Nossa incompreensão sobre a vida está no cerne de todo tipo de obra já publicada literariamente. E como não seria? Existe algo mais confuso, impreciso e dúbio do que nossa existência? Eu, por exemplo, sempre me vi como um erro. Uma realidade alternativa em que alguém que era para ter sido abortado, não ter nascido de maneira alguma, tornou-se um sobrevivente. Vejo-me assim até hoje. Talvez, por isso, que não consigo deixar minha insensibilidade de lado. Minha compreensão pelas particularidades de um mundo que não me queria acaba me dando uma curiosa adoração pelas mínimas coisas, mas pouco sentimento quanto a morte. Ela sempre está lá, mas achamos melhor não pensarmos nela. Gostamos de pensar que somos invencíveis, sentimos-nos diariamente como faraós de um mundo em caos e que nada poderá nos atingir. Sustentamos a filosofia de que o vizinho pode sofrer algo, mas nós nos cuidamos bem, obrigado.
Vou contar uma história agora que nunca contei para ninguém e me sinto compelido a contá-la neste momento:
Eu tinha por volta de 12 anos, quando me deparei com ela pela primeira vez. Havia ouvido falar dela, mas nunca havia lhe visto. Foi com ela que aprendi até onde minha insensibilidade poderia chegar, e ela, mesmo que não saiba, acabou-me orientando no meu processo de compreensão pessoal. Estávamos no colégio quando ela cumprimentou alguém que eu conhecia e conseguiu-lhe seduzir. Ela o enganou. Fez-lhe achar que apenas iriam brincar e o fez subir em uma cadeira que era palco de várias brincadeiras que já havia feito com sua mãe; convenceu-lhe a pôr mais uma vez uma corda em seu pescoço. Só que naquele dia, decidiu aproveitar-se do garoto e empurrou levemente a cadeira.
Quando a mãe do garoto chegou, já era tarde. Os dois haviam fugido juntos. Aulas foram canceladas, pessoas saíam aos prantos e a semana do colégio foi dedicada para os dois, algo que não compreendia muito bem. Lembro-me até hoje que era um dia antes do feriado de Tiradentes e muitos fizeram piadas envolvendo o dia com o acontecimento. Sonhei por dias com os dois no alto de um prédio; eles sempre pulavam e pediam para eu ir junto.
Já cruzei com ela outras vezes. Primeiramente em sites, depois nas histórias que os garotos costumavam contar nos intervalos ou quando nos reuníamos na minha casa para jogar bola. O tema sempre foi muito querido em reuniões adolescentes. Ela já seduziu e levou também muitos conhecidos e familiares, mas nunca me abalei com ela; pelo contrário, apenas sentia medo de que também quisesse fugir com pessoas que eu amava. Às vezes a percebo na sombra, tentando não ser notada e esperando o momento certo para o ataque. Contudo, dou-me conta de que não sou mais o garotinho de 12 anos que ainda não a conhecia. Hoje tentaria enfrentá-la, mas sem sucesso, provavelmente, render-me-ia aos caprichos dela lhe dizendo: ei, podemos visitar aquele meu amigo?


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