Sinopse:
A vida nunca foi fácil para Oscar. Nerd, dócil e terrivelmente obeso, morador do gueto de Nova Jersey, ele sonha em se tornar o Tolkien dominicano e, sobretudo, em encontrar um grande amor. No entanto, é possível que nunca realize seus desejos, graças ao fukú – uma antiga maldição que assola a família de Oscar há gerações, condenando seus parentes a prisões, torturas, acidentes trágicos e, acima de tudo, a paixões malfadadas. Oscar, que ainda anseia pelo primeiro beijo, é sua vítima mais recente – até o verão fatídico que ele decide tornar o seu último.
(fonte: primeira orelha de A fantástica vida breve de Oscar Wao)
Erroneamente vendido como “a estória de um dominicano nerd que almeja se tornar o novo Tolkien”, talvez apenas 20% da obra verse sobre Oscar. O que é um alento pois ele é certamente o personagem mais sem graça dentre todos a que o autor nos apresenta. As citações e referências nerds são divertidas? Sim, sem dúvida. Contudo, não são tão interessantes quanto as extensas notas de rodapé – a maioria referenciando Rafael Trujillo – ou o passado da família de Oscar – a mãe, Belicia Cabral, a “avó”, La Inca e o avô, Abelard Cabral. Há ainda alguns capítulos dedicados a Lola, irmão de Oscar, e Yunior, colega de quarto de Oscar na faculdade e, casualmente, o narrador.
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Seria até aceitável afirmar que o protagonista da estória é o próprio fukú, já que é sua origem que vamos descobrindo aos poucos, ao voltar no tempo e, acompanhando a trajetória de cada um dos personagens, chegar àquela noite fatídica da festa de Trujillo em que Abelard optou por ir desacompanhado. Noite em que o destino da família foi traçado, desembocando na vida enfadonha e sem perspectivas de Oscar – vida nem tão breve assim.
À medida que a leitura avança, a figura de Trujillo vai tomando maiores proporções, deixando o leitor cada vez mais próximo dele, o que não é uma sensação das mais agradáveis. Acredito que muitos leitores, assim como eu, da República Dominicana sabiam apenas que existia e que era um país “ali pra cima”, no Caribe. As notas de rodapé e a curiosidade suscitada por elas, com certeza, levam boa parte dos leitores a recorrer ao Google à procura de mais informações, tanto sobre o país quanto sobre “El Jefe”. O mais impressionante é que quanto mais se lê a respeito da ditadura de Trujillo, mais aterrorizante fica o personagem. Maior é a tensão causada pela menção de seu nome, principalmente no capítulo que conta a estória do avô.
A proximidade dos idiomas talvez atrapalhe um pouco o efeito de um texto escrito originalmente em espanglês. O original certamente tem um atrativo estilístico maior pois, devido à tradução, os termos em espanhol entremeados ao português muitas vezes dão a impressão de ser um erro de impressão ou revisão. Isso atrapalha um pouco a leitura já que em vários trechos o portunhol não consegue obter o mesmo efeito.
Enfim, se o leitor inicia a leitura em busca de uma aventura nerd, não é bem isso que irá encontrar. Se for sem expectativa alguma, poderá se deliciar com a saga de uma família que, através de seus dissabores e tragédias, explicita os meandros políticos da ditadura de Trujillo. O entrelaçamento da nerdice anódina de Oscar com a cultura e a herança dominicana garantem ótimos momentos durante a leitura.