Foi enquanto se admirava no espelho, observando cada cicatriz do que já havia sido o rosto de alguém jovem. Estava com 40 anos e o homem que o julgava do outro lado do espelho não era mais o mesmo de dez anos atrás. Era uma pessoa completamente diferente e que avaliava cada passo percorrido por ele, ponderava sobre cada ação e parecia ironizar para onde a vida o levava.
Analisando cada centímetro de seu rosto, lembrava-se de algo que custava a chegar até a superfície de sua memória – a morte. Era isso que a sua face parecia refletir: a própria morte. Chocante, cínica, possuidora de ares levemente selvagens, mas indolor para quem está ao seu lado. Fazia sentido! A razão de nunca ter conseguido dividir seus temores com outra pessoa e encontrar felicidade era exatamente isso: seus contornos assustadores.
Espelhos podem dizer tudo o que precisamos saber a nosso respeito, calculava Anderson. Ainda que prefiramos mentiras ao invés de verdades em nosso dia-a-dia, quando estamos à frente dele, nossa alma parece ser completamente desnudada: sentimo-nos vivos e naturais.
À medida que brincava com os vestígios que o vapor quente do chuveiro deixava no espelho, lembrou-se do avô. Havia sido assim que sua vida expirou. Sozinho em seu apartamento, sem ninguém para ouvir os gritos desesperados que pontuavam o barulho da água que caía em sua banheira. Anderson nunca conseguiu se perdoar por não ter ficado ao seu lado nos instantes finais ou ter o acompanhado ao hospital no seu primeiro diagnóstico.
Sonhou com ele na noite passada. Com seu espírito, na verdade. Foi um sonho um pouco macabro. Vários familiares faziam um círculo ao seu redor e embalavam uma cantiga em uma língua estranha. Foi seu avô que pediu para ele estender uma das mãos que serviria para receptáculo do ódio. Segundo o que foi dito, pelo menos o que Anderson ainda lembrava, quando repousasse a palma da mão escolhida em uma pessoa que estivesse em seu caminho, o primogênito desta seria amaldiçoado até o fim de seus dias. Ele estendeu a esquerda. Logo, uma bíblia foi deitada ali e enquanto o canto dos familiares ao redor se intensificada, o livro divino era queimado. Era até ali que lembrava.
Pensando bem, o reflexo do espelho parecia-se muito com seu próprio avô. Ao passo que esses pensamentos o atormentavam, Anderson não percebeu entre um desvio de olhar e outro aquela imagem refletida não correspondendo aos seus passos. Sentiu um último arrepio percorrer seu corpo antes de pegar uma navalha para fazer a barba.


![[Coluna] A bomba debaixo da mesa: Carrie! Montagem com uma pelicula de filme na horizontal, mostrando dois frames, o da esquerda mostra um recorte de um cena do filme "Carrie, A Estranha" de 1976, onde está a personagem Carrie, vista do busto pra cima, ela está coberta de sangue, e com olhar assustador, em um fundo azul escuro. No frame da direita está um recorte da capa do livro Carrie, edição da Suma das Letras, em tom rosa, a capa mostra o rosto de Carrie, no topo o nome do autor "Stephen King" em branco, e sangue vermelho escorre pela capa.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Carrie-Vitrine-Coluna-Filme-Livro-Site-696-390-ok-218x150.jpg)
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![[Coluna] Agente Carter – Primeira Temporada Vitrine da coluna. Em primeiro plano, no centro, o postêr da série Agente Carter, que mostra a personagem de vestido azul, chapéu vermelho escondendo o rosto e segurando uma arma, boa parte de sua imagem é coberta pelas sombras, e o fundo é escuro, à fentre dela está o título da série "Marvel - Agent Carter". No fundo da vitrine, um recorte da capa de uma história em quadrinhos que mostra Carter apontando uma arma segurando com as duas mãos, o desenho é em tons cinzas e com as cores vermelha e branca da bandeira americana no fundo.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/03/AgenteCarter-Site-696-390-218x150.jpg)
![[Coluna] Diga o seu nome Montagem com uma pelicula de filme na horizontal, mostrando dois frames, o da esquerda mostra um recorte do postêr do filme "Candyman" que mostra o personagem do título, um homem negro de costas com um casaco escuro e um ganho no lugar da mão e uma abelha pousada no gancho, e o título do filme em amarelo. No frame da direita está a capa do livro "Candyman" da Dark Side Books, onde mostra uma colméia de abelhas no fundo e em primeiro plano o nome do autor Clive Barker e o título do livro.](https://leitorcabuloso.com.br/wp-content/uploads/2022/01/Candyman_Vitrine-Coluna-Filme-Livro-Site-696-390-ok-218x150.jpg)


