O enigma das sete cabeças – Parte 1

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vulto-destaqueMacumba

“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados loucos por aqueles que não podiam escutar a música.”

Friedrich Nietzsche

– Amor… Amor! – Diz Andressa, enquanto empurra o ombro de seu marido Lucas, sonolento e largado na outra extremidade da cama.

– O que é Andressa? Pare de me empurrar!

– Amor, tem alguém tocando a nossa campainha!

– Que horas são? – Questiona Lucas. Em seguida, Andressa se levanta da cama. Ela veste as suas aconchegantes pantufas cor de rosa e apanha o relógio sobre a cômoda do quarto, constatando que faltam quinze minutos para as quatro horas da madrugada.

– São quase quatro horas. O que você acha?

– Acalme-se amor. Eu nem estou escutando nada. Você tem certeza que escutou a campainha tocando? – A voz de Lucas é de um notório menosprezo, deixando claro que ele não está se importando para o que sua esposa está lhe contando, até que novamente a campainha toca e ele, dessa vez, escuta nitidamente.

– É verdade mesmo!

– Ai, está vendo! Eu não disse! – Diz Andressa, quase atirando o relógio no rosto de seu marido.

– Mas, você não quer que agente desça lá embaixo essa hora para ver o que é!

– Não sei Lucas, mas para estar insistindo tanto, deve ser alguém pedindo ajuda, ou, sei lá.

– Minha filha, olha a hora! Seja quem for agente não deve ir lá embaixo. Nem em sonhos agente deve descer e abrir a porta da rua nesta hora da madrugada!

Enquanto o casal discute se deve ir ou não atender aporta, o som da campainha continua insistente, e o silencio da madrugada corrobora para que ele fique ainda mais evidente e intolerante, chegando a ser assustador:

– Caramba! Quem está fazendo isso uma hora dessas? – Diz Lucas, alterando o tom de voz.

– Meu Deus amor! Isso não está normal!

– Verdade! Eu preciso ir lá ver isso, e seja o que Deus quiser. Você vem comigo?

– Sim, vamos lá ver!

Rapidamente, Lucas se levanta e veste uma camisa, na qual há uma bela estampa com o símbolo do Uísque Johnnie Walker. Ele também veste uma calça de moletom de cor bege e parte para ir ver quem está incomodando a sua paz e paz da de sua esposa.  Andressa, vestida com uma bela camisola – branca e transparente – se cobre com um jaquetão preto, e o segue. O casal desce as escadas de seu sobrado tomando a precaução de não acender as luzes, enquanto o sonoro barulho da campainha vai ecoando pelos demais cômodos desertos da casa, como uma constante sinfonia: Ding Dong, – ré e lá bemol. Um binário simples.

Enquanto o casal dirige-se até a porta da sala, novamente o espirito preocupado de Andressa alerta seu marido.

– Amor, pensando melhor, está tarde. Você não acha perigoso agente sair para ver isso agora?

– Não amor! Você não me acordou para eu ir ver isso? Então, vamos lá ver o que é! – A voz de Lucas soa autoritária, não dando margem para maiores discussões.

Os dois abrem a porta da sala com extremo cuidado e cautela, para não fazerem barulhos bruscos. Ao abri-la, eles percebem que a madrugada está bastante fria e escura, em razão da noite anterior ter sido uma noite de lua nova. A vizinhança está quieta e apenas o som das geladas rajadas de vento pode ser escutado. São fortes e estridentes assovios, que lembram os lamentos de um velho Coiote, vagando perdido sobre as areias noturnas de um deserto. Quando Lucas coloca os pés no corredor do quintal, que dá acesso ao portão da rua, ele percebe que o som da campainha cessou. Andressa também percebe, e logo exclama para seu marido.

– Parece que parou! – Diz a jovem, expressando um desconfortável alívio, que é imediatamente cortado por Lucas.

– Certo. Mas, deixe-me ir até o portão, para que pelo menos eu possa observar a rua pelo olho mágico.

Lucas dirige-se para o portão, seguido por Andressa. Os dois atravessam, com a ponta dos pés, o curto caminho do corredor, o qual está extremamente escuro. Tão escuro que o casal utiliza o seu conhecimento geográfico do local para poder passar por ele sem se debater nas paredes do corredor.

Eis que eles chegam ao portão que dá acesso à rua.

Lucas se abaixa um pouco, fecha o seu olho esquerdo e posiciona o direito no olho mágico. Andressa, inquieta e abraçada a si mesma em razão do frio, está logo atrás dele:

– E ai amor, o que você está vendo?

– Espere um pouco amor. – Responde Lucas, sussurrando e virando a cabeça para um lado e para o outro, na tentativa de captar o máximo de informações sobre quem está no outro lado do gelado portão de alumínio. Em seguida, ele se posiciona de forma ereta novamente, e com um tom de voz baixíssimo ele dirige-se à sua mulher exclamando.

– Não estou vendo merda nenhuma!

Os dois ficam em silencio por cerca de uns quinze ou vinte segundos, na tentativa de captar algum som ou ruído oriundo do lado de fora da residência, que possivelmente denunciaria a presença de alguém. Até que Lucas, impaciente e com a adrenalina correndo velozmente nas veias, decide o que deve ser feito.

– Foda-se! Vou abrir essa porra e seja o que Deus quiser!

– Não Amor, tenha calma! – A voz de Andressa deixa claro que a preocupação tomou conta dela, e que abrir o portão é uma opção que deve ser evitada.

– Andressa; relaxa! Agente tem que abrir. – Diz Lucas, novamente observando pelo olho mágico e colocando sua mão esquerda na maçaneta. Inevitavelmente, ele segura a chave do portão com a mão direita e a gira duas vezes no sentido horário. O Som do trinco evidencia que o portão da entrada da casa está destrancado e vulnerável. Lucas segura firme a maçaneta, mas não ousa abaixa-la. Ele espera mais um pouco.

– Andressa, fique atrás de mim! – Ordena Lucas, que imediatamente abre o portão, fazendo com que uma forte corrente de ar frio adentre a residência (a sensação que eles tiveram foi como se a porta de um “freezer” tivesse sido aberta), mas para a surpresa de Lucas e de Andressa, não há ninguém parado na frente do portão.

A rua está deserta e escura como um cemitério. Porém, eles percebem que há algo estranho no chão da calçada, imediatamente entre a sarjeta e o portão:

– Mas que merda é essa! – Diz Lucas, extremamente espantado com o que vê; um pano branco no chão, com um corpo de um cachorro sobre este pano. O cachorro está com as quatro patas amarradas e com uma espécie de sacola plástica de cor preta cobrindo a cabeça. Ao lado do cachorro estão diversas velas, com cores pretas e vermelhas, umas acesas e outras apagadas, – as chamas das velas se mexem violentamente em razão do forte vento da madrugada – e entre as patas do cachorro há uma pequena cumbuca de barro, com um líquido preto e viscoso dentro. Também estão ali duas garrafas de vinho barato e diversos charutos, também acesos e fumegantes. Andressa não acredita no que vê.

– Ai meu Deus! O que é isso? – A jovem coloca as mãos em sua boca, enquanto Lucas fica imóvel, apenas contemplando a situação. Até que ele nota que há uma espécie de envelope preso, aparentemente por um alfinete, na costela magra do cachorro. Ele se abaixa para apanhar o envelope, porém, e é imediatamente repreendido por sua esposa.

– Pare Lucas, não coloque a sua mão nessa coisa nojenta, pelo amor de Deus!

– Fique calma Andressa, eu preciso ver que porra é essa!

Lucas retira o grosso envelope de cor marrom da costela do cachorro. Nesse momento, o corpo do animal, que aparentemente estava morto, começa a dar pulos e fortes espasmos em cima do pano branco. Também se pode ouvir um estranho barulho, que dá a entender que as mandíbulas do animal estão se debatendo rapidamente. O som é como o de diversos alicates abrindo e fechando violentamente.

– Caralho! – Diz Lucas, com um salto para trás, enquanto o cão moribundo se debate com as patas presas. Até que em dado momento o cão para, e aparenta desfalecer.

– Tire a sacola da cabeça dele Amor! – Andressa, descontrolada não sabe o que fazer. Mas por um lado, Lucas também está petrificado, e com um gesto involuntário ele retira a sacola da cabeça do cão. Nesse momento, eles podem contemplar a cruel maldade feita com aquele pobre e coitado animal: ele estava com pregos impiedosamente fincados nos olhos; com as orelhas, aparentemente, decepadas; e não havia dentes em sua boca. O som que eles escutaram a pouco era, na verdade, o som das gengivas desdentadas do cachorro se batendo.

– Santo Deus, quem fez isso! – Andressa, terrivelmente abalada se aproxima para contemplar o maligno trabalho feito com o cachorro.

– Lucas, vamos chamar a polícia!

– Não adianta amor. Isso só vai complicar mais ainda!

– O que tem dentro desse envelope? – Diz Andressa, com a voz rouca e extremamente tremula.

Lucas tinha até se esquecido do envelope que ele acabara de arrancar do corpo do cão moribundo. Trata-se de um envelope de cor marrom, como se fosse um telegrama. Na parte da frente, escrito à tinta preta, há os seguintes dizeres: Para Lucas e Andressa. Ao ler as inscrições, Lucas maneia a cabeça.

– Bom, parece uma carta, endereçada para nós!

– Então abre ai Lucas!

– Espere um pouco, vamos limpar essa merda aqui da nossa porta, e lá dentro de casa agente vê o conteúdo dessa merda.

– E o cachorro, o que você vai fazer com ele?

– Eu quero é que se foda! Vou colocar toda essa porra dentro de um saco de lixo e deixar aqui ao lado mesmo, pois quando amanhecer o Lixeiro irá passar e apanhar isso tudo! – Diz Lucas, com uma expressão de repugnância pela sujeira cometida em frente à sua casa.

Andressa busca três sacos de lixo, enquanto Lucas envolve o corpo do cachorro no mesmo pano branco sobre o qual ele estava deitado. Quando Andressa retorna com os sacos de lixo, o corpo do cão é colocado dentro de um dos sacos, e os demais itens também são jogados dentro de um outro saco: as velas; os vinhos baratos; a cumbuca, com um líquido preto e misterioso dentro; e os charutos acesos. Ao terminar de ensacar toda a sujeira, eles colocam os macabros pacotes em cima da lixeira. Enquanto isso, a rua está vazia e silenciosa, e aparentemente nenhum vizinho contemplou o trabalho de Lucas e Andressa ao limpar a bagunça.

– Amor, vamos deixar isso aqui mesmo? – Diz Andressa.

– Quando eu escutar o barulho do caminhão do Lixeiro passando, eu desço e explico para eles o que aconteceu. Senão, é bem capaz que eles pensem que isso tudo foi feito por nós.

O casal, extremamente abalado, entra na residência. Lucas está com o envelope em sua mão. Andressa está curiosa para ver seu conteúdo, mas não toca no assunto. Ela simplesmente deixa que Lucas o faça.

– Bom, vamos ver o que temos aqui. – Diz Lucas, sentando-se no sofá da sala e rasgando o canto do envelope. Andressa o acompanha na investigação, de pé ao lado dele.

O Envelope é aberto. Dentro dele, há uma folha de papel tamanho A4, dobrada em quatro partes. No fundo do envelope, também há pequenos objetos, que mais se parecem com pequenas pedras. Lucas nota que há um pedaço de alguma coisa viscosa no fundo do envelope. Ele imediatamente despeja o estranho conteúdo sobre a mesa, fazendo com que o casal tenha uma desagradável surpresa. As pequenas pedras, na verdade, são dentes. Dentes ainda sujos de sangue. Provavelmente recém-arrancados da boca do cão. O item misterioso e viscoso revela-se ser um pedaço de carne. Na verdade, uma língua. Lucas leva um susto e se levanta do sofá quase que pulando.

– Nossa senhora! – Ele está suando frio, pois nunca viu nada tão bizarro antes. Andressa se afasta também.

– Amor! Será que isso ai é o que eu estou pensando?

Lucas apenas balança a cabeça, sinalizando positivamente. O Casal subentende que aqueles itens tratam – se dos dentes e da língua do cão.

De dentro do envelope também caiu a folha de papel. Lucas, com as mãos tremulas, apanha essa folha, – que está suja de sangue. O papel branco possui um curto texto, escrito à caneta azul. O texto foi feito integralmente com letra de forma, e suas linhas são bem regulares. Andressa puxa um pufe que estava por ali e aproxima-se de Lucas, para acompanha-lo na leitura do conteúdo da misteriosa carta, que possui o seguinte texto:

Sete anjos e sete demônios brincavam na fronteira do céu e do inferno. Os anjos eram puros, e os demônios, maliciosos Cinco demônios conseguiram arrancar cinco cabeças de cinco anjos. O sexto e o sétimo anjo, vendo isso tudo, correram para o alto dos céus, de forma que não sobrou uma sexta e uma sétima cabeça para ser arrancada pelo sexto e pelo sétimodemônio. Então, os sete demônios retornaram para as profundezas do inferno para entregar as cinco cabeças para satanás.Satanás elogiou o trabalho dos cinco demônios. Porém, amaldiçoou os dois demônios negligentes, dizendo à eles:
Vōbīs duo sunt servi. Volo ad rodere comedatis carnes et ossa putrida inflammatus. Et sic peccata dimitte eis, ego præcipio tibi, et affer mihi ascende ad terram, duplex. Unus homo et unus ex muliere.
Kaledrum ego praecipio tibi corpus et animam, ut tincidunt velit Sextum caput
Hagademus ego praecipio tibi placet quod quietis erat mulieris caput septimum et ultimum.
Vellem haud signum cum opus est, sanctificate capita iuxta locum ubi pro meo eradicabitur.

Lucas vira a folha de um lado para o outro, na tentativa de identificar um remetente, ou maiores informações. Mas não há nenhum indicio que revele quem escreveu a misteriosa carta. Andressa, boquiaberta, indaga seu marido a respeito da última parte do texto, escrita em outra língua.

– Amor, o que será que está escrito nesse trecho final?

– Não faço a menor ideia. Mas parece ter sido escrito em Latim. Pegue meu notebook, pois acho que poderei utilizar aquele programa de conversão de idiomas. – Lucas acredita que pode traduzir a última parte da carta, utilizando um conversor de idiomas de seu computador. Andressa, mais que depressa, apanha o aparelho e o entrega para seu marido, que após liga-lo, começa a digitar freneticamente palavra por palavra no programa. E o resultado da tradução do último trecho da carta é perturbador:

“…Malditos servos são vocês dois. Tenho vontade de comer as suas carnes podres e mastigar os seus ossos inflamados. Para que eu possa perdoá-los da falha cometida, ordeno que vocês subam à terra e de lá tragam-me duas cabeças. Uma de um homem, e uma outra de uma mulher.

Kaledrum: Ordeno que você possua o corpo e a alma do homem que escolher para dele arrancar a sexta cabeça.

Hagademus: Ordeno que perturbe a paz da mulher que você escolher para dela arrancar a sétima e última cabeça. terrível

Quero que vocês me sinalizem quando o trabalho de vocês estiver perto do fim: preparem uma oferenda para mim, perto do local de onde as cabeças serão arrancadas.”

O rosto pálido de Andressa recebe uma coloração avermelhada, e seus olhos se enchem de lágrimas. Enquanto Lucas, intacto, fica com os cabelos da cabeça e da nuca totalmente arrepiados, como um gato assustado. O silencio toma conta da casa por uns instantes, e nesse período, os fortes assovios do vento, correndo de maneira vigorosa no lado de fora da casa, podem ser escutados. Enquanto isso, os dois ficam com os olhos presos na tela do notebook, por quase três minutos. Lendo e relendo a macabra e reveladora tradução. Até que Andressa decide se pronunciar com a sua típica voz tremula.

– Lucas, vamos chamar a polícia! Agora!

– Por causa de um bilhetinho Andressa? Você está louca!

– Sim, por causa da porra de um bilhetinho que está nos ameaçando. – Exclama Andressa, tremendo absurdamente, em razão da adrenalina sendo descarregada em seu corpo, enquanto Lucas permanece sentado com a face colada no notebook, sem saber o que fazer e sem saber o que dizer. Mas logo em seguida, ele também se levanta e, com um gesto descontrolado, rasga a carta em diversos pedaços e dirige-se à Andressa, quase que gritando.

– Não vamos ligar pra Policia coisa nenhuma! Vamos dormir! Esqueça que isso aconteceu. Está claro que isso é apenas uma palhaçada de alguém querendo nos assustar! Você entendeu?

– Amor, você está se sentindo bem? – Diz Andressa, com um baixo tom de voz.

– Sim. Porque? – Responde Lucas.

– O Seu nariz está sangrando!

Rapidamente Lucas se senta no sofá, colocando a cabeça para trás. Em seguida, ele aponta o dedo em direção às escadas e pede ajuda para Andressa.

– Amor, suba lá no banheiro, e pegue o rolo de papel higiênico para mim. Rápido!

Andressa sobe as escadas correndo. Praticamente pulando de dois em dois degraus. Mas, em questão de segundos, do andar de cima ela solta um alto e sonoro grito de desespero.

– Ai! Lucas!

– O que foi amor, está tudo bem? – Lucas, mesmo com o nariz sangrando, sobe as escadas para ver o motivo de sua esposa ter gritando de maneira tão alta, e ao chegar ao corredor do andar superior ele vê que Andressa está ajoelhada no chão do banheiro, com as duas mãos sobre a cabeça. Ele a levanta, segurando-a pelo braço, e percebe que a jovem está pálida e quase que sem folego.

– O que foi amor, o que aconteceu! – A voz de Lucas soa chorosa e descontrolada. E em seguida, com extrema dificuldade e chorando muito, Andressa diz:

– Amor, tem uma mulher no nosso quarto!

– Como Assim Andressa!

– Quando eu subi as escadas eu a vi. Ela estava dentro do quarto, com a cabeça para fora da porta, apoiando-se no batente!

– Calma Andressa. Você tem certeza?

– Tenho amor, vamos sair daqui! Por favor!

– Espere um pouco amor, fique calma. Eu vou até lá para ver o que está acontecendo.

Lucas deixa a sua esposa no banheiro e parte em direção ao quarto. No caminho, ele anda sorrateiro e com o pescoço esticado, tentando captar algum som ou ruído vindo do quarto, como faz uma lebre assustada. Já Andressa, sentada no chão do banheiro, apenas escuta quando Lucas tenta conversar com o que quer que seja que está dentro do quarto.

– Quem está ai? Responda! Quem está ai? – Diz Lucas, forçando um bravo tom de voz. Já Andressa, demonstrando muita preocupação, grita por Lucas de dentro do banheiro.

– Cuidado amor, cuidado!

Lucas entra no quarto. A partir desse momento, nenhum som é escutado na casa. Andressa, por outro lado, está angustiada no banheiro, esperando uma resposta vinda de seu marido, que tarda e não vem. Então, ela decide chama-lo.

– Lucas! Está tudo bem Lucas? Amor! Responda! – A jovem grita desesperadamente pelo nome do seu marido. Mas nenhuma palavra é pronunciada no quarto onde Lucas acabara de adentrar. Andressa, então, logo decide que também deve ir ao quarto para ver o que está acontecendo.

Com extrema dificuldade ela se levanta do chão gelado e úmido do banheiro, passa pelo corredor chamando insistentemente pelo nome do marido, que nada responde. A jovem chega perto da entrada do quarto e percebe que a luz está apagada. Ela titubeia por uns instantes, mas acaba entrando de uma vez. Lá, está Lucas, deitado na cama e coberto pelo cobertor. Andressa, então, ascende a luz do quarto e aproxima-se dele.

– Amor está tudo bem? Me responde!. – Com as mãos sobre as costas de Lucas, Andressa o balança de um lado para outro. Mas Lucas não acorda. Ela insiste dessa vez arrancado os cobertores.

– Acorde Lucas, me responda! – Nesse momento, Lucas que até então aparentava estar dormindo, vira a cabeça lentamente para a direção de Andressa. Mas para o espanto da Jovem, a face de Lucas está pálida. Andressa sacode o corpo de seu marido e imediatamente ele abre os olhos; as pupilas estavam esbranquiçadas, como se estivesse com catarata. Quando Lucas decide abrir a boca, uma rouca e tenebrosa voz diz:

– Hoje irei arrancar a sua cabeça!

Andressa cai no chão e começa a se debater de maneira forte. Seus braços e pernas ficam rígidos e ela começa a salivar bastante. Lucas rapidamente se levanta da cama e apanha sua esposa nos braços, e vendo que nada pode fazer para conter a violenta convulsão, entende que o melhor a ser feito é chamar pela ambulância. Descontrolado, o jovem rapaz procura pelo celular no criado mudo ao lado da cama. Ele o encontra e freneticamente disca o número da emergência, que o responde rapidamente.

– Emergência na escuta!

– Oi, é… eu preciso de uma ambulância na rua Osvaldo Santiago, no número 99; aqui no bairro jardim São Bernardo. Com urgência!

– Quem é o paciente?

– Minha esposa!

– O que houve com ela?

– Eu acabei de acordar com ela me chamando. Em seguida, ela teve uma convulsão. Está se debatendo e salivando muito!

– Entendido. Aguarde uns instantes por favor.

– Certo.

– …

– …

– Confirmado. A unidade 345 chegará em 15 minutos. Retire qualquer objeto que estiver perto da paciente e não faça movimentos bruscos com ela.

– Certo. Obrigado. – Lucas desliga o celular em seguida.

Impotente perante a situação, e extremamente preocupado, Ele se limita a levantar ligeiramente cabeça de Andressa do chão, enquanto a Jovem se debate girando os olhos, de maneira que apenas as escleras dos dois globos oculares ficam expostas. Passam-se alguns minutos, que para Lucas são quase eternos, e a ambulância da emergência chega à residência, e Andressa é conduzida até o hospital da região. São cinco horas da manhã.

Continua…

by Carlos Henrique