Rhyper. Ley riu em silêncio, aquela espada não lhe faria mal algum.

O carrasco pegou a espada como se ela fosse faca, sua mão grande envolvia o cabo completamente. Ele fez Ley se ajoelhar diante do bloco, deitar a cabeça no lugar determinado e colocou uma cesta de madeira embaixo, onde as cabeças cairiam. Ley olhou uma última vez para todos ali presentes com seu sorriso sarcástico e debochado no rosto. Mossah mirou o pescoço dele, levantou a espada acima da cabeça e baixou com toda a força sobre Ley.

Quando estava prestes a atingir Ley, a espada rodopiou no ar, escapulindo da mão firme do carrasco e cortando-lhe o abdômen. Vários órgãos internos importantes foram atingidos, em especial o intestino. Levando as mãos à barriga, o grande homem com um saco na cabeça caiu de joelhos e tombou para a esquerda, caindo do palco. Todos ali ficaram chocados ao ver a cena bizarra. Após dois minutos de choque total, Farid conseguiu pensar direito e mandou chamarem outro carrasco. Ley apenas levantou sua cabeça para olhar as faces dos espectadores, fez esforço para conter o riso e a língua.

O segundo carrasco chegou quinze minutos depois. Ele trazia um machado do mesmo estilo do de Mossah, usava o mesmo uniforme, era gordo e muito grande e o saco da cabeça mostrava apenas um olho. O novo executor não perdeu tempo com espetáculos, colocou Ley na posição imediatamente. Ley pensou um pouco, olhando para o machado de Mossah. O impacto de uma arma daquelas não iria decapitá-lo, mas quebraria o seu pescoço, aleijando-o completamente. Então fez uma magia em silêncio, um escudo que iria destruir qualquer coisa que passasse por ele, e o colocou em volta da cabeça. Quando o pesado machado desceu, encontrou a barreira e se espatifou em dezenas de pedaços, deixando apenas o cabo nas mãos do carrasco.

A segunda interrupção deixou Farid irado. Tomado pela fúria, o capitão tirou Ley do bloco, levou-o até um grupo de guardas e ordenou a seus homens:

– Levem-no daqui e o enterrem no deserto. Bem longe.

– Sim senhor! – Respondeu o guarda mais experiente. Os três homens amarraram Ley completamente e o jogaram numa carroça. Dois foram no banco do piloto e o outro ficou vigiando Ley.

– Vamos dar uma punição melhor a este infiel! – Gritou Farid para tranquilizar a multidão à beira do pânico – Ele será enterrado bem longe daqui.

A atitude foi aprovada pela plateia e o espetáculo seguiu sem mais interrupções.

Ley contou que cerca de cinco horas haviam passado quando os guardas pararam a carroça. Eles o deixaram amarrado e começaram a cavar um buraco, uma cova de sete palmos de profundidade. Após o árduo trabalho, Ley foi jogado no buraco e caiu de cara no chão. Ele odiava o Sol. Se não fosse por toda aquela luz e todo o calor, Ley teria se libertado horas antes. Mas o dia permanecia quente, seco e inabalável, enquanto ele era enterrado no meio do deserto. O trabalho de enterrar Ley durou mais duas horas. Sua espada fora levada e foi cravada na areia, próxima à cova, para simbolizar que lá havia um túmulo. E assim o homem de Angband foi deixado: enterrado nos inóspitos desertos de Harud.

Continua…