“Pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados.”
Esse trecho foi retirado do prólogo do primeiro romance escrito por uma autora brasileira. Descobri Maria Firmina dos Reis por acaso, enquanto desbrava um lado histórico da cidade de São Luís à procura dos bustos de autores consagrados da Literatura Maranhense, e quando me dou por corta, deparo com o busto da autora e uma pequena nota no pedestal, revelando sua importância. Fiquei com o nome dela na cabeça, obrigando-me a não esquecê-la enquanto não fizesse um post sobre quem foi Maria Firmina dos Reis, então vamos conhecer um pouco sobre sua vida, seus valores e suas obras literárias.
Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luis do Maranhão no dia 11 de Outubro de 1825, era filha bastarda e mulata, nunca frequentou uma escola, na época permitido somente aos brancos do sexo masculino. Maria Firmina foi criada por uma tia materna no município de Viamão, lá viveu até a morte em Novembro de 1917. Autodidata, passou a lecionar como professora de primeiras letras (hoje alfabetização). Falava e escrevia em francês fluentemente e colaborou para vários jornais maranhenses. Era solidária a causa abolicionista, seu primeiro romance, Úrsula, tratava sobre as minorias exploradas por uma sociedade patriarcal e escravocrata. Em seus textos a autora abordava as relações econômicas, sociais e culturais da época. Visionária, discutia sobre os direitos dos negros muito antes de Castro Alves, considerado o Poeta dos Escravos.
As obras de Maria Firmina e sua importante atuação na literatura local permaneceram esquecidos por muitos anos. Porém na década de 1970 seus escritos foram retirados do porão de bibliotecas em razão de uma data comemorativa, o 150° aniversário de nascimento da autora. No entanto, ainda hoje pouco se ouve falar sobre o importante papel de Maria Firmina dos Reis na sociedade maranhense tanto como escritora como por pessoa. Suas causas iam além dos direitos justos, prezava a caridade e humanidade numa época em que poucas mulheres eram alfabetizadas e os negros marginalizados.
Maria se aposentou aos 81 anos,depois de fundar uma escola mista, para meninos e meninas. E faleceu aos 92 como tanto outras Marias, cega, pobre e esquecida.
Deixou para o legado da Literatura Maranhanse e Brasileira 2 romances (Úrsula, 1858 e Gupeva, 1861/62), contos (A Escrava, 1887), poesias, poemas e composições musicais.
Maria Firmina dos Reis é considerada pelos historiadores a primeira romancista mulher e afrodescendente, e a primeira poetiza brasileira. No dia 11 de Outubro é comemorado o Dia da Mulher Maranhense em homenagem à escritora.