Crime e Castigo é uma das obras primas de Fiódor Dostoiévski e narra a história do estudante Raskólnikov que comete um assassinato e passa a tentar justificá-lo com uma teoria própria. Mas, ainda assim, passa por angústias durante toda a narrativa.
Nina é a estreia Heitor Dhalia como diretor longas-metragens. O filme, que é uma livre referência ao clássico da literatura, ganhou o prêmio da crítica em Moscou por ter sido considerado capaz de capturar a atmosfera psicológica da obra original, em sua atualização para uma metrópole urbana como São Paulo.
O que eles têm em comum?
Dhalia afirma que nunca teve a pretensão de adaptar a obra de Dostoiévski e que vê o filme mais como um “caderno de anotações” sobre Crime e castigo. Ainda assim, a transferência da atmosfera do livro para a narrativa cinematográfica é muito bem sucedida.
O diretor morou seis meses no centro de São Paulo e aponta essa experiência como fundamental para a construção da abordagem adotada no filme. Além de considerar as pessoas com quem conviveu bem próximas aos personagens do escritor russo na São Petersburgo do século XIX.
Nina (a protagonista) é de fato a versão que Dhalia criou para Raskólnikov. A culpa está presente nas duas obras. Se no primeiro caso a morte da agiota, que seria na teoria libertadora, causa todo o transtorno que permeia a narrativa, no segundo, Nina também acredita que se livrar da causadora de sua repressão a fará menos atormentada. Nas duas situações os personagens não têm seus objetivos alcançados com o assassinato.
Essa não a primeira vez, nem de fato será a última, em que o áudio-visual se vale da
literatura para construir uma boa história. Recriar Dostoiévski não é uma tarefa fácil em nenhum tipo de mídia e Nina é a prova de que, com os elementos adequados, é possível realizar um trabalho eficiente. E que há como imprimir identidade própria até mesmo se tratando de um livro que faz parte do imaginário popular.