Por um mundo de mais leitores

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A polêmica draconiana serviu para apontar algo muito mais grave: que o principal problema da leitura no país são os próprios leitores

liberdade1“Prefiro que as pessoas deixem de ler, ao ler o que os blogueiros estão indicando”, assim afirma o texto supracitado no CabulosoCast 58. E infelizmente, afirmações como esta não são casos isolados, muito pelo contrário, de uns tempos pra cá, “formadores de opinião” têm proclamado o fim da literatura e o declínio de um país de leitores dado ao boom que o mercado literário brasileiro deu nos últimos anos. Segundo estes formadores, é ruim que as pessoas estejam lendo mais, pois suas leituras não condizem com a leitura “real” que obviamente seriam os livros que os tais “formadores” leem ou leram.

Depois que publicamos o CabulosoCast 59, falando abertamente nossas opiniões sobre a polêmica da censura draconiana, chegou até mim, vindo por diversos ouvintes-leitores, os textos mais diversos dessas pessoas que apregoam o fim da literatura. Para ratificar como estes leitores pensam, cito aqui o texto do Bruno Krasnoyev, colunista do R7, que em sua coluna Tá Lendo Por Quê? convoca os novos escritores a deixarem de escrevem e virarem pedreiros e conclui: “Você está lendo pra quê? Vá ver o filme!”. Por quê? Não há outra pergunta, por que quando começamos a caminhar para termos um país de leitores surgem estas entidades gritando: PAREM DE LER! PAREM DE LER! VOCÊS ESTÃO CONDENANDO A LITERATURA BRASILEIRA! O que elas querem? Estão realmente preocupadas com a literatura nacional? Qual o motivo deste discurso tão raivoso contra os novos leitores?

Acho que estas pessoas estão com medo. Medo de quê, você me pergunta, caro leitor? Medo de perderem a função social que eles encarnaram desde de que são leitores conscientes de si. Quando estas pessoas começaram a ler, eram uma minoria, eram tachados de Nerds, de CDFs, sofriam bulling… por isso desenvolveram uma série de pensamentos em legítima defesa. E que hoje caem por terra, já que muitos deles solidificaram suas carreiras sobre suas “tábua da lei”, “sou leitor, por isso sou melhor”. E criaram o que chamarei daqui em diante da “Maçonaria da leitura”. E se consideraram “iniciados”, sendo, lógico, os não-leitores, os não-iniciados.

Naquela época, eles eram os que chegavam as universidade/faculdades, hoje com a democratização do ensino existemsociedade secreta faculdades/universidades para todos. Naquela época, eles ficavam na primeira fila acompanhados de duas ou três pessoas para pegar o autógrafo do seu escritor favorito que lhe dava atenção quase que exclusiva, hoje eles precisam brigar com uma multidão que conhece, aplaude, e forma uma fila enorme para receber o mesmo autógrafo. Naquela época, eles liam tranquilamente e chegavam diante de seus “amigos não-iniciados na maçonaria dos leitores” para arrotar sua erudição e serem encarados como intelectuais, hoje eles precisa aceitar que uma crianças de 10 anos leu tantos livros que estiver com a mesma idade que os “iniciados”, terão lido o dobro, quem sabe até o triplo de livros. Naquela época, os iniciados só andavam com iniciados, e formavam o que apelidei mais acima da “maçonaria dos leitores”, eles não propagavam a leitura, apenas ficavam repetindo versos uns para os outros em um regozijo sem fim. Colecionavam livros que ficavam para seus pares; hoje, são obrigados a conviver com várias pessoas que não param de falar dos livros que leem em blogs, vídeos, podcasts e mídias sociais no geral, que pregam a leitura para outras pessoas rompendo a tal “sociedade secreta” e mostrando para todos que ler é bom, que ler não é um dom que é algo normal e qualquer pessoa pode ler. Percebem? Isto quebra o status que os “iniciados” tinham, eram melhores porque liam, como poderão admitir que pessoas comuns que não tem nenhuma característica especial leiam? Percebem como isto é humilhante, para eles? Quem lê são médicos, professores, psicólogos são os “doutores” – expressão que aqui no nordeste é aplicada a qualquer pessoa que aparente possuir ensino superior. Como poderão admitir que cobradores de ônibus, garis, domésticas estão lendo? – Pode até soar preconceituoso, mas o preconceito existe sim! Para os iniciados a leitura é algo elitista, por isto escrevem texto alegóricos sobre catadores de lixo que entram na universidade e montam bibliotecas, por que a universidade e a biblioteca ainda são consideradas metas da elite, não? Os não-iniciados não têm nada de “especial”, daí criticam os livros que leem, os autores que são lidos… e a roda viva não para. Observem bem, faço este convite, olhe a titulação destes cronistas, veja se seus títulos não estão ligados a seus nomes, como por exemplo, o autor do texto 10 livros para idiotas o qual fiz o vídeo resposta: Tadeu Braga é publicitário. Estas pessoas cresceram assim são “iniciados”.

Não estou dizendo que todas as pessoas de formação acadêmica têm esta postura, longe disso, contudo acredito piamente no que lhes digo mais acima. Isto explica, também, por que o ataque parece recair sobre os autores e leitores de literatura fantástica. Os “iniciados” não querem que hajam muito leitores, eles preferem ficar detrás de suas “cátedras” reclamando do povo ignorante que assiste a BBB e novela e não lê livros, assim é mais fácil, é mais cômodo. Assim, eles poderão sentar-se em meio aos seus amigos não-iniciados e discursar como o país estará arruinado enquanto esta população de “ignorantes” não acordar e perceber que só a leitura libertará, contudo isto é tudo que farão, falar, falar, falar… como fazem com estes textos, escrevem, escrevem, escrevem….

Já faz um certo tempo um ouvinte me perguntou qual era a frase para colocar abaixo da logo do site. Pensei e saio o que vocês podem ler atualmente no topo do site:

logo-lema-lc

Porém, recentemente concluí que o real papel do site não é apenas “entreter”, mas trabalhar para termos um mundo de mais leitores, por isso, durante esta semana trocaremos o subtítulo para: Leitor Cabuloso – Por um país de MAIS leitores. Muito mais do que simplesmente uma troca de lema, montamos a partir de hoje uma campanha, não somente eu, mas toda a equipe do LC. Estamos escrevendo, resenhando, produzindo podcasts e vídeos com um único objetivo: incentivar mais pessoas a lerem! Queremos contagiar os não-leitores, não somos uma maçonaria, podemos e devemos deixar preconceitos bobos e ingênuos por este projeto que é muito maior.

“Mas, Lucien, vocês já não faziam isto?” Sim, mas não tínhamos como uma meta clara e exposta a todos que frequentam o site. A partir de hoje todo o visitante poderá perceber claramente que este é um site que possui como único e principal objetivo fazer do Brasil um país de leitores e vamos combater os “iniciados”, aqueles que se acham donos da literatura nacional que disfarçadamente usam seu discurso pró-leitora para afastar leitores em potencial. Nós não queremos mais estar sozinhos, não queremos pertencer a um nicho. Que nossos vizinhos, colegas de faculdade, amigos da escola possam levar seus livros debaixo do braço. Que possam se cumprimentar no meio da rua quando encontrarem mais e mais pessoas como ele, pessoas normais que leem por que amam ler que são apaixonados pela leitura. Não temos dons, não somos especiais apenas gostamos de ler e ponto-final.

liberdade (1)Se você se sente assim, seja bem-vindo a família dos leitores. Comecem espalhando este texto. “Compartilhe”, esta é a palavra-chave. Seja uma imagem de um novo livro, seja frases de sua obra favorita, você não precisa sentir vergonha, saia agora da sua toca, e opine, compartilhe esta paixão que bate em seu peito. Fale apaixonadamente do livro que você ama e quando alguém lhe olhar com desdém abra um sorriso e diga: “por que você não lê também para podermos conversar sobre o livro juntos?”.

Lembrem-se sempre de que estamos lutando #porumpaísdeMAISleitores.