“O Sobrado da Rua Velha” de Jeremias Soares

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Autor: Jeremias Soares
Editora: Multifoco
Origem: Brasileira
Edição: 1ª
Ano: 2012
Páginas: 252
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Sinopse: O Sobrado da Rua Velha conta a história da aparentemente perfeita família Selbach, que apresenta na sua estrutura graves problemas que são muito bem escondidos. Joel é o sujeito casado com uma celebridade que está prestes a explodir por causa do stress da cidade grande. Cristina é a mulher amada pela mídia que sofre as consequências de um grande trauma. Pedro, um dos filhos do casal, é um garoto emocionalmente frágil… Desejando acabar com esta situação, Joel resolve se mudar com a família para uma antiga casa localizada em um ponto escondido da região metropolitana de Porto Alegre. A tal propriedade, herança de família, foi restaurada e modernizada, tornando-se um lugar repleto de confortos que uma família da classe alta necessita. No entanto, existem marcas que nem a melhor das reformas é capaz de remover. Acomodados na “casa dos sonhos”, os Selbachs acabam presenciando uma sequência de fenômenos inexplicáveis e assustadores. Fantasmas? Não, o problema no sobrado é muito mais complexo. Muito mais perigoso.

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Análise:

Lugares ou mais especificamente casas onde acontecem fenômenos sobrenaturais, seja a natureza deles comprovada claramente ou não, é um tema recorrente quando falamos de histórias de terror. Soares, usando essa ideia-base, escreveu este que é o seu primeiro romance. Adentrar o sobrado localizado na Rua Velha na cidade de Canoas (Rio Grande do Sul), ao abrir o livro, foi como começar a assistir um dos episódios da famosa série Contos da Cripta ou Além da Imaginação em que os enredos costumavam ser simples, mas sempre atraiam audiência.

O foco narrativo é em terceira pessoa e a focalização heterodiegética, interna, onisciente e interventiva. É importante mencionar os aspectos da focalização, como o narrador age perante a história, porque isso determina alguns dos recursos de enredo que podem ser usados. Pegando gancho no pensamento anterior, aproveito para analisar um dos recursos que afetou bastante a leitura. Estou falando da anacronia de tipo prolepse, ou seja, quando o narrador antecipa alguma coisa vindoura, como, por exemplo, avisar que os motivos que levaram uma personagem a fazer determinada ação serão explicados mais a frente. Como podemos deduzir, o uso de tal acessório narrativo requer muito cuidado, uma vez que pode diminuir a carga de surpresa da trama ao invés de provocar a curiosidade. Em dois pontos da obra, o narrador faz uso desse recurso, mas o efeito é a dissipação de tensão. O ocultamento do que foi dito teria proporcionado um desfecho mais envolvente, levando em consideração que as especulações acerca da história seriam em maior número.

Outra coisa que tornou a leitura menos prazerosa foi o elevado número de erros de revisão na edição que li. É importante avisar que, segundo o que me disse o autor, a revisão foi refeita na nova edição, o que deve ter diminuído a quantidade de falhas. Nas cenas mais cruciais, esses deslizes foram graves porque quebraram a imersão na emoção da sequência narrada.

Mesmo que os fundamentos de “O Sobrado da Rua Velha” não tenham ido além do que vemos na maioria das histórias de terror, deixando de imprimir alguma marca estilística, uma subjetividade do escritor, o trabalho de Jeremias Soares ganha pontos pela narrativa ágil que se concentra no problema central (como a influência perniciosa da residência repercute nas personagens) e pelo viés psicológico que deixa o medo mais vivaz. No final das contas, o que fica demonstrado é como a mente humana pode ser o elemento mais horrendo quando cindida entre segredos, desejos obscuros e sentimentos turbulentos.

Os eixos da história são, além de Joel e Cristina, Juliana, a filha mais velha, Pedro, o filho do meio, Adriana, a filha caçula, e Samuel, filho da falecida irmã de Joel. Juliana não chega a auxiliar tanto na construção do clímax, mas em compensação o núcleo formado por Samuel, Pedro e Adriana funciona muito bem porque traz o sobrenatural como uma força que vai rapidamente de uma espécie de sinistro inocente (insinuando-se singelamente) – lembremos o clássico cinematográfico Poltergeist– para uma entidade cujo único propósito é destruir ao disseminar-se. Enquanto isso, Joel e Cristina são uma crítica ao endeusamento, promovido pela grande mídia, de celebridades, um negócio que gera lucro obviamente. Isso fica evidente em como as suas neuroses, habilmente camufladas quando viviam na cidade grande, vêm à tona pelo contato com a presença que habita a moradia.

Se você gosta de ler histórias que seguem uma estrutura consagrada no terror e que não dá muito espaço para o leitor distanciar-se da experiência de medo simulado, lhe recomendo “O Sobrado da Rua Velha”. Minha nota é três selos cabulosos e meio.

Nota:

Três selos cabulosos e meio
Três selos cabulosos e meio