“Soube, enfim, encobrir sua desgraça sob o véu da polidez.”
Edição: 1
Editora: L&PM
ISBN: 8525414778
Ano: 2006
Páginas: 226
Tradutor: Ivone C. Benedetti
Skoob
Sinopse:
Eugênia Grandet (1833), conta a história de um amor frustrado e ao mesmo tempo da falta de adaptação das pessoas à sociedade materialista. Eugênia é filha de um dos maiores avarentos já descritos na literatura. O livro foi tão bem recebido que Balzac se irritava com as críticas positivas. – Ora, deixem-me. Os que me chamam de pai de Eugênia Grandet querem me diminuir. É, decerto, uma obra-prima, mas uma obra-prima pequena. Eles evitam citar as grandes, dizia Balzac. POR QUE LER – Balzac foi um dos grandes retratistas da burguesia francesa do século XIX e possuía extrema habilidade para criar personagens.
Um clássico de 1833, Eugênia Grandet é sobre a história da personagem que dá nome ao livro, e o cotidiano de sua família abastada, numa província francesa. Eugênia é filha única de um rico comerciante avarento, o sr. Grandet. A história se passa na primeira metade do século XIX. O livro é rico em detalhes, tanto na ambientação como nos próprios personagens. Honoré de Balzac escreve de forma poética os hábitos da sociedade do interior da França, bem com seus costumes tipicamente rurais e econômicos. O pai de Eugênia é a personificação da avareza na terra. Dono de muitas terras, com uma reputação respeitada na cidade, adquiriu fortuna por causa dos vinhedos, algumas terras arrendadas e uma abadia, bem como por ter se casado e ganho o dote de sua esposa. Com um talento exímio em administrar seus negócios, aumentou sua fortuna e vive o tempo inteiro economizando, fazendo contas e cobrando seus arrendamentos.
Por meio de um infortúnio do destino, seu sobrinho, filho de um irmão distante, fica a seus cuidados. E acaba virando alvo de afeição da garota Eugênia. Seu amor por ele não pode ser consumado de forma alguma porque o rapaz agora se encontra pobre, e seu pai nunca aceitaria entregar sua filha [e principalmente sua fortuna] nas mãos de um pobretão. Além disso, há rapazes com muitos bens de olho em Eugênia, embora até pra esses, o tanoeiro se recuse a dar a mão de sua filha. “Estão aqui por causa dos meus escudos. Vêm aborrecer-se de olho em minha filha. Pois bem, minha filha não será nem de uns, nem de outros, e toda essa gente me serve de arpão para a pescaria.” Seu belo primo precisa partir, e ela oferece sua pequena fortuna para que ele refaça sua vida e volte para desposá-la. Nesse meio tempo, o sr. Grandet descobre que sua única filha deu seu ouro para o rapaz…
Um dos pontos fortes da narrativa está na descrição do pai de Eugênia, um velho sovina, que passa os dias a contar e recontar seus lucros, calculando juros e deixando a família praticamente a passar fome. Age como gago ao fazer qualquer acordo comercial ou quando vende seus produtos, mas em casa fala normalmente. Vive dando uns centavos a esposa, para mais tarde se lamuriar que não tem um tostão, a fim de que ela se compadeça e acabe por lhe devolver o dinheiro que ganhou dele [e sempre consegue de volta]. O tanoeiro Grandet é do tipo de avarento que não desperdiça nem as migalhas que caem de sua mesa… Outra personagem bem interessante é a empregada da casa, Nanon, que usa de astúcia a fim de enganar seu patrão e poder colocar comida a mais na mesa de suas patroas… Nanon é uma solteirona do tipo gigante, que cuida da casa e da senhora Grandet com muita dedicação. Cuidou de Eugênia desde a meninice, e é quase um membro da família, devido a anos de trabalho e zelo com seus patrões. Eugênia a princípio se mostra de um temor demasiado pelo pai, mas com a descoberta do amor, na figura de Carlos, acaba por enfrentar a autoridade do pai. A mãe de Eugênia é de uma fragilidade gritante, retrato da maioria das mulheres da época, submissa e obediente ao seu marido. Não questiona suas decisões, acata suas ordens com um medo de sofrer possíveis represálias, e com a saúde extremamente frágil…O primo Carlos é um rapaz raquítico, sensível, tipicamente um ‘mocinho de porcelana’, delicado e frágil, que após o terrível destino de seu pai, encontra no afeto de sua prima uma oportunidade de ganhar uns tostões. Não que ele seja vigarista, mas acredita que sua viagem para ‘refazer sua fortuna’ o fará recuperar os bens de seu pai. No final, demonstra sua verdadeira natureza de rapaz riquinho e mimado…
Outro ponto interessante é a maneira nada encantadora em que termina o romance. Nada de finais felizes, apaixonados e frutíferos [ao menos para nossa protagonista], e sim, um desfecho cru que beira a realidade de inúmeras Eugênias do ‘século romântico’. Abandono, solidão, desilusão… tudo tende ao fracasso de uma vida… Eugênia é do tipo de mulher que “Soube, enfim, encobrir sua desgraça sob o véu da polidez.” Em meio a tantos infortúnios, a pose de garota rica e elegante perdura, a despeito de sua tragédia…
Nota